08 DE AGOSTO DE 2020
POLÍTICA +
Cem mil vidas, cem mil mortes
Na planilha oficial do Ministério da Saúde, a trágica marca de 100 mil mortes pelo coronavírus será atingida neste sábado. O boletim oficial divulgado na noite de sexta-feira registrava 99.572 óbitos, mas, na prática, já sã mais de 100 mil, porque há uma defasagem nas notificações. O número de 1.079 do boletim oficial não é o das mortes do dia, mas das notificações, com a liberação de testes represados. E o estoque de testes à espera de resultados é superior às confirmações do dia. São 3.497 mortes em investigação.
Cem mil em cinco meses é um número dramático. Mais do que uma estatística que coloca o Brasil em segundo lugar no ranking de mortes, são 100 mil vidas abreviadas por um vírus que transformou o planeta, fechou fronteiras e abalou tanto as economias sólidas do Primeiro Mundo quanto as dos países emergentes e agravou a situação dos mais pobres.
Na quinta-feira, em transmissão ao vivo pela internet, ao lado do ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello, o presidente Jair Bolsonaro tratou os 100 mil com um tom de banalidade:
- A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número de 100 mil talvez hoje, é isso? (...) Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema.
Repetiu o comportamento que teve desde o início da pandemia, de subestimar a gravidade do vírus e de tratar as mortes como um determinismo com o qual os brasileiros têm de se conformar porque, afinal "todo mundo morre um dia", ele não é coveiro, a morte "é o destino de todo mundo", "morre gente todo dia, de uma série de causas, é a vida".
Contaminado, o presidente usou seu caso para propagandear um medicamento sem comprovação científica de eficácia, a hidroxicloroquina. Recuperado, seguiu o mesmo roteiro, como que para provar que era só "uma gripezinha" ou que se safou porque tem histórico de atleta.
Os três países com maior número de mortes (Estados Unidos, Brasil e México) têm uma coisa em comum: presidentes que subestimaram a força do vírus, rejeitaram as restrições à atividade econômica, zombaram do distanciamento social e estimularam aglomerações.
Seria irresponsável colocar todas as mortes na conta dos presidentes negacionistas. Morreu gente no mundo inteiro, incluindo países liderados por homens e mulheres comprometidos com a prevenção. A pergunta que nunca se conseguirá responder é quantos morreram por desrespeitar o distanciamento social inspirados em homens como Donald Trump, Jair Bolsonaro e López Obrador.
ROSANE DE OLIVEIRA
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