sexta-feira, 8 de junho de 2018



08 DE JUNHO DE 2018
EDUCAÇÃO

Rafael conquistou mais de 20 universidades do Exterior

ALUNO GAÚCHO DE ESCOLA PÚBLICA conta como trocou o futebol pelos estudos para ser diplomata
Se perguntarem a um menino o que quer ser quando crescer, a resposta provavelmente será "jogador de futebol". Aos 18 anos, Rafael Zimmer já tinha meio caminho andado quando trocou a bola pelos livros em nome do sonho de ser diplomata. Estava no time sub-20 do Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo. Três anos e incontáveis horas de estudo depois, o estudante de escola pública foi aprovado em mais de 20 universidades fora do Brasil. Agora, quer fazer um canal no YouTube para mostrar a todos que é possível.

Natural de Bom Princípio, a 76 quilômetros de Porto Alegre, o jovem tinha ambições que extrapolavam os limites do município de 14 mil habitantes. Depois de Rafael terminar o Ensino Médio, resolveu estudar inglês em casa, sozinho, na internet. Fez 94 pontos no Toefl - exame reconhecido internacionalmente que atesta o conhecimento da língua. A nota é considerada alta até mesmo para quem tem aulas regulares do idioma desde criança.

Vencida a primeira etapa, dedicou-se aos processos de admissão das universidades. A rotina de estudos durava, em média, oito horas diárias. Dentre as instituições que o aceitaram, escolheu a americana Georgetown, considerada uma das melhores do mundo no setor. Vai cursar Relações Internacionais no campus de Doha, no Catar, com bolsa integral. Rafael diz que não tem a receita para o sucesso, mas sabe qual é o ingrediente principal:

- Foco. Você tem que saber onde quer chegar, ter um objetivo e focar nele. Eu sempre dou o meu melhor em tudo o que eu faço. Não acho que eu tenho uma inteligência fora do comum, mas corro atrás do que quero.

Para entrar em uma universidade dos EUA, além de fazer uma prova, é preciso apresentar projetos extracurriculares, fazer uma entrevista na língua local e ter uma boa carta de recomendação. A avaliação americana equivalente ao Enem é chamada de SAT, que em livre tradução significa Teste de Aptidão Escolar. Rafael conseguiu pontuar 1.230, uma nota considerada acima da média. Foram três anos de dedicação exclusiva ao sonho.

Além de bom aluno, Rafael também é atleta. Antes de jogar no Aimoré, passou pelas categorias de base dos times E.C Novo Hamburgo, S.C Americano e 15 de Novembro. A habilidade contou pontos para as aprovações. Foi no campo que aprendeu a ter disciplina. O estudante defende que o esporte não precisa ser inimigo das boas notas:

- O futebol me deu uma base. Eu aprendi com ele a ser competitivo, não com os outros, mas comigo mesmo. Até quando jogava, sempre tentei gabaritar as provas na escola.

AS CRÍTICAS E O PREÇO DO EMPENHO

Mas a ideia de estudar fora não foi aceita com tranquilidade na cidade interiorana. O padrão é que estudantes com boas notas prestem vestibular ao fim do Ensino Médio para logo entrarem em uma faculdade - de preferência, perto de casa. A mãe, Marli, lembra que ouviu muitas críticas por permitir que o filho se dedicasse a um projeto com resultados incertos. Tudo isso foi apenas um incentivo a mais.

- As pessoas diziam que eu era louca, mas eu sempre acreditei nele. Acho que a gente tem que deixar os filhos fazerem o próprio caminho, e não o que a gente quer - conta Marli.

Tamanho empenho também teve seu preço. Como os treinos esportivos tiveram de ser trocados por dias e noites debruçado sobre cadernos, Rafael perdeu massa muscular. Mais magro, não sentia vontade de ver os amigos. Nos períodos de maior estresse, chegou até a perder cabelo. Com as cartas de aprovação em mãos, afirma, sem hesitar:

- Valeu a pena.

A ideia do estudante agora é criar um canal no YouTube para democratizar as informações e ajudar alunos de baixa renda a obterem bolsas sem o intermédio de agências, que cobram valores altos pelo serviço. Já conseguiu convencer os futuros professores. A frase final da redação que Rafael apresentou à Georgetown University mostra que seu futuro promete: "Não vou deixar o meu país em silêncio".

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