02 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS
TURISMO ABAIXO DO POTENCIAL
Inexiste qualquer dúvida quanto ao imenso interesse turístico pelos parques nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral, em Cambará do Sul, concedidos em 2021 para a iniciativa privada. A região dos cânions, com todo o esplendor de suas paisagens naturais, é uma das mais deslumbrantes do país. Todo esse potencial torna ainda mais frustrante a situação observada nos últimos anos de queda da visitação, gerando uma série de queixas da comunidade local. Não é possível crer que os envolvidos no impasse atual não sejam capazes de agir com bom senso e de produzir um diálogo voltado a encontrar soluções o mais breve possível.
Nota-se um jogo de empurra e múltiplas explicações para a queda do movimento. De acordo com a prefeitura de Cambará do Sul, o fluxo de turistas caiu pela metade desde a concessão, um passo destinado a dotar os parques de gestão, infraestrutura, facilidades e atrativos melhores. Ou seja, uma melhor experiência para os visitantes, potencializando o arrebatamento proporcionado pela natureza.
Para cada óbice listado, há uma solução que necessita, em primeiro lugar, de boa vontade para negociar. Um exemplo é a pavimentação da estrada de chão batido e de condições precárias que liga a cidade ao cânion do Itaimbezinho, no Aparados da Serra. Apesar de o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) ter contrato assinado para executar a obra, os trabalhos travam devido ao entendimento do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) de que é o órgão federal, e não a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que tem a competência para o licenciamento. Seja qual for o entendimento a prevalecer, é preciso disposição ao diálogo para chegar-se a um entendimento que leve ao início do asfaltamento.
A Urbia, concessionária que explora as áreas, também é questionada quanto ao valor do ingresso individual de R$ 97. Mesmo que o tíquete permita a entrada nos dois parques, em dias diferentes, deve-se convir: é um valor considerável para uma a família padrão de quatro integrantes, que ainda tem os gastos com deslocamento, hospedagem e alimentação. Para atrair mais público, provavelmente pessoas com menor poder aquisitivo, seria razoável a empresa ser um pouco mais flexível e criativa, viabilizando modalidades mais em conta. Assim, poderia alavancar o número de visitantes na região, beneficiando também os setores de comércio, gastronomia, hotelaria e demais serviços ligados ao turismo. É possível transigir.
A Urbia, por outro lado, também diz aguardar autorizações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para instalar novas atrações nos parques. O órgão informa que está atualizando o plano de manejo dos locais. Por óbvio, trata-se de um trabalho que requer certo cuidado pela necessidade de garantir a preservação da natureza. Mesmo assim, não há nada de demasiado em pedir a agilidade possível.
Quase três anos após a concessão, conclui-se que repassar a gestão dos parques à iniciativa privada, apesar de ter sido um avanço na possibilidade de ofertar melhor infraestrutura e experiências aos visitantes, não foi o suficiente para impulsionar o turismo na região. O progresso prometido ainda não chegou. Espera-se o compromisso das partes envolvidas em buscar as soluções aguardadas para atrair mais público e facilitar o acesso. Com vontade para buscar soluções conjuntas e sensatez será possível voltar a acreditar no turismo como fator gerador de um desenvolvimento compartilhado pela comunidade local.
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