04 DE JANEIRO DE 2018
ARTIGO
INOVAÇÃO? COM INCERTEZA
Nos escondemos detrás da cortina de um destino assustadoramente incontrolável; e com isso adiamos escolhas, na esperança de obtermos mais dados. Deixamos de viajar e de construir. Postergamos a decisão de ter filhos. Vestimos óculos que só nos mostram o de costume, supondo paradoxal controle sobre uma astronave que, como cantavam Toquinho e Vinícius, não tem tempo nem hora de chegar.
Já reparou em como os inovadores encaram a incerteza? Tornam-se confortáveis com o desconhecido e decidem o que fazer quando não conhecem algoritmos de estrada, antes o contrário: entendem que o próprio fato de tomar a decisão é no mínimo caminho para estabelecer prioridades, e que é possível avançar na direção certa mesmo fazendo, momentaneamente, escolhas erradas.
Já pensou se, por curiosidade, revistássemos as "previsões de época" e as comparássemos com o que de fato ocorreu? Veríamos que é quase impossível prever-se o que chamamos de "grandes rupturas", justamente porque elas nada mais são do que recompensa orgânica para quem - não importa a área - mergulha no desconhecido e investe tempo e recursos conectando insight colaborativo com incremento aplicado e útil.
Enquanto não nos proporcionarmos tempo para aprender que machine learning não significa robôs dominando a Terra, que inteligência artificial é tão "coisa de futuro" quanto a Netflix lhe sugerindo um título com base nos seus hábitos e que você pode conviver com uma pessoa que não vota no seu partido político, continuaremos a confundir disciplina com rigidez, obstinação com obsessão e foco com estreitamento.
E por que nos recusamos a aceitar que o futuro não vem do passado, e sim do que estamos construindo exatamente agora? Talvez já esteja na hora de nos darmos conta de que não ter tantas certezas é a única chance de sermos um dia surpreendidos, ou mesmo de surpreendermos alguém.
Consultor de empresas, professor da PUC-RS/Famecos e escritor cassio@grinbergconsulting.com.br
CASSIO SCLOVSKY GRINBERG
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