sexta-feira, 2 de junho de 2017


Jaime Cimenti - JCRS

Plano Real, o filme e a real 

Infelizmente, nosso Brasil quase não tem grandes fatos históricos para comemorar e nossa história é carente de pais da pátria, heróis ou personagens que permaneçam no imaginário popular e sirvam de bons exemplos e inspirações. Não cito aqui nomes para não cometer injustiças e por que não é o momento. No campo dos esportes, das artes, da cultura, e até na ciência, temos algumas celebridades que nacional e internacionalmente nos orgulham. 

Aqui, de novo, não cito nomes, porque provavelmente esqueceria de alguns. Está em cartaz o filme Real - o plano por trás da História, baseado no livro 3000 dias no bunker, do jornalista Guilherme Fiuza, dirigido por Rodrigo Bittencourt e com coprodução da Maristela Filmes. O thriller político narra como uma seleta equipe econômica, liderada por Fernando Henrique Cardoso na década de 1990, se fechou em um "bunker" para reformar o Estado, vencer a hiperinflação e criar a nova moeda. 

Há vários livros sobre o Plano Real, o principal e considerado definitivo é o da jornalista Miriam Leitão (Saga Brasileira - A longa luta de um povo por sua moeda, da Editora Record). O filme é protagonizado por Gustavo Franco, a "espinha dorsal" da equipe, interpretado por Emílio Orciollo Neto, o mais jovem do grupo, que tinha Pedro Malan, Edmar Bacha, Pérsio Arida, André Lara Resende, Clóvis Carvalho e Winston Fritsch. Benvindo Siqueira interpreta Itamar Franco e Norival Rizzo, Fernando Henrique Cardoso. A narrativa comporta várias leituras. 

A favor, contra ou mais ou menos, o que a valoriza. O mais importante, a meu ver, é que a obra conta sobre, talvez, o fato mais importante da história brasileira. Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso mereciam mais espaço e protagonismo no filme e, especialmente Itamar, um presidente que podia ser provinciano, de temperamento agitado, mas que ficou na história da República sem marcas de corrupção. Na livraria do aeroporto de Brasília há livros sobre os últimos presidentes, com críticas e acusações. Sobre Itamar Franco não pairam suspeitas de irregularidades e ele ficou com seu nome gravado na história por ter determinado a elaboração do Plano Real. Não é pouco. 

O filme sobre o plano deveria ter enfatizado o papel da sociedade brasileira, do povo brasileiro, que teve papel importantíssimo antes, durante e depois das reformas que até hoje deixaram boas marcas. A existência de nossas moedas de cinco, dez, vinte e cinco, cinquenta centavos e um real mostra valorização de nossa moeda que, hoje, como se sabe, passa por problemas, diante de crises econômica, ética e política. 

Os mais velhos se lembram de uma taxa de inflação que chegou aos terríveis e galopantes 46,58% em junho de 1994, época em que havia muito mais mês do que salário e que as maquininhas de remarcar dos supermercados infernizavam a vida dos sofridos brasileiros. 

a propósito... 

O filme sobre o Plano Real, no momento complicadíssimo que vivemos no Brasil, serve, além de ilustração, de esperança e inspiração para nós. Mostra como, mesmo com as inevitáveis falhas humanas e complicações da economia e da política, um presidente obstinado, um ministro da fazenda experiente e uma equipe econômica graduada podem ajudar o País, contando, é claro, com a indispensável e importante participação popular. 

É claro que o filme não é isento de críticas, obra humana que é. O bom é saber como o plano foi elaborado e que funcionou, com a participação popular. Que venham outros fatos históricos como este.    - Jornal do Comércio 

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/05/colunas/livros/565238-suspense-psicologico-e-sedutor.html)

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