sexta-feira, 23 de junho de 2017


Jaime Cimenti

Brasil: ame-o e não deixe-o

Há alguns anos, os governantes fardados propunham: Brasil, ame-o ou deixe-o, e uma musiquinha ufanista do período, cantada pela dupla Dom e Ravel, dizia: "eu te amo, meu Brasil, eu te amo...Ninguém segura a juventude do Brasil". Os hilários diziam: "o último a sair apaga a luz do aeroporto". "Criança, ama com fé e orgulho a terra que nasceste /não verás país nenhum como este /imita na grandeza a terra em que nasceste", disse Olavo Bilac, exaltando a natureza e as possibilidades de todos serem felizes. 

"Que país é este?", perguntou o Affonso Romano de Sant'Anna em 1980. O verso caiu na boca do povo, virou rock e brado de indignação nacional. Vivemos entre o complexo de vira-lata apontado por Nelson Rodrigues, depois da derrota de 1950 para o Uruguai, e a megalomania delirante que nos faz pensar que Deus é brasileiro, que somos o país do futuro e a última bolacha do pacote. Futuro distante, nosso parto é demorado, falou o João Cabral. 

Ia falar de céu azul, dos tons de chá primaveris, desta luz de lâmpada dicroica depois das chuvas, do mundialmente famoso entardecer de Porto Alegre quando a hora púrpura colorada deseja boa noite e tenta nos acalmar. "Ia", o editor interno disse que a pauta é outra. Complicado viver no Brasil, e sair dele também. Se ficar, o bicho pega, se correr, o bicho come, num mato sem cachorro, mais perdidos que cusco em procissão. No Uruguai, país distinto e estável, é bom de viver, mas é frio. 

Miami é cara, e dizem que a cota de brasileiros se esgotou. Escandinávia é fria, sombria, longe, linda e cara. Nova Iorque e Paris são para quem pode e delata. Resta nosso avozinho, Portugal, com o Algarve e o receptivo governo português. Enquanto não levamos alguma bala perdida ou achada dos assaltantes, ou a gripe A não nos pega, vamos vivendo, tocando o barco, caindo e levantando nas redes sociais, nas malhas fiscais e nos buracos das malhas rodoviárias. A gente vai levando...mesmo com toda Brasília e os "Três Poderes, harmônicos e independentes entre si". 

Soberania, cidadania, dignidade humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, pluralismo político e os poderes estão na Constituição, artigos 1º e 2º. Todo mundo pergunta: e aí, que tu tá achando da situação? Que solução? Para onde vamos? Muitos desacreditam nas pessoas e no País, pensam em sair, se salvar de qualquer maneira, se lixando para o coletivo. Outros buscam restos de esperança, pedaços de otimismo, pensam nos filhos, netos e bisnetos e nos que vão nascer e sonham com um Brasil melhor. 

Outros, os do meio, pensam nos prós e contras, tentam equilibrar as ideias e sonham com um entendimento nacional, líderes confiáveis, um novo "Plano Real" e que a recuperação econômica, política e ética não demore. Há quem votará só em candidatos novos, sem mandato ou ficha suja, nas eleições. É um alerta para os políticos, que têm um ano e pouco para reconquistar a confiança. No Brasil, até o passado é imprevisível, mas precisamos planejar algum futuro. 

a propósito... 

Para projetar o futuro, precisamos olhar para o Brasil que dá certo em muitas cidades, principalmente no interior. Precisamos mudar de hábitos, inclusive de consumo. Não somos a Islândia, nem a Suíça. Devemos observar as experiências do Japão, do Canadá, da Austrália, da Nova Zelândia, do Canadá e de outros países que deram certo, mesmo saindo de situações de pobreza, ignorância e de guerras. 

Ou a gente aprende com a história e os erros alheios, ou vamos seguir pagando caro pelos nossos. É claro que precisamos buscar um caminho próprio, é óbvio que temos problemas diferentes dos outros, mas precisamos amar o Brasil e ficar por aqui. Temos muito que conversar e agir.  

Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/06/colunas/livros/569238-romance-inovador-de-carlos-daniel-aletto.html)

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