quarta-feira, 30 de outubro de 2024



30 de Outubro de 2024
MÁRIO CORSO

Dissincronia com a idade

Já é lugar-comum falar da dificuldade dos jovens atuais em crescer e assumir responsabilidades. Como demoram para sair de casa, ocupar-se de seus estudos, definir uma profissão, saber lidar com dinheiro e amadurecer emocionalmente. Eles não chegaram de outro planeta, a explicação deve estar na forma como são educados, e quais as referências em que se espelham.

Mas será que só eles têm uma falta de sincronia com a idade? Observando os adultos contemporâneos não encontro grande diferença. Nunca foi fácil envelhecer. Assistir ao declínio do corpo, e de suas funções, é duríssimo. Mas pode ser ainda pior se a juventude eterna se tornar a razão de viver, e essa busca é majoritária. Estamos todos empenhados em congelar a idade.

O senso comum segue incensando a juventude como a perfeição, o momento de ouro. Não temos a maturidade em um registro positivo. Ela é vista como perda de vitalidade, perda do acesso ao que seria a verdadeira felicidade. No fundo, ninguém acredita na sabedoria e na paz que os anos prateados trariam.

A indústria da beleza, na prática indústria de rejuvenescimento, cresce como nunca. As plásticas raramente são satisfatórias, e se sucedem, por não cumprirem o que é delirantemente esperado. Os adultos que reclamam da imaturidade juvenil poderiam ser chamados de geração botox.

A manifestação mais patética dessa tendência é o radical político de meia idade. Como a rebeldia é associada à juventude, ter ideias radicais, superficiais, portanto, agressivas e barulhentas, está na moda. O amadurecimento, que nos mostra que a realidade tem mais nuances e profundidade do que parece, não opera em tais ditos adultos.

Qual o impacto nos jovens em ver seus adultos tentando se igualar a eles? Se lhes mostramos que envelhecer seria o inferno, por que eles teriam pressa em crescer? A dificuldade dos jovens para amadurecer está ligada aos poucos adultos, no sentido de viver a seu tempo as etapas da vida, disponíveis para servirem de exemplo.

Como em tantas reclamações, o tema diz mais do reclamante do que do acusado. A demora dos jovens para entrar na vida procede, mas vamos fazer a nossa parte, estar em paz com a idade que temos. 

MÁRIO CORSO

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