Sexo forte: Por que as mulheres vivem mais que os homens?
Jarbas Oliveira/Folhapress | ||
Mulheres sobrevivem melhor que os homens em todas as faixas de idade |
Mulheres vivem mais que os homens. No Brasil, a expectativa de vida delas é 78 anos, contra 71 deles (7 anos ou 10% a mais); na União Europeia, 5 anos a mais, em média. Entre as 50 pessoas mais velhas do planeta, todas supercentenárias (mais do que 110 anos), só há três homens. Não só não faz sentido chamá-las de sexo frágil como é provável que tenhamos que trocar o título de mãos.
A tendência dos cientistas e do senso comum sempre foi achar que a diferença se devia a causas externas: mais exposição a estresse, mais mortes por violência na juventude e mais problemas cardíacos e pulmonares causados por maus hábitos na idade madura diminuiriam a expectativa de vida dos homens.
Isso pode ser verdade, especialmente em países como o Brasil, onde a violência é uma das principais causas de mortalidade entre homens jovens, e explica parte da diferença maior que as brasileiras vivem em relação às europeias.
Mas esses fatores não dão conta de toda a questão: as mulheres se mostram mais resistentes mesmo quando os estudos afastam as causas externas.
Uma das formas de estudar a diferença, isolando o efeito das condições de vida, é observar a resistência dos recém-nascidos. Muito antes que a violência juvenil, o álcool ou o tabaco, entre outras ameaças, possam reduzir a expectativa de vida dos meninos, as meninas já apresentam mais resistência logo após o parto.
"Em qualquer idade as mulheres sobrevivem melhor que os homens", disse o biólogo Steven Austad ao jornal londrino "Observer". Austad é especializado em envelhecimento, autor de livros, como "Why We Age" ("Por que envelhecemos", editora Wiley), e vários estudos recentes sobre o efeito do gênero na longevidade.
O foco da ciência agora se volta para entender o que torna o corpo feminino mais resistente ao envelhecimento. Em um artigo recente, denominado "Diferenças de gênero ao longo da vida" (na revista "Cell Metabolism", junho/16), Austad aponta para o fato de que "os mecanismos subjacentes às diferenças de gênero na longevidade são pouco conhecidos".
Há até quem proponha passar a avaliar doenças e curas de acordo com o sexo. Um artigo publicado em agosto passado na revista "Clinical Science", intitulado "Gênero, envelhecimento e longevidade em seres humanos", aponta que os estudiosos não deram atenção às características essenciais de homens e mulheres, apesar de todos os sinais dados pelas pesquisas.
"De maneira geral, as diferenças de gênero aparecem de forma pervasiva e, no entanto, são pouco consideradas e investigadas, apesar de sua relevância biomédica", escreveram os autores Ostan, Monti, Gueresi, Bussolotto, Franceschi e Baggio, que sugerem: os estudos "preparam o caminho para uma medicina específica para cada gênero".
E as pesquisas mostram que as vantagens femininas acompanham todas as etapas da vida. "Quando comecei a pesquisar, descobri que as mulheres são mais resistentes a quase todas as principais causas de mortes", diz Austad.
Esses estudos sugerem que teremos muitas novidades científicas e práticas ao longo das próximas décadas.
Desde os tratamentos médicos diferentes para umas e outros, como sugere o artigo da "Clinical Science" (há quem denomine a medicina especializada em mulheres como "feminologia"), até a criação de métodos de transplantar ou aplicar nos homens o que venha a ser descoberto como "segredo da longevidade feminina".
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