segunda-feira, 4 de abril de 2011



04 de abril de 2011 | N° 16660
KLEDIR RAMIL


O dedão opositor

Tô ficando velho. A mais nova mania é escrever mensagens no celular com o dedão. Eu sou do tempo da datilografia, quando uma das principais virtudes do ser humano era saber usar a máquina de escrever com os 10 dedos.

Máquina de escrever era uma espécie de computador que vai imprimindo enquanto você digita. Sem a possibilidade de “delete”. Se você errasse uma letra, teria que disfarçar com um negócio chamado corretivo – tipo um esmalte branco de unhas – e esperar secar.

Ao mesmo tempo, essa máquina hoje considerada obsoleta, tinha a grande vantagem de poder funcionar sem energia. Quer dizer, sem energia elétrica, porque a quantidade de calorias necessárias para escrever uma página datilografada era enorme. Há uma teoria que associa esse esforço físico ao perfil esbelto das secretárias da época. Não sei.

Naquele tempo, a técnica de usar apenas um ou dois dedos para escrever era conhecida como “catar milho”. Hoje, com os BlackBerrys e os iPhones a gurizada escreve o dia inteiro apenas com o dedão. Alguma coisa está mudando radicalmente. O mundo que eles estão construindo vai ser muito diferente do nosso. O que, confesso, me dá alguma esperança. Só não consigo entender como vai ser melhor se usam apenas um dedo, quando poderiam estar usando 10.

É bem verdade que o dedão é um dedo especial, é o nosso polegar opositor. É o principal órgão do corpo humano, depois do órgão sexual. É por causa dele que o mundo é mundo.

Toda a história da humanidade é uma conse­quência desse pequeno detalhe anatômico, um dedo opositor, que nos permite agarrar as coisas, seja um copo ou a mulher amada. E isso fez toda a diferença. O homem começou a construir ferramentas, objetos, máquinas e blackberrys.

Com a retomada da valorização do nosso dedo histórico, essa nova geração talvez consiga fazer o que não conseguimos com o democrático uso dos 10 dedos. Vamos ver.

Eu sei que certos dedos não servem pra quase nada e acabam sendo menosprezados. O mindinho, por exemplo. Fica ali pendurado, esperando alguma chance de mostrar serviço. Acontece que, mesmo que seja um trabalho menor, ele precisa ser reconhecido, é uma questão de autoestima.

Toda essa celebração da supremacia de um dedo em detrimento dos outros companheiros me deixa preocupado, pois nem tudo pode ser feito só com o polegar. Essa gurizada vai ter que concordar comigo pelo menos em uma coisa: não dá pra tirar meleca do nariz com o dedão.

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