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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
05 de fevereiro de 2009
N° 15870 - LETICIA WIERZCHOWSKI
Do poder da Literatura
Ganhei de presente um pequeno livro de Orhan Pamuk, autor turco que recebeu o Nobel de Literatura em 2006. Um pequeno grande presente, esse livro. Suas frases ficaram martelando na minha cabeça.
De férias, faço largas caminhadas na praia e penso na vida, nos filhos, nos romances. E penso muito nas confissões de Orhan Pamuk. Esse tesouro publicado pela Randon House Mondadori me foi dado em espanhol, e tampouco sei se foi editado no Brasil.
Não é um livro de ficção, mas uma compilação de três discursos. O primeiro deles, que dá nome ao livro, A Maleta de Mi Padre, foi proferido por Pamuk por ocasião do Nobel e conta dos caminhos que escolheu até chegar à literatura e da importância que teve seu pai, um amante dos livros e da liberdade num país onde a religião sempre significou intolerância.
Enfim, A Maleta de Mi Padre me fez pensar no meu próprio pai e nas coisas que também ele, um homem de espírito livre e provocador, me ensinou ao longo dos anos, quando eu mesma queria viver dos livros, e para tantos isso parecia quase um chiste, senão uma promessa de penúria e tristeza.
O segundo texto, El Autor Implícito, Pamuk proferiu ao ganhar o prêmio Puterbaugh, outorgado pela revista americana World Literature. E o terceiro texto, que me fez escrever essas linhas, Kars en Frankfurt, foi lido por Pamuk ao receber o Prêmio da Paz da União de Livreiros Alemães em 2005.
Muitos turcos vivem na Alemanha sob duras condições, e a Turquia, um país muçulmano, mas com grande parcela de população ocidentalizada e até mesmo laica, como o próprio Pamuk, sofre um terrível preconceito na Europa.
Assim, nas linhas onde Orhan Pamuk agradece a honraria, ele também fala do poder impressionante que a literatura tem. Pamuk escreveu em Neve a história de um poeta turco, Kars, que passara anos na Alemanha e depois torna à sua terra natal.
Nas palavras do próprio: “os leitores, como o próprio autor, usam a sua imaginação, tentam colocar-se no lugar do outro.
Esses são os momentos em que se agitam nos nossos corações a tolerância, a modéstia, a ternura, a compaixão e o amor: a boa literatura não apela ao nosso poder de julgar, e sim à nossa capacidade de nos colocarmos no lugar dos outros”.
Uma bela verdade a respeito dos livros, vinda de um autor cujo povo conhece a intolerância religiosa e política.
Num mundo onde, cada vez mais, o horror e a guerra grassam entre vizinhos e iguais – afinal fazemos todos parte de uma mesma espécie, de um mesmo sonho, de um mesmo planeta – talvez sejam eles, os livros e seus personagens, os únicos que ainda nos poderão salvar.
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