sexta-feira, 29 de junho de 2018


29 DE JUNHO DE 2018
NÍLSON SOUZA
O maior espetáculo da Terra


O título acima era do circo, como sabem os mais antigos, pois as crianças de hoje carregam nos seus celulares mais atrações do que aquelas apresentadas em 200 anos de picadeiro por palhaços, trapezistas e domadores. Agora é do futebol. Uma Copa do Mundo, como esta que está sendo disputada na Rússia, reúne diversão, história, beleza, emoção, diversidade cultural e convivência pacífica entre povos de todos os continentes, tudo em tempo real e ao alcance de uma plateia planetária. Não há espetáculo mais belo e grandioso em nosso tempo.

Daqui a milênios, quando a humanidade estiver espalhada por outras galáxias sem saber o que fazer de sua vida eterna, alguém haverá de resgatar a imagem de um rosto colorido chorando lágrimas de tinta e se questionará: será uma religião? Por que eles se pintavam? Que construção circular é essa? Por que uns festejam e outros lamentam? O que significam os estandartes? Que batalha é aquela no gramado?

Isso se as imagens digitais armazenadas na nuvem forem efetivamente preservadas.

A Copa da Rússia já é a mais bela de todas as que tive a oportunidade de acompanhar, de perto ou de longe. Num cenário de contos de fada, com palácios, igrejas e torres desenhados por verdadeiros artistas da arquitetura, os personagens do mundo da bola desfilam alegremente pelas ruas, exibindo as cores de suas pátrias na pele, nas roupas e nas bandeiras. Cantam hinos, abraçam-se, festejam a vida e a oportunidade única de conhecer outros costumes e outras gentes, nas noites brancas e nos dias ensolarados da terra da Matrioska.

A lenda é linda: o carpinteiro artesão fabricou uma boneca de madeira falante, que lhe pediu uma filha, a qual, mais tarde, repetiu o pedido. Matrioska virou mãe de Trioska, que se tornou mãe de Oska, e esta, finalmente, mãe de Ka, que nasceu de bigode para não ter que gerar outra bonequinha. O brinquedo virou símbolo da fertilidade, do amor e da amizade. Segundo os russos, presentear alguém com a bonequinha grávida de outras bonecas é sinal de grande afeto e desejo de uma vida longa e feliz.

A Rússia também tem histórias terríveis para contar, como a da crueldade do czar que mandou cegar o construtor da catedral de Moscou para que ele jamais fizesse outra igual. Ainda que o ser humano seja mesmo capaz das maiores atrocidades, prefiro acreditar que esse conto de horror seja apenas uma narrativa ficcional para impressionar turistas. Gostaria que houvesse um árbitro de vídeo da História para conferir a veracidade desse lance.

Verdades ou mentiras, histórias ou lendas, o fato é que esses relatos encantam os visitantes e ampliam ainda mais as fronteiras abertas pelo futebol, com o seu poder mágico de, ao mesmo tempo, despertar paixões e apaziguar nacionalismos. Isso sem contar as surpresas do próprio esporte, como a queda dos campeões mundiais diante dos pequenos guerreiros coreanos. Vamos sentir um vazio quando esta Copa terminar.

*Até o dia 16 de julho, David Coimbra escreve no Jornal da Copa, encartado nesta edição.

NÍLSON SOUZA

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