sexta-feira, 16 de novembro de 2007



16 de novembro de 2007
N° 15420 - Paulo Sant'ana


Uma base em escombros

Terminada a votação vexatória do pacote da governadora Yeda Crusius na Assembléia, 34 a 0, todos se perguntavam: "E agora?".

Não se passaram muitos minutos e veio da Secretaria da Fazenda a resposta: "Agora vão atrasar ainda mais os vencimentos do funcionalismo público".

Quem é que não sabe que vai estourar no funcionalismo? Só que o pronunciamento da Secretaria da Fazenda estava incompleto. O certo seria assim: "Agora vão atrasar mais ainda os vencimentos do funcionalismo do... Poder Executivo".

Sim, porque nem a mais hedionda crise financeira do Estado, muito pior, se houvesse, do que esta que corrói os cofres públicos estaduais, conseguiria atrasar os vencimentos dos funcionários dos outros poderes que não seja o Executivo, o que eu acho certo, salário tem de ser pago em dia.

Se por acaso um dia se atrasassem os vencimentos dos funcionários dos outros poderes, no dia seguinte se resolveria a crise financeira do Estado.

Mas por um encadeamento lógico, se em razão da reprovação da Assembléia ao pacote da governadora vão atrasar mais ainda os vencimentos do funcionalismo do Poder Executivo, então não seria o caso de o funcionalismo ir lá na Assembléia para protestar por não ter ela aumentado os impostos?

Da governadora não adianta mais reclamar nada, ela conseguiu o milagre de ter como maior opositor o vice-governador e de não ter obtido nenhum voto, um sequer que fosse, em favor do seu tarifaço.

Isso que a governadora tinha maioria absoluta na Assembléia.

Melhor se tivesse minoria. Que maioria é essa que não só perde para a minoria como também se soma à minoria para derrotar o governo, não concedendo sequer um voto favorável ao tarifaço?

Que maioria é esta?

Mas o secretário da Fazenda, Aod Cunha, quando diz que vão atrasar ainda mais os vencimentos dos funcionários do Poder Executivo, parece concluir que a responsabilidade por isso pertence aos deputados estaduais, que não deram ao governo os recursos que ele necessitava para atenuar a crise sufocante.

Agora a governadora pode atrasar os vencimentos e o 13º do funcionalismo à vontade: a culpa é dos deputados.

Será que algum dos, no mínimo, 33 deputados que compõem a base do governo na Assembléia ganhou coragem para ir ter com a governadora depois do fiasco memorável da votação de anteontem e despedir-se dos quadros da base aliada?

Mas será possível que nenhum dos 33 foi até a governadora e pediu para desligar-se da base aliada? Todos teriam de fazê-lo. Tinham que se afastar da base aliada, consentir que fossem demitidos dos seus cargos no Executivo os seus correligionários e deixar a governadora à vontade para formar outra base aliada e outro secretariado.

Viu-se anteontem que não tem nenhuma utilidade a base aliada: a governadora pode muito bem governar sem essa base.

Nada pior do que aconteceu ontem pode ocorrer doravante contra o governo na Assembléia.

A governadora não precisa de base aliada para aprovar projetos triviais na Assembléia.

Base aliada um governante tem de ter para aprovar projetos cabeludos. O Lula, por exemplo, tem uma base aliada fiel, que lhe garantirá a aprovação da prorrogação da CPMF, com a ajuda de muita gente que finge que não é da base aliada de Lula e de fato é, como acontece com muitos parlamentares gaúchos, inclusive integrantes dos partidos que compõem a "base aliada" de Yeda.

Uma verdade resta definitiva depois do fiasco da votação de anteontem: o governo Yeda Crusius, por suas vicissitudes estruturais, terminou em escombros.

E ressalta entre as ruínas a base aliada na Assembléia.

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