03/06/2017 02h00CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHA
Pequim faz bom-mocismo diplomático a baixo custo
É uma das raríssimas vezes em que China e Estados Unidos votam da mesma maneira no Conselho de Segurança no dossiê norte-coreano.
Li Muzi/Xinhua | ||
O embaixador da China na ONU, Liu Jieyi, vota contra a aliada Pyongyang no Conselho de Segurança |
O jogo, naquela região, é claro: a ditadura da Coreia do Norte é um pária internacional, respaldada apenas pela China. Não por especial simpatia, mas porque os chineses acreditam que uma eventual desestabilização norte-coreana poderia levar a uma migração maciça para a vizinha China.
Esse risco, bem feitos os cálculos, seja talvez o menor dos que entram na conta da sempre explosiva península Coreana.
O fantasma maior é o de que o imprevisível ditador Kim Jong-un, por iniciativa própria ou por um erro qualquer de cálculo, desencadeie um conflito.
Embora a Coreia do Norte ainda não tenha conseguido desenvolver um míssil nuclear que possa alcançar a costa ocidental dos Estados Unidos, é possível que tenha mísseis com capacidade nuclear que consigam atingir a Coreia do Sul ou o Japão.
Afinal, Seul, a capital sul-coreana, fica a apenas 56 quilômetros da fronteira com a Coreia do Norte, vulnerável, portanto, a uma barragem de artilharia, mesmo que seja convencional.
Tudo o que a China não pode permitir é um acidente que provoque uma guerra, mesmo limitada, na sua área de influência.
Além disso, a China quer se mostrar cada vez mais um ator compatível com as políticas econômicas que o Ocidente adora (no âmbito político, a ditadura é intocável, mas o Ocidente convive bem com ditaduras).
Não por acaso, os chineses estão na linha de frente, por exemplo, do liberalismo comercial: teve intensa repercussão, meses atrás, o fato de o presidente Xi Jinping ter se mostrado um entusiasmado porta-voz da globalização, durante discurso no Fórum de Davos, no exato momento em que Donald Trump tomava posse, com seu discurso nacionalista e protecionista no comércio.
Agora, Xi alinhou-se com os líderes europeus para respaldar o Acordo de Paris sobre o clima, logo que Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do pacto.
Copatrocinar sanções à Coreia do Norte é mais um passo, ainda mais que elas estão voltadas para pessoas e não parecem capazes de estrangular o país.
É um bom-mocismo, aos olhos ocidentais, sem maiores custos.
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