segunda-feira, 4 de abril de 2011



04 de abril de 2011 | N° 16660
PÁGINA 10 | LETÍCIA DUARTE (Interina)


O que fica do mensalão

Pode ser que tudo acabe em pizza, que os envolvidos acabem impunes. Mas o relatório final da Polícia Federal sobre o mensalão no governo Lula, divulgado neste final de semana pela revista Época, cumpre um papel histórico: confirma definitivamente que o esquema existiu.

Em meio às tentativas de desconstrução de um dos maiores escândalos de corrupção já descobertos no país, classificado pelo ex-presidente Lula como uma “farsa”, o documento recoloca as peças no seu devido lugar, após seis anos de investigação. Ainda que não apresente nenhuma grande novidade, o calhamaço de 332 páginas implode as tentativas de jogar para debaixo do tapete o esquema montado pelo publicitário Marcos Valério, tendo como uma das principais fontes de financiamento o Visanet, com participação do Banco do Brasil, para distribuir R$ 55 milhões a dezenas de parlamentares de diferentes partidos da base aliada da gestão passada.

Buscando minimizar as conclusões da PF, o secretário de comunicação do PT, André Vargas, respondeu que o mensalão é uma tese da oposição, que a mídia e a Polícia Federal compraram, e que caberá ao Judiciário dar a última palavra. Ele sabe que a última palavra deve ser amém. Como o crime de formação de quadrilha vai prescrever no final de agosto deste ano, 22 dos 38 réus do processo devem ficar automaticamente livres da acusação.

Embora o relatório da PF já tenha sido encaminhado ao gabinete do ministro Joaquim Barbosa, o relator do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal, a previsão é de que, cumpridos os ritos legais, o caso só seja julgado em 2013, oito anos depois da descoberta do esquema.

Até lá, é provável que ninguém seja responsabilizado, que figuras como José Dirceu e Delúbio Soares voltem à cena política. Só que o passado não será apagado. Como bem disse a presidente Dilma Rousseff em janeiro deste ano, ao participar, em Porto Alegre, de uma homenagem às vítimas do Holocausto, a memória é uma arma para evitar que barbaridades se repitam. No caso do mensalão, o relatório da PF não nos deixa esquecer. Nem cair na farsa.

Conversa de bastidores

Versão corrente nos bastidores do Piratini sobre a postura do governo em relação à CPI dos Pardais: a base aliada teria interpretado como sinal verde uma declaração despretensiosa do governador Tarso Genro, na Federasul, de que era até bom que saísse a CPI. Como começaram a pipocar manifestações de aliados em favor da comissão, alguns estimulados pela ideia de que a investigação só seria danosa para os adversários, um dos estrategistas do governo advertiu:

– A oposição não tem discurso contra nós, só a ladainha dos CCs. O governo está bom e não está sob suspeita de nada. Se não estamos sob suspeita, por que vamos criar um problema para nós mesmos? Nosso governo não tem tempo para estar metido nesse rolo. Então, se quiserem fazer, eles (a oposição) que façam.

Rivalidade regional

No governo, há quem jure que o deputado Diógenes Basegio (PDT) propôs a CPI dos Pardais para enfraquecer o secretário Beto Albuquerque, já que PDT e PSB são rivais no Planalto Médio.

Basegio garante que não é nada disso: só achou que a Assembleia não podia ficar inerte diante das denúncias do repórter Giovani Grizotti.

O convite que será entregue na manhã de hoje pelo governo à Assembleia para participar da força-tarefa do Daer é mais uma pá de cal na CPI dos Pardais.

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