Quem apostou que a literatura desapareceria, perdeu
Fiz minha parte nestes 30 anos como colunista: publiquei várias crônicas e, agora, reuni parte delas numa coletânea chamada "Comigo na Livraria"
Livro e leitor vivem uma relação a dois como se sonha. Com entrega, escuta e emoção.
O futuro projetado pela família Jetsons, desenho animado dos anos 1960, previu as casas automatizadas, as chamadas de vídeo e os relógios de pulso inteligentes. Quanto à alimentação por pílulas, acertaram mais ou menos: ainda não ingerimos comprimidos de carne, de lasanha, de ovo, mas temos nos empanturrado de comprimidos filosóficos e de autoajuda. Grudados no celular, ingerimos microdoses de aprendizado: como treinar os bíceps, meditar em três minutos, lidar com a menopausa, visitar os Lençóis Maranhenses e outras pílulas de bem viver, para consumo imediato. E engajamos.
Nada disso impede que a vida continue medíocre e as relações, miseráveis. Para incrementar as drágeas de conteúdo digital, só investindo em conteúdo substancial e envolvendo-se de fato com todas as dimensões da existência humana. A reação veio: o livro voltou a ser valorizado. Quem apostou que a literatura desapareceria, perdeu.
Novas livrarias estão sendo abertas pelo mundo, a imprensa tem dado matéria de capa para escritores, as editoras despejam novos títulos, clubes de livro invadem as redes, autores prestigiam as Feiras e o número delas se multiplica. Engajamento é um termo atual, mas não sacia: o que queremos, mesmo, é vínculo.
Livro e leitor vivem uma relação a dois como se sonha. Com entrega, escuta e emoção. O livro dá sentido às horas, retribui nossa dedicação, nos resgata da rotina e do tédio, nos leva para outros lugares, desperta sentimentos novos e perturbadores, recompensa o tempo investido. Ao chegar à página final, somos pessoas melhores, e logo abrimos outro livro, para não interromper a viagem pelo alucinante universo da sabedoria – sem algoritmos. É um comprometimento pessoal e sagrado, que nos distancia da vulgaridade das manipulações tecnológicas.
Restaurantes e cafés estão colocando livros em sua decoração. Antigas cabines telefônicas têm virado minibibliotecas. As conexões do livro com o cotidiano se expandem, para nos lembrar que, absorvidos pelas redes, arriscamos ser reduzidos a anêmicos consumidores de canapés informativos. O conhecimento aprofundado é que nos alimenta — e tira um país da indigência.
Fiz minha parte nestes 30 anos como colunista: publiquei várias crônicas exaltando a literatura, e agora reuni parte delas numa coletânea chamada Comigo na Livraria, um convite para descobrir como Ian McEwan, Mario Benedetti, Carla Madeira, Millôr Fernandes, Lionel Shriver, Mario Quintana e Muriel Barbery, entre outros, lapidaram minha visão de vida.
O lançamento será dia 9 de novembro, às 18h, na Feira do Livro de Porto Alegre. Aliás, meu livro traz um texto sobre sessões de autógrafos, elas também geram boas histórias. Vá até lá criar a sua comigo.
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