Vi a IA de perto - Sócio-diretor da HOC
No início deste mês, estive numa missão empresarial no Vale do Silício, numa imersão em inteligência artificial. A velocidade das transformações, vista in loco, é impressionante. Como já disse alguém, estamos na era da pedra lascada em se tratando da IA, impressionados da mesma forma que ficaram aqueles que viram os primeiros celulares - mal sabiam eles tudo que ainda viria pela frente.
Mas sabemos nós tudo que ainda vem pela frente. Mergulhando em big techs como Nvidia, Salesforce, Oracle, Scale, c3.ai, só para citar algumas das empresas que visitamos, a pergunta "onde será que isso tudo vai parar?" vira uma afirmação cristalina: "não vai parar".
Claro que os avanços exponenciais e as inúmeras possibilidades práticas da IA nos deixam em zigue-zague entre estarrecidos, maravilhados e apavorados. Mas não foi isso o que mais me chamou atenção nas 25 empresas que visitamos. Em todas as conversas, em determinado momento, o fator humano vinha à tona como um ponto crucial. Uma boa síntese é o que ouvimos na Nvidia, que ao lado da OpenAI é uma empresa símbolo destes novos tempos: "nosso maior desafio é a capacidade humana de conseguir lidar e tirar proveito da velocidade dos avanços".
Na semana passada vimos um foguete que dá ré e robôs eretos fazendo o trabalho de garçom e pedreiro. O que será que vai valer a pena estudar nos próximos anos? Qual profissão não será completamente transformada? No Vale do Silício uma das empresas tinha 3 mil engenheiros de software, hoje tem 600. Se até quem faz a IA é substituído por ela, o que resta para os outros?
Viver intensamente o epicentro da IA no mundo só reforçou minhas crenças: o futuro é uma página em branco, as pessoas continuarão querendo se emocionar com outras pessoas e o mundo será melhor quanto mais criativo for.
A inteligência artificial vai entregar melhor e mais rápido tudo que for objetivo, quantitativo, previsível e mensurável.
Mas a vida reside no inesperado, no imponderável, na faísca que atiça o fogo. O que vale mesmo a pena não pode ser medido. Mas isso já é assunto para o próximo texto. _
B20 e uma agenda de Estado para a indústria brasileira
Ricardo Bidone
Engenheiro civil e conselheiro da Fiergs
Nos dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo, será concluído o ciclo mais recente de debates do B20. B20 é o grupo composto por líderes da indústria dos países que compõem o G20. Trata-se de uma espécie de força-tarefa com o objetivo principal de discutir temas de negócio e ambiente empresarial. Com presidência rotativa, coube ao Brasil a orientação dos trabalhos neste último ano.
O industrial Dan Ioschpe liderou esse processo. O ambiente de discussões estabeleceu oportunidade única para, além da análise de questões complexas da geopolítica que envolve os países, proposição de uma agenda de Estado específica para a indústria brasileira. A atividade industrial, cuja relevância vem encolhendo nas últimas décadas, responde hoje por aproximadamente 10% do PIB.
Deverá surgir um documento que sugira o estabelecimento de uma política industrial não transitória. As discussões avançaram norteadas pelos seguintes eixos: infraestrutura; transição energética; agricultura sustentável; comércio e transformação digital; descarbonização e redução das desigualdades. Ocorreu a opção por definirem-se poucas recomendações bastantes aplicáveis.
A inserção competitiva do Brasil no contexto mundial é prejudicada pela falta de uma política consolidada e institucionalizada. Essa carência perpassa questões que vêm sendo enfrentadas há décadas, como custo-Brasil, baixa produtividade e gargalos logísticos. A visão sistêmica/completa do ambiente de negócios exige uma abordagem transversal/horizontal para solução de problemas.
Cláudio Bier, recém empossado presidente da Fiergs, definiu que sua gestão priorizará: competitividade; inovação; desenvolvimento e retenção de talentos; e reconstrução das indústrias pós-enchente. Existe grande sinergia entre o programa de trabalho encabeçado por Bier e os tópicos enfrentados pelo B20. Esse alinhamento é muito positivo e beneficia o RS. Iniciativa privada e estado, agora, precisam convergir, de modo a estabelecer uma política industrial de longo prazo. _
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