29 DE JUNHO DE 2018
INDICADORES - Igor Oliveira
Qual reforma tributária?
O fato de estarmos em uma crise longa, que atinge nossa nação de muitas maneiras diferentes (política, sociedade, economia, meio ambiente), da qual não temos clareza sobre a rota de saída, tem feito muita gente pensar de maneira mais profunda. Li a entrevista da economista de esquerda Laura Carvalho ao El País, e, apesar de discordar de vários pontos, fiquei feliz com seu diagnóstico sobre as causas do curto período de crescimento que tivemos e sobre a necessidade de uma reforma tributária se quisermos ter alguma chance de voltar a caminhar.
A estrutura tributária brasileira só agrada a três tipos de pessoas: os burocratas do sistema tributário, os rentistas financeiros e os velhos empresários (na agropecuária e na indústria) cujos negócios dependem da venda massiva de produtos comoditizados, de baixo valor agregado, o que só é viável com subsídios. Esses empresários possuem estruturas formadas para lidar com a burocracia, e não desejam a concorrência de novos empreendedores.
Para a massa da população brasileira, a tributação, tal como está, é um desastre, porque onera excessivamente o consumo, que é aonde vai praticamente toda a renda de quem ganha pouco. Para empreendedores que tentam construir negócios mais inovadores, como serviços de alto valor agregado, o problema é a complexidade, que os faz gastar mais tempo cuidando de burocracia do que do empreendimento.
Portanto, se quisermos mexer nesse emaranhado, precisamos conceber um novo sistema tributário mais justo e simples por meio de uma reforma estrutural. O problema é que essa agenda não é óbvia. Percebe-se, no discurso de candidatos como Bolsonaro, Ciro e Manuela, um compromisso com o velho desenvolvimentismo, ligado aos setores de baixo valor agregado, que é exatamente o que nos trouxe até aqui.
Tendo a pensar que as coisas ainda vão piorar um tanto antes que aconteçam mudanças estruturais, que talvez cheguem pelas mãos de forças mais autoritárias. A política brasileira está cada vez mais agarrada a velhos paradigmas, que fazem cada vez menos sentido. Antes de começarem a se romper, as velhas estruturas enrijecem ainda mais.
Igor Oliveira escreve às sextas-feiras, a cada 15 dias. Na edição de fim de semana, Ely José de Mattos.
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