Como a oposição ajudou Melo a vencer a eleição
A vitória esmagadora de Sebastião Melo na eleição em Porto Alegre é uma combinação da sua popularidade, da habilidade política para montar uma aliança sólida, da propaganda que acertou no tom desde o primeiro turno e, principalmente, da incompetência da oposição em geral e do PT em particular.
Com a maioria dos partidos embarcada em seu governo, Melo amarrou uma coligação que lhe deu mais tempo de propaganda de rádio e TV no primeiro turno e bloqueou o lançamento de candidaturas entre seus aliados. Ao neutralizar o PL, oferecendo-lhe a vice-prefeitura, ficou aberto o caminho para a conquista dos votos à direita.
O centro e a esquerda erraram desde a largada. O PSDB, partido do governador Eduardo Leite, sequer conseguiu lançar candidato. Deu um apoio formal a Juliana Brizola (PDT), que não tinha estatura para se tornar competitiva. O PT escolheu uma candidata com índice de rejeição histórico, que não era consenso nem no próprio partido.
Rejeição elevada é teto baixo para candidato
Maria do Rosário é uma excelente deputada, que não tem medo de encarar temas difíceis, mas seu maior acerto, a defesa dos direitos humanos, virou arma contra ela nas mãos do barulhento grupo que nunca leu a Declaração Universal. Ou, se leu, não entendeu, e continua confundindo direitos humanos com defesa de bandidos. Todas as fake news espalhadas contra ela nos últimos anos reapareceram na campanha.
Uma pessoa com rejeição tão elevada não poderia ser candidata em eleição majoritária. Mas o PT apostou que Melo, desgastado pela enchente, perderia até para um poste. Esqueceu de estudar o comportamento dos eleitores em situações de catástrofe.
A aliança com o PSOL puxou a chapa ainda mais para a esquerda, provocou atritos internos e não agregou votos. Maria do Rosário de novo virou Maria para os marqueteiros, um erro que já havia cometido quando perdeu para José Fogaça. A candidata tentou se reinventar, mas não conseguiu convencer os eleitores de que podia fazer um governo melhor. _
Foram tantas as promessas feitas pelo prefeito reeleito que, se conseguir cumpri-las, Porto Alegre chegará a 2028 como uma das melhores cidades do Brasil. Difícil será encontrar dinheiro para o que não se resolve com parcerias.
Em Caxias, Adiló ganha a segunda disputa improvável
No primeiro turno, a dúvida era se o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), chegaria ao segundo turno. Chegou com uma vantagem apertada sobre Denise Pessôa (PT): foram apenas 2.853 votos a mais. Por ironia, foram votos de Denise que caíram no seu colo e que foram decisivos para a reeleição na disputa com Maurício Scalco (PL), candidato do deputado Maurício Marcon (Podemos) e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Foram apenas 6.254 votos de diferença entre os candidatos caxienses, indicando que nem todos os que votaram em Denise e Felipe Gremalmeier (MDB), que recomendaram voto em Adiló, acompanharam a indicação.
É a segunda vez que Adiló conquista a prefeitura de Caxias na carona da rejeição do adversário. Em 2020, Pepe Vargas (PT) venceu Adiló no primeiro turno, mas a rejeição ao PT garantiu a vitória do tucano por 59,57% a 40,43% no segundo.
Passados quatro anos, o PT precisou escolher entre o prefeito que derrotou Pepe e um candidato de direita que defende tudo o que o partido de Denise combate. Restou ao PT declarar "apoio crítico" a Adiló para tentar impedir a vitória de um bolsonarista.
Por ser Scalco um vereador sem experiência no Executivo, Adiló colou nele o rótulo de "aventura", uma referência ao ex-prefeito cassado Daniel Guerra, mas nem era preciso. Sua vitória se deu mais pela rejeição dos eleitores de Denise a um candidato bolsonarista do que pela campanha que fez ou pela avaliação da atual gestão, que não é das melhores. _
Betina, a vice escolhida por Zucco, saiu do anonimato
Quando o deputado Luciano Zucco, presidente do PL de Porto Alegre, escolheu Betina Worm para ser candidata a vice, nem o prefeito Sebastião Melo a conhecia. Foram apresentados depois da indicação. Ele gostou do seu estilo discreto e da formação militar. Se não agregou votos, não fez perdê-los.
Além de ter a vice-prefeita, o PL deverá ser o partido mais influente na prefeitura. Zucco, que em 2026 deverá ser candidato a governador ou ao Senado, dará as cartas mais do que o presidente estadual, Giovani Cherini. _
Canoas passa a ser principal fortaleza do PL no RS
A eleição do vereador Airton Souza (PL) em Canoas pode ser explicada por uma combinação de fatores, mas o principal deles é a rejeição ao prefeito Jairo Jorge (PSD), que teve a gestão mais tumultuada do Rio Grande do Sul nos últimos quatro anos. Duas vezes afastado pela Justiça a pedido do Ministério Público, o prefeito conseguiu retornar, também com decisão judicial, disputou a reeleição e chegou ao segundo turno.
Airton Souza foi o vereador mais votado na última eleição em Canoas e concorreu a prefeito por indicação do PL, partido que cresceu no município pela força do ex-presidente Jair Bolsonaro. Um dos seus padrinhos políticos é o deputado federal Bibo Nunes, que deverá ser uma espécie de eminência parda no governo.
