segunda-feira, 6 de outubro de 2008



O velho, o novo e o de sempre

Volta e meia, especialmente em época de antigas ou novas eleições ou de lançamentos bombásticos de vanguardas artísticas que quase sempre envelhecem em seguida, a questão do velho e do novo, eterna, aparece.

A questão também aparece quando se fala de novas descobertas científicas, espirituais ou filosóficas ou de algum produto ou serviço. O que é realmente novo ou velho? Complicado, não é? Às vezes, a forma de apresentar é que é nova.

Esse negócio de velho ou novo é mais antigo do que a Sé de Braga, como diziam os que já desencarnaram e ainda dizem algumas pessoas, especialmente cronistas que gostam de citações e de mostrar lá alguma erudição. O fato de ser novo ou velho não significa, necessariamente, ser bom ou ruim.

Na milenar Bíblia, no Eclesiastes, o rei Salomão, provavelmente depois de curtir uma ressaca dessas de segunda-feira de manhã, disse que não há nada de novo debaixo do sol.

Não interpreto literalmente as sábias palavras bíblicas. Prefiro achar que o novo sempre vem. Mas acho que ninguém cria a partir do nada.

Tom Jobim, por exemplo, estudou música erudita, subiu o morro para conhecer Pixinguinha e outros, ouviu muitíssimo jazz do bom e aí, com João Gilberto e outros craques, para conseguir pagar o aluguel, criou a Bossa Nova, uma criancinha que acaba de completar 50 anos. Ninguém nasce sabendo e, se nasce, tipo Mozart, é porque lá no DNA, em outras vidas ou não sei onde, algo já existia.

A ancestral caminhada humana no planeta, ou, ao menos, a melhor parte dela tem a sabedoria de conhecer e reverenciar o passado e, a partir daí, tentar criar algo realmente novo, mesmo ou, principalmente, na base da subversão. Não acho que tudo já foi sonhado, pensado, dito ou feito.

Também acho que não se deve ignorar a tradição ou sapatear nos túmulos dos que nos deixaram, por vezes com muito esforço e trabalho, legados preciosos.

O velho, o novo, o de sempre, a fantasia, o sonho, a verdade, a mentira, a memória, a história, as memórias inventadas e os museus de velhas ou futuras novidades estão aí, para nossas alegria e tristeza, para constatarmos que a vida segue, nova e velha, a cada nascer do sol.

Se não estou dizendo grandes novidades, não tem problema, não estou preocupado com isso, ao menos nesse segundo. Mas essas palavras e esses momentos que você me dedica lendo-as não existiam antes, são novos, entende?

Para mim e, quem sabe, para você, é melhor, simplesmente, saber que o velho, o novo e o de sempre estão aí, embolados e embalados, destinados a motivar nosso prazer de viver. (Jaime Cimenti)

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