sexta-feira, 8 de junho de 2018


08 DE JUNHO DE 2018
DAVID COIMBRA


Grêmio pode perder a chance de fazer história

Admiro os homens que acreditam na boa sorte. Isso faz com que se sintam especiais. É o que lhes dá confiança. Que lhes dá solidez. Que, muitas vezes, torna-os grandes.

Os grandes homens têm esse predicado. Um dos maiores de todos os tempos, Júlio César, cevava a certeza absoluta de que era abençoado pelos deuses. Certa vez, precisava atravessar um mar escuro e tempestuoso dentro de um pequeno bote. No meio do trajeto, os remadores olharam apavorados para as ondas gigantescas e ele, sorrindo, os tranquilizou:

- Não tenham medo: vocês estão conduzindo César e a sua fortuna.

Fortuna, no caso, não no sentido da riqueza, mas no da sorte.

Os remadores ficaram encantados com toda aquela segurança e isso lhes infundiu força nos braços. Mas o bote acabou se espatifando de encontro aos recifes e César teve de adiar a viagem.

Mesmo assim, ele jamais deixou de apostar alto na sorte, tanto que uma de suas frases mais famosas é, exatamente, "Alea jacta est". Ou: "A sorte está lançada".

Renato é dotado dessa qualidade. Ele acredita ser um predestinado, bate no peito e enfrenta de queixo alto os desafios. Isso é ótimo, a não ser que a crença se sobreponha à razão.

Por exemplo: Renato acredita, e levou todo o Grêmio a acreditar também, que ele tem a capacidade de recuperar jogadores. E é verdade, mas nem sempre. Há quem seja irrecuperável porque não pode e há quem seja irrecuperável porque não quer. Consumir uma dúzia de jogos em uma esperança de recuperação é punir o time durante esse tempo, porque, se já é difícil ganhar com 11 jogadores em campo, imagina com 10. Melhor que a recuperação seja feita à sombra.

Outro mito que se formou no Grêmio, graças à inquestionável sintonia de Renato com os jogadores, é de que ele é uma espécie de jardineiro encantado: o jogador em botão, uma vez tocado pela mão santa de Renato, desabrocha gloriosamente. Talvez tenha sido por isso que o Grêmio se contentou em contratar apenas jogadores medianos neste ano. Resultado: reservas medianos.

São erros. Mesmo os grandes erram. Mas os grandes, se são realmente grandes, corrigem-se. E melhoram.

O Grêmio contou com a grandeza de Renato e de Bolzan para montar um time que entrará para a história do futebol brasileiro. Mais da metade desse time é do quilate de seleção. Mas é só um time, não um grupo. Quando perde um único jogador, essa equipe tão ajustada fica desasada, perde um pouco da graça, caminha torta para um lado.

Escrevo a respeito porque temo que o Grêmio desperdice a chance de fazer algo mais do que grandioso neste ano, por confiar em demasia na mercê do imponderável. Está na hora do lance de ousadia. Está na hora do investimento. Às vezes, até a sorte precisa de um pouco de ajuda.

DAVID COIMBRA

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