sábado, 28 de setembro de 2019



28 DE SETEMBRO DE 2019
CAPA

"Vestir-se bem não é só uma questão de vaidade, é uma vontade de estar bem consigo"

Em seu novo livro, você afirma que a "deselegância é prolixa". No mundo de excessos das redes sociais, há espaço para a elegância?

Sou uma pessoa de outra geração, portanto não tenho essa intimidade (com as redes). Quer dizer, tenho para trabalhar, é útil, e realmente mudou a vida da gente. Quem me obrigou a começar foi Nelsinho Motta. Quando era casada com ele, me obrigou a ter um computador (risos). O negócio é que não fico atrás dessas conversas na internet. Eu me informo, porque a gente precisa saber o que está acontecendo, e sou curiosa, estou interessada na política mundial e local. Mas discussão entre pessoas acho deprimente, perda de tempo.

Onde está a elegância hoje?

Na empatia. Você precisa se interessar pelo outro. A elegância está em você não invadir o espaço do outro. Sei que é difícil a gente deixar de observar a si próprio para observar o outro.

Também no novo livro, você se preocupou em resgatar "rituais de dignidades sociais" que caíram no esquecimento. O que a gente perde quando ignora esses códigos sociais?

Não é que se perderam, nunca foram conhecidos (risos). Esse é o drama! As pessoas acham que moderno é não ter regrinhas do bem viver. Então você pisa no outro, fala o que quer, grita no telefone, ocupa o espaço que não é só seu. Tá difícil... E não é só no Brasil, não.

O quanto isso é cultural?

Acho que é muito do contemporâneo. Se você olha para a moda, é muito simples. Saímos do século 19 muito formais. Depois, ainda imitamos a burguesia durante a primeira parte do século 20. De lá para cá, tudo se tornou mais casual, não somente a roupa, mas o comportamento. Não temos mais esse formalismo. Por outro lado, não sabemos mais nem cumprimentar as pessoas direito. Ou exageramos, o que também não é necessário. As pessoas da minha geração, quando querem ser bacanas, são muito formais. Tem que conhecer as regras e ter uma certa, digamos, suavidade na adaptação.

Como você avalia a cobertura de moda no Brasil?

A moda está encontrando outra maneira de existir. Fiz minha carreira na editoria de moda de revista impressa. Você sabe muito bem que mudou totalmente o panorama. As revistas que sobreviveram tentam incluir, na discussão, outros valores que não somente a moda. A cobertura ficou um pouquinho menos interessante porque você encontra tudo na internet ou pelo menos aquilo que interessa saber para a vida de hoje, que é menos formal, com menos ocasiões. Só tem roupa de festa quando tem casamento.

A internet é um grande mosaico. Não faz falta uma curadoria inteligente de tudo o que está disponível hoje?

Acho que faz. Houve tentativas interessantes que fizeram muito sucesso no começo, tipo o (site norte-americano) Refinery 29, que misturou comportamento a moda. Mas hoje você tem tantas imagens na internet, sobretudo no Instagram, que é mais fácil acompanhar uma blogueira ou influenciadora que tem a personalidade parecida com a sua. Assim como as atrizes eram um espelho da gente na época, hoje são essas meninas influenciadoras. E tem uma de cada gênero. A minha filha Consuelo (Blocker), de 55 anos, tem um público superfiel. Conheço bem a Camilinha, as duas Camilas (Coutinho e Coelho), e elas estão o tempo todo se mexendo, avançando, mudando a maneira de comunicar. Porque não é só moda, é comportamento. E o que é a moda senão o retrato do comportamento de uma época?

Você também é próxima de outras jovens influenciadoras, como a Luiza Brasil e a Jana Rosa.

Adoro! Elas são minhas amigas. Elas me atualizam, sabe? Eu não tenho preconceito. Preconceito é horrível porque a gente não vai pra frente, né. Pré-conceito, quer dizer, ter um conceito antes de ver o que é. Elas me dizem como as coisas são. A Luiza me policia até na linguagem (risos). Porque o politicamente correto é meio complicado. Desde que comecei a escrever, a ortografia mudou cinco vezes (risos)! E ainda tem o politicamente correto! Além disso, estou sem memória, então, você imagina, ela tem que repetir muito (risos). A gente se diverte à beça.

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