segunda-feira, 14 de outubro de 2024


14 de Outubro de 2024
EM FOCO

Democratização, evasão e disfunção

Na análise de Artur Jacobus, vice-reitor da Unisinos, o aumento de alunos em cursos de EAD pode ser visto de forma negativa. Apesar de o modelo ser uma forma de democratizar o acesso ao Ensino Superior, ele aponta que existe alto índice de evasão entre os estudantes e que o desempenho em avaliações, como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), é inferior ao de alunos de cursos presenciais.

- É preciso entender, valorizar a possibilidade de que mais pessoas possam cursar o Ensino Superior, e a modalidade a distância permite isso, é positivo, mas, na nossa visão, tem uma certa disfunção. O EAD deveria ter papel complementar, não deveria ser a principal forma de ingresso no Ensino Superior no Brasil ou em qualquer outro país - aponta Jacobus.

O Conselho Consultivo para o Aperfeiçoamento dos Processos de Regulação e Supervisão da Educação Superior (CC-Pares) avalia a qualidade do Ensino Superior e a possibilidade de nova regulamentação que exija maior qualidade do EAD. _

Percentual de alunos matriculados em educação a distância no RS chega a 58,35%, o segundo maior entre as unidades da federação. Especialista aponta correlação entre redução de oferta de financiamento e diminuição do modo presencial

Presença de universitários em cursos EAD cresce no Estado

Os dados anuais do Censo do Ensino Superior, realizado pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que o RS é o Estado em que essa parcela de estudantes mais cresceu nos últimos 10 anos. De 2014 para 2023, foi registrado aumento de 39,6 pontos percentuais entre os universitários gaúchos que estudam de forma remota.

Segundo os dados apresentados, dos 9,9 milhões de estudantes no Ensino Superior, no ano passado, o Brasil registrou 49,25% (4,9 milhões) de alunos na modalidade a distância e 50,75% (5,06 milhões) no modelo presencial. A diferença entre as duas formas em 2023 era de apenas 150.220 matrículas.

O número de alunos presenciais foi superado em 2022 no RS, quando 55% (316.462) das matrículas universitárias eram em cursos EAD. Porém, o histórico mostra que a presença de universitários em cursos a distância já vinha de uma crescente desde 2016.

- Houve aceleração ainda maior a partir de 2017, quando foi bastante desregulamentada a EAD no Brasil, com menor exigência em relação aos polos. E existe uma correlação, que já foi verificada: o fato de não haver formas de financiamento ao ensino presencial faz com que os alunos busquem o ensino a distância - explica Artur Jacobus, vice-reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e representante do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung).

Em 2015, houve mudanças nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o que teve reflexos no número de universitários matriculados em cursos de EAD. Para Jacobus, os dados mostram clara correlação entre a diminuição da oferta do Fies e o aumento de alunos em curso de EAD:

- Claramente, tem correlação entre queda, ou diminuição, ou, praticamente, suspensão da oferta de financiamento estudantil público e o crescimento da educação a distância. Porque é uma alternativa. O aluno que não tem quantidade de recursos suficiente para pagar educação presencial, que é mais cara, acaba optando pelo ensino a distância.

O maior crescimento, em comparação com os outros Estados, de universitários em cursos de EAD no RS também tem relação com o perfil da população.

Flexibilidade

A presidente do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Lúcia Teixeira, relaciona o aumento ao ciclo da educação básica.

- O que a gente vê em relação aos Estados e no Rio Grande do Sul, é que o número de concluintes do Ensino Médio continua caindo, ou seja, de jovens. Os jovens são aqueles que mais estão nos cursos presenciais, enquanto nos cursos a distância, a gente tem prevalência daqueles que têm mais de 30 anos. Então, como menos jovens se formam no Ensino Médio ou precisam trabalhar por causa da situação econômica, só depois eles vão estudar. E aí, muitas vezes, procuram o EAD, que é mais barato e tem flexibilidade de horários, podem estudar de qualquer lugar. 

Beatriz Coan

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