Crise política não bateu na economia 'real'
Eduardo Knapp - 13.out.12/Folhapress | ||
Movimento na rua 25 de Março, centro de comércio popular em SP |
O IMPACTO do novo surto de crise política em vendas, produção e encomendas foi de pequeno a nenhum, passado quase um mês do escândalo.
É o que conta gente de três varejistas grandes, de uma associação comercial paulista, de bancos e de uma consultoria, gente que acompanha a vida "real" da economia.
Sim, são números precários, de dia a dia, ainda mais imprecisos ou instáveis do que as prévias das estatísticas oficiais de produção e consumo.
São observações precoces, pois talvez o impacto da crise ainda não tenha sido digerido. Além do mais, pode ser que tenhamos de engolir muita gororoba política adiante.
Por falar em prévias imprecisas, considere-se o mês de abril. Menos do que fraco, teria sido ruim. Era o que se ouvia no mundo das estimativas econômicas em maio e junho.
Bem, abril não foi ruim. Indústria, comércio e serviços cresceram mais do que o previsto. É possível que maio tenha sido assim também, mesmo depois do "evento do dia 17", como algumas pessoas do "mercado" chamam o estouro do grampo de Michel Temer.
Abril é passado remoto, decerto. Além disso, mesmo antes da crise política a atividade econômica era instável, uma sucessão de melhorazinhas seguidas de tombos, mês a mês.
Por fim, não é razoável supor que "o balança mais não cai" de Temer não venha a afetar o ânimo de consumidores, empresas e, em particular, de bancos.
Feitas as ressalvas, quantas dessas suposições razoáveis são disparatadas? Erradas para o bem ou para o mal? Para começar, considere-se o que aconteceu em abril, segundo os dados do IBGE para variações mês a mês, em relação a março.
Em abril, a indústria cresceu 0,6%, batendo a média de estimativas de alta de só 0,1%. O comércio de varejo cresceu 1%, ao contrário das previsões de queda de 0,7%. Nesta quarta (14), o IBGE informou que o setor de serviços avançou 1%, superando a projeção de 0,4%.
Em maio, ao menos parte da indústria voltou a crescer, como no caso das montadoras; a venda de carros nacionais cresceu 18% no ano em relação a 2017. O impulso maior tem vindo de exportações, mas vinha vindo.
Há quem atribua a surpresa positiva do comércio em abril ao dinheiro das contas inativas do FGTS. Não era bem para ser surpresa, nem chega a ser problema. Esse impulso não vai se dissipar logo, a não ser que apareça uma força na direção contrária.
Pode haver revertério nos juros também. No fim de maio, o Banco Central dizia com todas as letras que retardaria a baixa da Selic. No entanto, a inflação continua a baixar, contrariando as previsões médias do "mercado", como tem acontecido faz quase um ano.
O IPCA deve terminar o ano em 3,5%; em janeiro, a previsão era que a inflação deste 2017 seria de 4,8%. No atacado, os preços estão caindo, no acumulado em 12 meses.
Não se está fazendo festinha para números que indicam apenas uma economia a se arrastar das profundas do inferno da recessão, sob risco de depressão. Mas os dados sugeriam que era razoável acreditar no fim da recessão, naquele crescimento de quase nada de 0,5% em 2017.
Era pouco, mas poderia ou pode ser uma pequena espiral positiva, em vez de um novo ciclo de pessimismo a arrastar também para baixo o ano de 2018.
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