quarta-feira, 21 de novembro de 2007



21 de novembro de 2007
N° 15425 - Sergio Faraco


Voltando

Após quatro meses de "férias", em que trabalhei como um condenado e pude escrever dois contos, retorno ao Segundo Caderno. Não era minha intenção, ao menos por enquanto. Neste ano e no próximo, desejava me dedicar tão-só à ficção, que é a única coisa que sei fazer mais ou menos bem.

A arte da mentira, certo.

Nisso tenho algum futuro.

É o meu forte.

Abre parênteses: vamos deixar claro que só minto escrevendo. Falando, jamais, nem mesmo para um marido enganado. Cuidado que eu conto! Também vamos deixar claro que, para mim, falar a verdade não é uma questão de princípio. É que, quando minto, me dá cobreiro. Fecha.

Se escrevi apenas dois contos, ao menos os escrevi, não é? E isto eu não fazia desde o advento do século. Quer dizer, estava dando certo o meu afastamento do jornal, aquilo que anunciei na última crônica: me recolho à minha laura, quero ser esquecido, outras galés pedem meu remo etc. Os contos não convenciam, mas era um recomeço e eu acreditava que, mais dia, menos dia, haveria de recobrar a embocadura.

E não é que, pisoteando essa nobre intenção, cá estou de volta? O cara da laura? Das galés?

Inexplicável, a natureza humana.

Ou por outra: que tem uma explicação, tem.

Parei de escrever as crônicas, ou que outro nome tenham, no dia 4 de julho. De lá para cá acompanhei religiosamente as crônicas dos outros, tanto no Segundo Caderno como na página três, e cada vez que as lia, imagina, também me dava cobreiro. E não por mentir, não era o caso. Confesso: era de inveja! Uma inveja de corpo inteiro, da cabeça aos pés. E dê-lhe comichão.

E era só?

Não.

Invejar a presença dos concorrentes nestas páginas correspondia, digamos, a uns 32 por cento de meu pecado. O restante era algo mais profundo e devastador: figurava que, por causa de suas colunas, eles se comunicavam todas as semanas, no mínimo a cada quinzena, com as gurias de Zero Hora.

As gurias! A Cláudia Laitano. A Ângela Ravazzolo. Ouviam-lhes as vozes, recebiam carinhosos emílios delas, avisando disso ou daquilo. E pra mim, nada. Notícias, não davam nem pediam. Como se eu não existisse.

Fosse um cachorro morto! Pô, qual é! Não sou também filho de Deus? E então me compenetrei: ou voltava ou mergulhava na voragem do ódio e do desgosto, e ia acabar tomando Ri-do-Rato.

É uma volta profilática.

Nenhum comentário: