sábado, 24 de novembro de 2007


Diogo Mainardi

Somos todos chimpanzés

"Ter um QI acima da média pode ser útil na carreira de um engenheiro nuclear. Na carreira de um jornalista, por outro lado, com certeza só atrapalha.

Acabei de fazer dois testes de QI, um imediatamente depois do outro. Em menos de dez minutos, meu QI aumentou 11 pontos. Tornei-me um Nobel"

O QI dos negros é mediamente inferior ao dos brancos. O QI dos brancos é mediamente inferior ao dos amarelos. O QI dos judeus é mais alto que o dos góis.

As mulheres com ancas largas possuem um QI superior ao das mulheres com ancas estreitas. O leite materno faz aumentar o QI. O primeiro filho tem QI mais alto do que os demais. O desempenho intelectual de quem tem mais de 100 livros em casa é melhor do que o de quem tem menos de dez.

Isso é só uma amostra do que foi publicado recentemente sobre o assunto, em particular nos Estados Unidos. O debate costuma descambar para a pancadaria.

É de bom-tom imputar as disparidades de QI entre um grupo e outro unicamente a fatores ambientais, tais como renda, perfil familiar, acesso à cultura e qualidade do ensino. Mas a natureza insiste em desafiar esses modelos igualitários. Os estudos feitos nos últimos anos parecem indicar que a capacidade intelectual tem também um forte componente hereditário.

Em que medida? Que sei lá eu. Um dos pioneiros das pesquisas nesse campo, Arthur Jensen, chutou que 50% do QI era decorrente de fatores ambientais e os outros 50% de fatores genéticos.

À medida que seus estudos foram adiante, ele mudou o cálculo, atribuindo 20% do QI aos fatores ambientais e 80% à genética. James R. Flynn foi mais preciso. Num livro que acaba de ser publicado, ele estabeleceu que a inteligência é 36% genética e 64% um misto de genética e fatores ambientais.

A Slate fez um bom apanhado sobre as descobertas nessa área. Leia. Está na internet. Os dados sobre os negros incomodam tremendamente porque parecem fornecer argumentos à bestialidade racista.

Os dados sobre os latino-americanos também. Mas patrulhar o debate científico apenas porque ele destrói nossas fantasias acerca da realidade é outra forma de obscurantismo.

No fim das contas, o que os estudos sobre o QI acabam demonstrando é algo diametralmente oposto à supremacia racial: há tanta disparidade entre as pessoas de uma mesma etnia quanto entre os membros de uma mesma família.

Por isso o sistema de cotas é nefasto: ele trata todos os negros como uma coisa só, passando por cima de suas habilidades individuais. No Dia de Zumbi, Lula defendeu o Estatuto da Igualdade Racial, essa asnice totalitária que pretende ampliar o sistema de cotas. É um atalho para o racismo.

Quanto a mim, desconfio dos testes de QI. Ter um QI acima da média pode ser útil na carreira de um engenheiro nuclear. Na carreira de um jornalista, por outro lado, com certeza só atrapalha.

Acabei de fazer dois testes de QI, um imediatamente depois do outro. Em menos de dez minutos, meu QI aumentou 11 pontos. Tornei-me um Nobel.

Mais do que isso: um Nobel escurinho. Passei a semana lendo análises sobre a capacidade mental de orientais desnutridos e sobre o peso do cérebro de defuntos de todas as cores.

O resultado desse grande empenho foi que minha fantasia igualitária continuou de pé: somos todos uns chimpanzés.

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