segunda-feira, 6 de outubro de 2008


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Sobre verdade, ficção, jornalismo e limites

Tom Wolfe, jornalista e escritor norte-americano, nasceu em 1931, em Richmond, Virginia. Até hoje em atividade intensa, ele é considerado, com todos os méritos, o papa do novo jornalismo, gênero que aproveita técnicas e recursos da ficção para trabalhos de várias categorias, como reportagem, ensaio, artigos, crônicas etc.

Escrevendo em primeira pessoa, mostrando marcas, texturas e preços de produtos, falando de roupas, detalhes e características pessoais dos envolvidos com notícias e utilizando onomatopéias, Wolfe rompeu com os manuais de redação da época e criou uma nova forma de fazer jornalismo.

Autor do clássico moderno A fogueira das vaidades, que lhe valeu sucesso de público e crítica, filme de repercussão e comparação com grandes escritores do século XIX, como Honoré de Balzac.

Emboscada no Forte Bragg, romance lançado a primeira vez no Brasil em 1998 e agora em edição de bolso, tem como subtítulo Quando a Rede Poderosa de Televisão se confronta com os Lordes da Testosterona, alguém vai acabar se dando mal.

Na narrativa, publicada originalmente em capítulos na prestigiosa revista norte-americana Rolling Stone, Tom Wolfe apresenta, ao seu melhor estilo e com riqueza de detalhes, uma fábula contemporânea pontuada pela crítica corrosiva e pelo humor virulento que se tornaram sua marca registrada.

O produtor de um programa de tevê em rede, de 60 minutos, de estilo bate-pronto, e a repórter investigativa loira, bem penteada, que veste blusa de seda, vão se envolver com o caso de três jovens skin-heads dentro de um trailler com uma exótica dançarina. Câmeras vão registrar confissões, detalhes e toda a situação. Como utilizar o material? O que é verdade?

O que é um documento? Até que ponto um telejornal de impacto pode manipular imagens, espetacularizando, com o propósito de captar o interesse dos espectadores e induzir a busca por justiça? Quais os limites do jornalismo e da ilusão na televisão?

Essas e outras questões estão ao lado dos episódios narrados no romance de Tom Wolfe, sempre atento aos costumes, ao comportamento e ao que rola de mais atual na sociedade norte-americana contemporânea.

De que lado ficar em jornalismo? A audiência, o anunciante e o emprego devem prevalecer ou deve valer, prioritariamente, o que manda o bom, velho e ético jornalismo?

Como se vê, Wolfe toca em temas fundamentais para nós todos, pessoas que ouvem rádio, assistem à tevê e lêem jornais diariamente. O que as empresas de comunicação devem entregar ao público?

Enfim, mais uma vez as minuciosas pesquisas do escritor norte-americano renderam ficção contundente de alta qualidade e relacionada com os dias que correm por aí. Tradução de Toni Marques, 136 páginas, Editora Rocco e L&PM Pocket (telefone 3225-5777).

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