Natural de Tenente Portela, Souza vai governar um dos maiores orçamentos do RS. _
Decimo vira o jogo e garante terceiro mandato para o PSDB
Ao longo da campanha do primeiro turno, os principais líderes do PT no Estado acreditaram que, de todas as eleições que disputavam nas grandes cidades, a mais garantida era a de Santa Maria. Até os adversários consideravam que o deputado e ex-prefeito Valdeci Oliveira, um dos líderes políticos mais populares da cidade, ganharia de primeira.
As urnas mostraram o vigor da centro-direita e guindaram Rodrigo Decimo (PSDB), atual vice-prefeito, ao segundo turno. Com uma campanha bem- estruturada, discurso consistente e obras para mostrar como herdeiro das duas gestões de Jorge Pozzobom, Decimo conquistou a maioria dos eleitores de Roberta Leitão (PL) e de Giuseppe Riesgo (Novo), que abriram voto e fizeram manifestações de apoio ao tucano no segundo turno.
Quando os votos do primeiro turno foram contados, Decimo passou de azarão a favorito por uma questão matemática: era improvável que eleitores de Roberta e Riesgo migrassem para um candidato do PT. _
Além das fusões e incorporações previstas e da ampliação das federações, para escapar à cláusula de barreira, os partidos terão de renovar seus líderes.
Os nomes novos surgidos nesta eleição vieram quase todos da direita. Nem todos venceram, é verdade, mas estarão nos partidos para a eleição de 2026.
No Rio Grande do Sul, é o caso de Maurício Scalco e Marciano Perondi, do PL, que chegaram muito próximos da vitória, e de Rodrigo Decimo (PSDB).
Governador tem o que comemorar?
Um dos grandes vitoriosos no segundo turno não tinha foto nas urnas eletrônicas: o governador Eduardo Leite.
Além de o PSDB ter vencido a eleição em Caxias do Sul com Adiló Didomenico e em Santa Maria com Rodrigo Decimo, Leite apoiou Fernando Marroni (PT) em Pelotas. Sem o apoio dele e da prefeita Paula Mascarenhas, é provável que Marroni não tivesse conseguido derrotar Marciano Perondi (PL).
Em 2025, o PSDB será a terceira força do Estado em população sob seu comando.
Leite ainda conseguiu manter a boa relação com o MDB, ao apoiar Sebastião Melo em Porto Alegre, mesmo o prefeito tendo trabalhado contra ele em 2022.
A principal vitória de Leite nos dois turnos foi que o governo estadual não foi pauta da eleição. _
Marroni vence em Pelotas com apoio de Leite e Paula
Adversário histórico do governador Eduardo Leite, o ex- deputado e ex-prefeito Fernando Marroni (PT) foi eleito na mais apertada das disputas de segundo turno. A diferença de apenas 1.263 votos fez com que a eleição fosse definida somente com a apuração das últimas urnas, com a diferença caindo a cada atualização.
Marroni foi eleito com o voto e o apoio discreto dos dois principais líderes do PSDB na cidade. Além de Leite, a prefeita Paula Mascarenhas também abriu voto para Marroni e fez uma defesa consistente da sua opção. O terceiro tucano influente de Pelotas, o deputado Daniel Trzeciak, ficou ao lado de Marciano Perondi (PL).
O apoio de Leite e Paula não foi apenas uma retribuição ao que o PT fez na eleição estadual de 2022. Os dois deixaram claro que estavam votando em Marroni por considerá-lo mais preparado para administrar a cidade, já que foi prefeito e deputado federal, conhece os problemas e tem capacidade de diálogo.
Apesar da fragilidade dos laços com Pelotas, Perondi foi mais longe do que o PT poderia imaginar. Natural de Caxias do Sul, mora em Pelotas há apenas um ano e meio e só foi escolhido candidato porque o PL não tinha um nome competitivo na cidade.
O candidato do PL também foi prejudicado pela mudança no rumo da campanha, com a entrada do prefeito de Bagé, Divaldo Lara, na equipe estratégica. A intervenção incomodou aliados do candidato e afugentou eleitores. Na campanha, apresentou propostas simplistas, como a de resolver os problemas cortando cargos em comissão e reduzindo o número de secretarias. _
MIRANTE
Com a reeleição de Sebastião Melo, os partidos estão de olho na formação do secretariado para tentar emplacar vereadores no primeiro escalão e abrir vaga para suplentes.
Pelo menos um vereador do MDB deverá ser convocado para que Idenir Cecchim assuma a cadeira na Câmara. A aposta da coluna é no vereador eleito Professor Vitorino, que foi secretário adjunto de Serviços Urbanos.
A próxima janela de esperança para os suplentes é daqui a dois anos, com a eleição de deputado estadual e federal. Todos os mais votados deverão ser candidatos. E com chances.
Alguém terá de ensinar aos marqueteiros do PT que depoimento de artistas famosos não rende voto em eleição municipal.
As urnas eletrônicas saíram consagradas da eleição de 2024. Nem no primeiro nem no segundo turno houve alguma contestação aos resultados, divulgados com rapidez e precisão.
O avanço do centro e da direita no Nordeste deverão ser interpretados pelo presidente Lula como um sinal de alerta para sua candidatura em 2026.
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