sábado, 7 de fevereiro de 2009



08 de fevereiro de 2009
N° 15873 - Cláudia Laitano

1001 Coisas para Fazer Antes de Morrer

Começou com livros, discos, filmes. Depois vieram os lugares, os paraísos ecológicos, os vinhos, as iguarias, as lojas para comprar sapatos e sabe-se lá mais o quê. A mania de fazer listas dos melhores disso ou daquilo é antiga, mas calhou de agora elas virem embaladas no ligeiramente macabro rótulo de “coisas para fazer antes de morrer”.

O apelo é sedutor, eu admito, tão sedutor que um desses volumes, o dos livros, repousa sólido e espaçoso em uma das estantes lá de casa – gozando provavelmente da mal-disfarçada antipatia dos volumes vizinhos que não fazem parte da lista. A relação começa nas 1001 Noites, inspiração numérica de toda a série, e acaba em Philip Roth e Ian McEwan. Entre eles, uma coleção de 998 histórias para conhecer antes que eu morra ou – o horror, o horror – perca o interesse ou a capacidade de ler.

À primeira vista, os volumes de listas desse tipo fazem por nós um importante trabalho de seleção. Em vez de sofrer a angústia de decidir-se entre tantas coisas para ler, ouvir, comer, beber, olhar, basta confiar nas escolhas de um sujeito que prepara a colheita por nós, enchendo nosso caminhãozinho de trigo para que a gente não perca tempo com o joio.

Mas o que era para ser um estímulo para usufruir as coisas boas da vida acaba soando como um lembrete pouco sutil de que é virtualmente impossível fazer tudo o que gostaríamos, ou deveríamos, no espaço mixuruca de uma vida humana. Em vez de 1001 Livros para Ler antes de Morrer o título mais apropriado seria Leia Aqui sobre as Dezenas de Livros que Você Nunca Vai Ler Porque Não Terá Tempo, Disposição ou Interesse Enquanto Estiver Vivo.

Seguir as listas de leituras ou viagens obrigatórias que outros já fizeram antes de nós com certeza poupa tempo e esforço de investigação. É uma atitude racional de quem não quer desperdiçar energia em roubadas – mas pode ser entendida também como o triunfo de uma certa visão utilitária da existência.

Como se uma vida bem vivida só se justificasse por meio de sensações extraordinárias que nós deveríamos perseguir com diligência e determinação durante todos os 45 minutos regulamentares da partida. O que dá uma certa preguiça antes mesmo de começar, não é mesmo?

Talvez minha bronca com essas listas seja essa ideia subentendida de que há um caminho predeterminado a seguir em tudo – mesmo naquelas coisas que a gente faz, teoricamente, apenas por prazer.

Aprender com a experiência alheia é importante, sem dúvida, mas muito mais divertido do que fazer 1001 coisas obrigatórias é ser surpreendido pelo acerto de uma escolha absolutamente aleatória e pessoal.

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