sexta-feira, 23 de junho de 2017


Jaime Cimenti

Romance inovador de Carlos Daniel Aletto 

Muitos dizem que, depois de Kafka, Proust e James Joyce, ficou difícil, quase impossível, inovar na literatura de ficção. Muitos se queixam de que, atualmente, há pouca originalidade, abuso de clichês ou livros que apenas trazem jogos estéreis de palavras, labirintos verbais chatos e ininteligíveis ou simplesmente cópias de narrativas bem-sucedidas. 

O mundo dos livros e da ficção é infinito, inesperado e, de vez em quando, aparece um escritor diferente, criativo e que nos dá esperança da continuidade da criatividade. São palavras para apresentar o romance Anatomia da melancolia (Iluminuras, 128 páginas, R$ 42,00), do escritor e ensaísta argentino Carlos Daniel Aletto, nascido em 1967. 

O romance recebeu elogios de Ricardo Piglia e de Rafael Bielsa, tem apresentação de Noé Jitrik e levou, merecidamente, o prêmio de romance do ano pelo jornal La Nación. Aletto escreveu Julio Cortázar: Diálogo para uma poética; Antes de perder; e Capítulo Borges, entre outros. Desde 2011, dirige o Suplemento Literário da Télam, agência de notícias da Argentina. Em dezembro de 2014, participou da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que teve a Argentina como país convidado de honra. Anatomia da melancolia é mais que apenas um romance histórico. 

A narrativa requintada e a fantasia sem limites nos traz a crônica da peregrinação do anatomista, através do próprio Andrés Vesalio. Com fascinante arquitetura, a obra reconstrói a época (século XVII), recria e reinventa a linguagem daquele tempo e consegue ser verossímil para os leitores do século XXI. Contada pelo próprio anatomista, a história de 1615 precede a célebre obra The Anatomy of Melancholy de Robert Burton, um exaustivo estudo inglês sobre a melancolia. Inspirado pelas duas obras, Aletto explica que modernizou o texto para que, de alguma maneira, a história ajude a fechar as feridas que, noite a noite, não nos deixam cicatrizar a melancolia. 

Noé Jitrik, na introdução, destaca: Apesar do título, uma imagem de disrupção que na realidade é um disfarce, a melancolia, que é um estado ou um sentimento, vista a partir da anatomia, que é um fato físico-biológico, Anatomia da melancolia se apresenta, outro disfarce, como o que ultimamente esteve em alta na literatura argentina, o romance chamado "histórico". Disfarce porque não é romance histórico, embora faça referência, tomando uma distância poética, a certos acontecimentos ou fatos, de passados míticos. 

O efeito é deslumbrante: "parece" convocar a certo anacronismo, mas na realidade atua com uma contemporaneidade que corta a respiração, é um desafio ao comodismo, um convite a retornar à literatura para, daí, voltar para a inteligência e a sensibilidade.

lançamentos 

Samuel Becket e seus duplos - Espelhos, abismos e outras vertigens literárias (Iluminuras, 190 páginas), de Cláudia Maria de Vasconcellos, doutora em Letras, escritora e dramaturga, ressalta a configuração especialmente complexa que o recurso do duplo atingiu na obra do genial escritor. Da Tirania - Incluindo a correspondência Strauss-Kojeve (É Realizações, 376 páginas), do grande pensador Leo Strauss, é a leitura clássica de Leo sobre o diálogo de Xenofonte, Hiero ou Tyrannicus, onde o tirano Hiero discute com o poeta Simônides sobre a tirania. 

Opostos - O amor supera todas as diferenças (AGE Editora, 200 páginas), novo romance de Jennifer Souza, autora de oito obras em fotmato e-book, traz as andanças de Lia, jovem rica e mimada, que perde os pais e vai viver no interior. - Jornal do Comércio 

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/06/colunas/livros/569238-romance-inovador-de-carlos-daniel-aletto.html)

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