05 de outubro de 2008
N° 15749 - PAULO SANT’ANA
Repreteou o olho da gateada
Está aí a eleição perante nós, os seus eleitores e observadores. A eleição que me diz mais respeito, hão de entender os leitores do Interior, é a da Capital, a cidade onde vivo. Só se fosse super-homem poderia arriscar uma análise sobre os pleitos dos outros 495 municípios afora Porto Alegre.
Então me fixo na eleição daqui, sem dúvida a mais importante, tantos prefeitos porto-alegrenses já foram governadores, governar Porto Alegre significa sempre um trampolim para o Piratini.
Evidentemente que já sei qual a candidata que vai disputar o segundo turno com o Fogaça. Ou melhor, presunçosamente calculo que sei.
Só não vou revelá-lo em face daquele princípio de que me tracei ontem de no máximo que eu possa devo esforçar-me para não deixar que a minha opinião possa mudar a vontade do eleitor.
E no caso dessa pesquisa do Ibope que Zero Hora publica hoje, Fogaça com 38%, Manuela D’Ávila e Maria do Rosário empatadas em 20%, qualquer assoprãozinho que um jornal um ou cronista der pode ajudar uma ou outra candidata a vencer, tão parelhas elas estão na pesquisa nestas últimas horas que nos separam da apuração.
Em qualquer disputa, em qualquer jogo, como no futebol, na eleição e na bolsa de valores, existe um valor que é mais respeitável que todos os outros: a tendência.
A tendência é quase sempre uma força irresistível. Não foi difícil para mim prever que a liderança do Grêmio no campeonato, que era de seis pontos de diferença sobre o segundo colocado, quando o tricolor começou a cair, iria se tornar pó.
Baseei-me nesse fenômeno sobrenatural da estatística que se chama tendência. Claro que há uma margem de erro para se calcular que determinada tendência irá vingar no final de uma competição, mas quase sempre a tendência mostra uma força avassaladora.
Numa eleição, a tendência é quase sempre imbatível.
Passemos agora da disputa para um jogo, no caso a bolsa de valores, classificada por muitos como um cassino.
A tendência de queda nas bolsas de valores era tão grande nos últimos dias que nem a aprovação do pacote financeiro do governo Bush no Senado e na Câmara dos Deputados foi capaz, nas últimas horas de sexta-feira passada, de estancar o ritmo de pessimismo que dominava os pregões.
Mesmo com US$ 850 bilhões que estão sendo injetados pela Casa Branca para socorrer os agentes financeiros do mercado norte-americano as bolsas de valores não conseguiram revirar a tendência de queda.
Eu acredito que na segunda-feira o mercado de ações em todo o mundo vai abrir em alta, mas no último pregão a tendência de queda resistiu até mesmo ao maior socorro que um país jamais antes havia dado ao seu meio financeiro.
Viu-se assim que a tendência de queda era o valor mais alto que se pronunciava no mercado.
Tendência, curva ascendente, curva descendente são fenômenos inseparáveis de um campeonato de futebol, de uma bolsa de valores, finalmente também de uma eleição.
O problema, quando se analisa qualquer disputa ou jogo, é ter sensibilidade para distinguir quando uma tendência vai estancar e dar lugar a uma tendência contrária.
O Grêmio, por exemplo, foi alvo de uma tendência favorável em todo o primeiro turno do Brasileirão, liderou impávido a competição.
E espatifou-se nas pedras do rochedo rude erguido por uma tendência desfavorável para si no segundo turno do campeonato nacional. Foi primeiro lugar no primeiro turno e estes dias estava em 15º lugar no segundo turno. Dois fatos notáveis comandados coerentemente por duas tendências.
Só que nesta eleição de Porto Alegre desenha-se nitidamente uma tendência importante no quadro dos candidatos que lideram as pesquisas. Essa tendência foi afirmada nos últimos dias.
Pode uma tendência amalgamada em vários dias ser detida por outra tendência contrária que tem apenas algumas horas, até abrirem as urnas, para vir a manifestar-se?
Com todo o cuidado zeloso que tenho – e devo ter – para não prejudicar nem favorecer ninguém, no máximo posso escrever finalmente que a eleição de hoje em Porto Alegre está sendo presidida por uma tendência no primeiro lugar e também por uma tendência no segundo lugar, as duas posições que vão subir para o segundo turno.
Os leitores inteligentes e atentos devem saber o que estou querendo dizer.
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