quarta-feira, 5 de agosto de 2020



05 DE AGOSTO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

O CAMINHO DA CIÊNCIA

Não há caminho seguro a trilhar para vencer a crise do novo coronavírus que prescinda da luz da ciência. Os passos da humanidade na jornada para superar a temível enfermidade desconhecida há pouco mais de sete meses mas que já vitimou quase 700 mil pessoas no mundo precisam ser sempre iluminados pelo conhecimento gerado e validado a partir de evidências. 

A busca por atalhos, especialmente quando vidas estão em jogo, é um desvio que costuma levar a repetições de episódios trágicos, fartos na História. Em todas as grandes pragas e pestes enfrentadas pela humanidade, surgiram curas milagrosas que levaram falsas esperanças à população, mas no caso da atual emergência sanitária há informação suficiente para que se rechacem soluções mágicas ou meramente fraudulentas, muitas vezes endossadas por charlatães sem formação médica ou científica que usam a internet como palco para ganhar atenção e, não raro, benefícios econômicos e políticos com a pandemia.

Foram os pesquisadores, fazendo ciência, que rapidamente detectaram o agente causador da doença, descobriram as formas de contágio, desenvolveram celeremente métodos de diagnósticos e encontraram meios para tratar doentes com quadros mais graves, como o suporte ventilatório. Foi o conhecimento científico que demonstrou a importância do isolamento social para conter a disseminação do agente infeccioso, estratégia que teve amplo êxito em países onde os governantes, de forma responsável, compreenderam a necessidade de diminuir o contato entre as pessoas e a estratégia foi assimilada e implementada com a ajuda da população. 

É a ciência que trabalha para possivelmente em tempo recorde descobrir uma vacina eficiente contra o coronavírus que poderá estar à disposição apenas um ano após o surgimento avassalador da covid-19. Se ainda não foi possível identificar ou desenvolver medicamentos eficazes para o tratamento, não foi por falta de trabalho e dedicação e, ao menos, comprovadamente se sabe o que não funciona e traz riscos de efeitos colaterais, embora seja preciso respeitar as decisões tomadas, em comum acordo, por médicos e pacientes.

Neste momento, mentes brilhantes espalhadas pelos quatro cantos do mundo, em laboratórios, centros de pesquisa e hospitais se empenham no desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz, hoje a única forma de se abrir mão de medidas de distanciamento social sem o perigo de novas ondas de infecções e mortes. A ciência brasileira, mesmo maltratada, felizmente se soma a esses esforços. Acordos para testar imunizantes oriundos de diferentes países dão esperança de que o país possa dispor de doses suficientes para serem aplicadas talvez até o início de 2021 em um grande número de pessoas, especialmente as de grupo de risco, assim que houver confirmação de efetividade.

A relevância da ciência, entretanto, não pode voltar a ser esquecida quando a pandemia for passado. O Brasil tem pecado reiteradamente no apoio e no financiamento ao desenvolvimento de novas tecnologias nas mais diversas áreas e restringido verbas de bolsas para pesquisadores. O resultado tem sido uma fuga crescente de cérebros. Acabam buscando sua realização profissional em outro lugar, deixando de colaborar com o desenvolvimento do país onde nasceram. Chegou a hora de o conhecimento recuperar o prestígio que merece e a ciência ser definitivamente alçada à condição de prioridade nacional.

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