29 de Outubro de 2024
EDITORIAL
Polarização derrotada
Finalizado o pleito de 2024, restou demonstrado que o voto nas eleições municipais se move muito mais por questões locais do que nacionais. Na maioria esmagadora das cidades, não foram os candidatos que representavam maiores líderes da esquerda e da direita mais enérgica, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, os grandes vencedores. Os maiores vitoriosos foram os partidos do centro, da centro-direita e mesmo da direita, mas que em regra não emulam a postura antissistema do bolsonarismo raiz. Apesar das exceções aqui e ali, quem apostou na polarização que divide os brasileiros não logrou o sucesso imaginado na disputa pelas prefeituras.
O caráter pragmático da eleição fica mais nítido ao se constatar que o PSD foi a sigla que elegeu o maior número de prefeitos: 887. Foi seguido pelo MDB, com 856. O PSD, liderado por Gilberto Kassab, um mestre na leitura de cenários políticos, se notabiliza por não ter linha programática definida e identificada com esquerda ou direita.
Venceu se ajustando às peculiaridades regionais, com o apoio e os votos de um ou outro lado do espectro ideológico. O MDB, da mesma forma, é conhecido por alinhamentos distintos em cada Estado. O terceiro colocado foi o PP, com 747 prefeitos, seguido pelo União, com 578. Grosso modo, são as legendas que formam o centrão, sem tradição ou perspectiva de candidaturas competitivas à Presidência da República e mais interessadas no jogo de poder praticado entre o Congresso e as prefeituras.
O PL, de Bolsonaro, aumentou de 345 eleitos em 2020 para 516. Há uma dose de ilusão no crescimento de 50%. Estimava-se que, com a filiação do ex-presidente, o desempenho seria muito superior. As projeções do partido indicavam vitória em mais de mil municípios. No domingo, perdeu em sete das nove capitais em que disputou o segundo turno, principalmente para outros candidatos do campo da direita. O PT, vencedor de cinco das últimas seis eleições para o Planalto, também não tem grande motivo de celebração, apesar de ter aumentado o número de prefeituras de 179 para 252. A maior agremiação de esquerda do país ficou apenas em 9º lugar no ranking dos partidos.
É possível extrair a conclusão de que o eleitor, mesmo mais inclinado à centro-direita e à direita, em sua grande maioria preferiu mais moderação. O resultado legou rachas no lado conservador, mas é precipitado antever se sequelas permanecerão até 2026. Confirma-se, ainda, a dificuldade da esquerda, notadamente do PT, de renovar lideranças, fazer uma autocrítica e se reconectar com amplas parcelas do eleitorado, em especial de baixa renda, com novas aspirações.
Por fim, foi o pleito com mais alto índice de reeleição já observado, da ordem de 80%. Analistas ligam a elevada recondução à farra das emendas parlamentares direcionadas aos municípios e ao controle dos recursos do fundo eleitoral. Alertam que esses prefeitos beneficiados, daqui a dois anos, retribuirão o apoio de deputados e senadores, levando também a uma baixa renovação no Congresso. A perpetuação no poder dos mesmos nomes ou grupos, reduzindo a oxigenação na política, não é saudável à democracia e eleva o risco de apatia do eleitor, manifestada, por exemplo, por meio da abstenção.
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