sábado, 4 de outubro de 2008



05 de outubro de 2008
N° 15749 - VERISSIMO


Mal-entendidos

Contam que um brasileiro estava a viver em Portugal e a namorar uma portuguesa, e que um dia quando estavam os dois a passear ela lhe perguntou se ele sentia falta de alguma coisa do Brasil, de algo que em Portugal não havia. E ele pôs-se a pensar, a pensar, e finalmente respondeu:

– Sim. Do gerúndio.

A moça só ficou tranqüila quando olhou num dicionário e descobriu que o brasileiro não estava falando de um namorado com nome estranho.

Os mal-entendidos têm sido uma constante na história dos nossos povos desde que aquele português explicou da melhor forma que pôde ao índio que assistia a seu lado à primeira missa rezada na praia depois do descobrimento do Brasil o significado da eucaristia, e os olhos do índio brilharam e ele pensou “Hmmm, precisamos experimentar isso...” Muitos datam daí o começo do canibalismo entre os nativos da América.

Mas o mal-entendido prototípico entre os dois mundos se deu antes, quando Cristovão Colombo chegou ao Caribe convencido de que estava na Índia.

O fato causou grande revolta entre os nativos, não porque Colombo se dera o direito de inventar um nome para eles – o que se podia esperar de um maluco que não tirava os calções nem sob o sol mais forte? – mas pela confusão semântica que criou. Se eles eram índios, então como deveriam chamar os nascidos na Índia? A controvérsia perdura até hoje.

Mônica contou para as amigas que o Felipe queria que o amor deles fosse platônico. Ela aceitava o amor platônico com ele? A Mônica ficara de pensar.

E agora estava perguntando às amigas. Deveria aceitar o amor platônico com Felipe? As opiniões se dividiram. Umas achavam que o Felipe não era de se jogar fora, e que essa era a consideração mais importante, no caso.

Se fossem elas, não recusariam nada que o Felipe propusesse. Nem amor platônico. Outras achavam que era preciso haver um limite. Um Felipe como aquele não se jogava fora, certo.

Mas isso não queria dizer que ele podia impor o tipo de amor que haveria entre ele e a Mônica. A Mônica tinha que manter suas opções abertas. Afinal, já passara o tempo em que os homens ditavam essas coisas.

Não estavam mais na Idade Média. Uma terceira corrente, mais realista, opinou que a primeira coisa a fazer, antes de tomar uma decisão, era descobrir o que queria dizer, exatamente, “amor platônico”.

Tinha a ver com Platão, certo? Platão era grego. Ou era romano? Não. Grego, grego. Amor platônico era amor à maneira grega. Epa.

Uma das amigas tinha visto em algum lugar que os gregos gostavam de dormir com garotos. O que aquele Felipe estava pretendendo com a Mônica?

A estratégia escolhida foi a seguinte. Mônica continuaria a namorar o Felipe. Que, afinal, não era de se jogar fora. Mas quando ele desse sinal de que queria amor platônico, ela deveria pular da cama e gritar

– Isso não!

Não seria verdade que, quando os ingleses perguntaram como era o nome do bicho estranho aquele, os aborígenes da Austrália respondiam “Kanguru”, que queria dizer “Não sei”.

A verdade é que os ingleses tanto perguntavam, tanto perguntavam como era o nome do bicho aquele que os aborígenes perdiam a paciência e gritavam “Kanguru!”, ou “O, ingleses chatos!”

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