sábado, 17 de novembro de 2007



16/11/2007 - 22:25
Edição nº 496


Uma estrela com conteúdo

Natalie Portman, a engajada atriz de A Loja Mágica de Brinquedos, fala de nudez na internet, do culto às celebridades e se diz fã da música brasileira

Por conta de seu físico mignon e de traços delicados, que lhe conferem uma imagem de Audrey Hepburn contemporânea, metade dos 60 roteiros que Natalie Portman recebe por ano é para papel de princesa.

Os outros 50% têm a ver com o fato de a atriz ter nascido em Jerusalém e ser uma “judia ativista”. Dessa fatia, quase todos são convites de filmes sobre Holocausto, os quais ela polidamente recusa. Confiando em seu instinto – diz não consultar seu agente –, Natalie criou uma carreira diversificada.

Os detratores dizem que a atriz é cautelosa demais, e, por isso, uma série de bons papéis foi parar nas mãos de outras colegas de sua geração, como Scarlett Johansson e Kirsten Dunst. Mas Natalie não tem pressa.

Em vez de capitalizar em cima de sua juventude, fazendo filmes apelativos ou faturando com campanhas de cosméticos, ela dedica boa parte de seu tempo às causas sociais, ao desenvolvimento do roteiro de seu primeiro filme como diretora (uma adaptação do romance De Amor e Trevas, do escritor israelense Amos Oz) e se aproxima cada vez mais dos cineastas internacionais, tendo filmado com os renomados Amos Gitai, Wong Kar-wai, Tom Tykwer e Milos Forman.

‘‘O foco do processo criativo foi jogado em cima das trivialidades’’ Mesmo tardiamente, também vem cultivando um leve flerte com papéis sensuais.

Esses dois lados ficam comprovados agora com o longa A LOJA MÁGICA DE BRINQUEDOS, fábula infantil na qual interpreta a gerente irresponsável e insegura do estabelecimento-título, ou o curta Hotel Chevalier, aperitivo que acompanha o longa VIAGEM A DARJEELING (leia à pág. 138), no papel de uma jovem sexualmente desinibida e dominante.

As cenas do curta já garantiram a Natalie um constante tráfego no YouTube. Afinal de contas, não é sempre que uma princesinha de Hollywood expõe em cena o bumbum arrebitado com tamanha desenvoltura. Na manhã da terça-feira, usando um terninho preto, camisa branca de seda e botas pretas masculinas, Natalie conversou com ÉPOCA.

ÉPOCA – Há rumores na internet de que você se arrependeu de tirar a roupa no curta Hotel Chevalier, que precede o filme Viagem a Darjeeling...
Natalie Portman – Adoro o curta, foi uma experiência muito legal. Reclamei da apropriação ilegal das cenas de nudez, que foram parar em sites pornográficos. Nunca tive problemas com nu artístico.

ÉPOCA – Você tem alguma teoria para explicar a obsessão atual pelas celebridades?
Natalie – Tecnologia. Todo mundo tem acesso à internet, que abriu uma miríade de canais de comunicação. As pessoas querem escapar, e a internet oferece o mundo.

A massificação infelizmente interrompeu aquela sensação gostosa de comunidade pequena. Hoje em dia, qualquer pessoa na rua sabe que a Britney Spears raspou o cabelo e pode perder a guarda dos dois filhos.

ÉPOCA – O que mais costuma aborrecê-la na Hollywood 2.0?
Natalie – Fico possessa quando piso num carpete vermelho para divulgar meu novo filme, um trabalho que tomou meses de minha vida e ao qual emprestei minha alma e meu coração, e a primeira pessoa coloca um gravador na minha frente e pergunta: “Quem é que fez seu vestido?” (risos).

Talvez seja um exagero de minha parte, mas essa pergunta simboliza algo de errado com a indústria de entretenimento atualmente: o foco foi totalmente desvirtuado do processo criativo e jogado em cima das trivialidades.

ÉPOCA – Alguns artistas, como Angelina Jolie e Bono, parecem sérios a respeito do ativismo social, mas muitos parecem ter pegado carona apenas para promoção pessoal. O que acha disso?

Natalie – Tento olhar de maneira positiva e apreciar o que está sendo feito, sem ser cínica. Para mim, tem sido uma enorme oportunidade fazer parte da Finca (Fundação para Assistência de Comunidades Internacionais, com sede em Washington), que advoga a causa da microfinança. Originalmente, queria trabalhar com questões de integração entre Israel e Palestina.

Uma das pessoas que mais admiro é a rainha Rania, da Jordânia, uma mulher inteligente, compassiva e eloqüente. Ao contatá-la para saber se podíamos trabalhar juntas nesse sentido, ela me guiou para esse grupo de microfinança.

É uma maneira sustentável de aplacar a pobreza, pois você está dando a mulheres de baixa renda o acesso a um capital para elas montarem o próprio negócio.

Trata-se de um projeto com quase 30 anos, e o índice de retorno dos empréstimos bancários é de 97%. Incrível como o dinheiro é capaz de ser reciclável.

ÉPOCA – Sua dupla nacionalidade afeta sua vida?
Natalie – Como israelense e judia, presto mais atenção na política e nos eventos mundiais. Em termos profissionais, me sinto mais conectada com o cinema mundial, pois cresci vendo filmes legendados de todos os cantos.

Há uma leva de ótimos cineastas surgindo do México, da Coréia e do Brasil. Sou grande fã do trabalho de Fernando Meirelles e Walter Salles.

ÉPOCA – Você já declarou ser fã do músico brasileiro Seu Jorge.
Natalie – Sim, já vi vários shows dele. Escuto muita música brasileira. Minha fase atual é bem “Los Muchanches” (Natalie se refere aos Mutantes). Sei que é um som mais velha guarda, mas não consigo parar de ouvi-los.

Ao compilar recentemente um CD beneficente para a Finca, vieram parar em minhas mãos algumas gravações brasileiras. Adorei o Curumin (funkeiro carioca), e escolhi sua faixa “Tudo Bem, Malandro” para o CD que estamos vendendo na loja virtual da Apple.

ÉPOCA – Você tem uma pele de porcelana. Que cuidados toma com a aparência?
Natalie – Quando visito meu dermatologista, ele sempre diz: “O que é que há de errado com as mulheres? Vocês tocam o rosto diariamente 50 vezes a mais que os homens. Tire suas mãos do rosto!”. Este é meu segredo: mãos no bolso (risos).


Foto: Mary Ellen Matthews/Corbis Outline/Latin Stock

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