Empreendedores investem em espaços coletivos com cursos de marcenaria
Bruno Santos/Folhapress | ||
Alunos no Galpão 85, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo |
Empreendedores estão investindo em espaços de colaboração, em São Paulo, com cursos voltados principalmente para a marcenaria como meio de propagar a cultura do "faça você mesmo".
Há dois anos, os arquitetos Alex Uzueli, 36, e Daniel Sene, 36, fundaram a Oficinalab, na Barra Funda, zona oeste da capital.
"O espaço tem a pretensão de unir e ser uma escola, onde a gente ensina as pessoas a construírem seus próprios móveis, como hobby ou profissionalmente", diz Uzueli. Eles calculam que cerca de 2.000 alunos já passaram pelo local. No início, diz Sene, eram oferecidos três cursos, incluindo um básico, de marcenaria, projeto e construção, que está em sua 17 ª edição.
Atualmente, são 30 opções. Há programas de curta duração de construção de hortas, cadeiras e luminárias. Os preços variam entre R$ 200 e R$ 1.800. Seguindo a linha da colaboração, a grande maioria dos cursos é oferecida por parceiros. "Também somos uma incubadora", diz Sene.
Com a diversificação dos cursos, veio uma mudança no perfil dos alunos.
"Inicialmente, tinha uma conexão forte com profissionais ligados às artes", afirma Uzueli. Hoje, o espaço recebe "tudo quanto é tipo de gente", de arquitetos e designers a advogados.
"A premissa básica do curso é instigar o aluno a pensar em algo que faça a diferença, um móvel que resolva um problema real", diz Sene.
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Alex Uzueli, um dos fundadores da Oficinalab, em São Paulo |
PERSONALIZADO
Formado em ciências da computação, Djalma Ladim, 40, deixou uma carreira construída em multinacionais para abrir, em fevereiro de 2016, o Galpão 85, idealizado como um coworking voltado para o faça você mesmo. Os cursos de marcenaria oferecidos hoje, de acordo com Ladim, nasceram de uma demanda das pessoas que circulavam pelo espaço, também na Barra Funda. "Muitos não tinham habilidade nenhuma."
O carro-chefe do Galpão 85, no entanto, é o "personal trainer do faça você mesmo". "A pessoa vem para cá com uma habilidade de marcenaria mínima, mas quer, por exemplo, montar uma peça que exige uma técnica específica. Ela, então, contrata esse profissional para auxiliá-la", diz Ladim. O público-alvo do espaço, segundo o empresário, é "gente que busca o prazer de mexer nas coisas".
"A alma do galpão é analógica. E os frequentadores buscam isso, o mundo real."
Para Sérgio Lage, coordenador do MBA de gestão da experiência do consumidor da ESPM, o "faça você mesmo" tem um componente terapêutico, "um detox digital e uma maneira de romper com o tédio do dia a dia".
Mas é também uma transformação sócio-cultural inserida no contexto da economia de compartilhamento. "Mais do que 'do it yoursefl' [faça você mesmo], é preciso falar em 'do it together' [faça junto]", afirma Lage.
"Tende a não ser passageiro, já se incorporou, faz parte da economia e do comportamento não só de jovens, mas de milhões de pessoas no mundo", acrescenta.
Também pensado originalmente como um coworking, o LAB 74 começou a oferecer, há quatro anos, cursos de marceneira para ajudar a pagar as contas do espaço, segundo o fundador, o arquiteto Bruno Lima, 36.
No meio do caminho, passaram a dar aulas de costura, joalheria, coquetelaria e fotografia.
Um curso rápido de joalheria custa R$ 420, e um semi-intensivo de projeto e marcenaria básica, R$ 1.700. Lima diz faturar R$ 60 mil por mês.
"A ideia é passar autonomia. Qualquer pessoa consegue produzir um objeto com as próprias mãos."
OBA-OBA
Há, no entanto, receio quanto ao fato de o movimento estar em voga. "É sempre uma questão. Às vezes, a pessoa vem só para se sujar, tirar uma selfie e está pouco se lixando para o que está fazendo", diz Lima. "Há um receio, sim, de ser uma onda. A gente não consegue brigar com a moda. O que eu tento é criar uma cultura em volta do 'faça você mesmo'", completa.
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