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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
03 de fevereiro de 2009 | N° 15868AlertaVoltar para a edição de hoje
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Efeito sem causa
Da safra recentíssima de escritores no Brasil, tem um que desponta como um talento com cara de duradouro: é Lourenço Mutarelli. Dele foi levada à tela uma história impressionante, em ótimo filme, O Cheiro do Ralo; agora, saiu um romance de excelente qualidade e, de lambuja, embalado por um projeto gráfico lindíssimo (de Kiko Farkas e Mateus Valadares). Se chama A Arte de Produzir Efeito sem Causa (Cia. das Letras).
Argumento: Júnior, 30 e tantos anos, volta a viver na casa do pai, que é viúvo e vive um apezinho de um quarto, que ele ainda subloca para uma estudante de Artes (divide com um roupeiro), num condomínio de incontáveis habitações, de classe média baixa, na São Paulo atual. Por que ele está ali?
Separou-se da mulher e do filho adolescente, por um motivo que não dá para contar aqui, para não estragar a leitura. Vida medíocre antes, agora e no futuro, nada que ele faça tem qualquer transcendência: o horizonte é curto, as possibilidades de emprego acanhadas, até o ar é pouco.
Sobra só o barulho da rua, dia e noite, e o visor de antigo videocassete piscando na noite. Esse horror diário, narrado sem autopiedade nem crítica fácil, é agravado: Júnior tem um irmão preso por envolvimento com drogas, e a falecida mãe não era nada fácil também, mas noutro sentido.
Até ali, Júnior trabalhava numa loja de autopeças, motivo por que a narração vai pontuando o relato de sua vida com elementos como “00959487. Tampa do distribuidor”, esparsos discretamente no andar daquela vida besta, que porém piora, quando ele começa a manifestar sintomas de um distúrbio da fala, não sei se afasia ou como se chama, que o faz perder a capacidade de nomear o que vê, sente e deseja.
Dito assim parece apenas um horror – e é; mas se trata de um horror excelentemente elaborado na prosa inventiva (e sem vanguardices) de Lourenço Mutarelli, que merece leitura.
Errata – Catorze dias atrás eu errei o nome da cidade onde nasceu Edgar Allan Poe: ele nasceu em Boston, como ficou definido para sempre numa dedicatória que sua mãe apôs a um retratinho para o filho, que mal conheceu (ela morreu quando ele tinha dois anos): “For my little son Edgar, who should ever love Boston, the place of his birth, and where his mother found her best, and most sympathetic friends.” E eu disse que era Baltimore. Desculpa aí.
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