Imagem do passado
SÃO PAULO - Quando observamos uma estrela, viajamos no tempo. Nós não vemos o corpo celeste como é hoje, mas como era no passado, quando a luz por ele emitida iniciou sua viagem em direção a nosso planeta. A imagem da estrela mais próxima da Terra, Proxima Centauri, leva 4,2 anos para chegar a nós. As dos astros mais distantes que conseguimos enxergar a olho nu embutem atrasos de milhares de anos.
Algo parecido ocorre com o PIB. Quando o IBGE divulga os resultados, ele nos traz informações sobre o que estava acontecendo com a economia no passado. No caso dos números publicados ontem, o que se passava no primeiro trimestre.
Mas isso é só parte da história. Temos sempre grande interesse em conhecer os dados porque o passado mais próximo diz mais a respeito do presente do que o passado mais remoto.
O que aconteceu no primeiro trimestre é muito mais relevante para nossa situação atual do que o que ocorreu em 2016 ou 1929. É como a previsão do tempo. Se você não tem nenhuma informação e ainda assim insiste em fazer prognósticos sobre o clima, sua melhor estratégia é estimar que as condições de amanhã serão iguais às de hoje. Vai errar várias vezes, mas ainda assim colecionará mais acertos do que erros.
Essas reflexões, porém, valem para períodos normais e nós não vivemos um período normal. Desde que Michel Temer se deixou flagrar numa conversa inapropriada com Joesley Batista, adicionou-se tanta incerteza política ao cenário econômico que a regrinha heurística de que o passado imediato determina o presente está suspensa. Na verdade, sabemos que as perspectivas relativamente otimistas que pareciam realistas três semanas atrás deixaram de sê-lo.
Resta torcer para que o retrato relativamente alvissareiro que o IBGE nos trouxe não seja o equivalente econômico do brilho normal que antecede uma supernova, a explosão catastrófica de uma estrela maciça.
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