terça-feira, 1 de outubro de 2024


Conexão Brasília
Matheus Schuch

Caminho longo e difícil no combate à "pandemia"

Principal voz do governo contra o que considera uma "pandemia nacional" de apostas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que a regulamentação dos jogos significará uma virada de página no combate a ilegalidades e no controle sobre apostadores compulsivos.

Os primeiros efeitos práticos devem ser sentidos a partir de hoje, quando a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) dará início à notificação de bloqueio de ao menos 500 sites que não ingressaram no processo de regularização. A reversão do cenário de descontrole, contudo, não será simples.

A exclusão de páginas ilegais estava prevista no início do processo de regulamentação, que entrará em vigor integralmente no início do ano que vem. O problema é que a internet oferece muitas facilidades para driblar o controle estatal. O governo ainda terá de provar que possui capacidade de monitoramento constante, com eficiência e agilidade para bloquear operadores ilegais. Isso até agora não acontece, por exemplo, com canais de TV pirata. A cada bloqueio de páginas online ou aparelhos receptores, surgem outros.

Ao ampliar o controle, também não será simples para o governo fazer com que as casas legalizadas de apostas criem mecanismos eficientes para evitar a dependência de jogos e a descapitalização de apostadores compulsivos. A regulamentação traz uma série de compromissos para as empresas, mas a implementação exigirá também a capacidade de fiscalização.

Instituições financeiras, entidades setoriais de comércio e serviços já expuseram uma série de estudos sobre o impacto que as apostas têm na vida financeira dos brasileiros. Muita gente está deixando de comprar nas lojas, de frequentar restaurantes ou fazer viagens porque o dinheiro está comprometido com apostas. Sem falar em quem perdeu o controle das dívidas adquiridas nos jogos e não consegue mais comprar o básico para sustentar a família.

A tradição de apostar é uma das mais antigas da humanidade, o Brasil possui jogos que o próprio governo administra, divulga e incentiva. Mas a facilidade gerada pelas plataformas digitais, as promessas de ganhos fáceis e até mesmo de substituição de renda chegaram a níveis preocupantes. O governo acerta em criar regras e tentar separar operadores sérios de sites que não têm qualquer compromisso com a saúde dos apostadores. Mas o combate à "pandemia" está só no começo. _

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