Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
JOSÉ SIMÃO
Interlagos! Rubinho, bate no Hamilton!
Primeiro, o Rubinho vai ter que chegar perto do Hamilton. Aí ele erra e bate no Massa! Rarará!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Consumidor encontra bicho em lata de pêssego em calda em Santa Catarina!
Adivinha qual é o bicho? PERERECA! Perereca em calda. E foi a mulher dele que descobriu. O que você tá comendo: Perereca em calda. E corre na internet uma campanha nacional para o Massa ganhar. E o Rubinho virar herói nacional.
RUBINHO, BATE NO HAMILTON! Primeiro, o Rubinho vai ter que chegar perto do Hamilton. Segundo: aí ele erra e bate no Massa. Rarará.
Vai provocar engavetamento em Interlagos. E a melhor frase da Fórmula 1 é do Rubinho: "O azar me HONDA!". E hoje é Halloween! Chama o Serra!
O Serra Vampiro Anêmico! Manda ele levantar do caixão. Hoje é Dia das Bruxas. Chama a Marta. Não precisa nem de fantasia, só falta a vassoura! Pega emprestado o cabelo do Supla.
Ele parece um porco espinho oxigenado! E tem umas sapatas que todo ano comemoram o Halloween com uma festa chamada Rala-O-Hímen! Rarará! E sabe qual o endereço do Serra? Cemitério da Consolação, tumba 3, carneira 4. Rarará!
E bruxa é coisa de americano. No Brasil, tem um movimento pra trocar a bruxa pelo saci! Hoje é Dia do Saci! Pra comemorar, sabe o que o saci falou pra sacia?
FICA DE TRÊS! E dizem que o bom de namorar saci é que, se te der um pé na bunda, quem cai é ele! O melhor pé na bunda que existe é ver o outro caindo!
E olha a notícia: "Cortaram 70% das verbas do PAC!". O PAC fez POC!
Ou nessa versão: O PAC fez POC por falta de PIQUE, diz o professor da PUC! Rarará!
E as marias-gasolina que vão pra Interlagos, dão em cima de qualquer uniforme e acabam pegando o borracheiro. Quem se dá bem em Interlagos é o borracheiro! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
OU como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.
É que no Minho, em Portugal, tem uma placa indicando: As Caralhotas das Caldeiras. Rarará. Portugal é o berço do antitucanês, o Brasil só tropicalizou! Mais direto, impossível.
Viva o antitucanês. Viva o Brasil E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Acareação": companheiro que assina a "Caras". Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês.
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E, como diz o Rubinho: vai indo, que eu não vou!
simao@uol.com.br
Saramago usa elefante contra "inimigos"
O escritor português ataca igreja e capitalismo em nova obra, baseada em fato verídico, e defende reforma ortográfica
"Já vínhamos avisando que algo assim [como a crise global] ia acontecer. E agora o que vemos? Que aconteceu mesmo!"
DA ENVIADA A LISBOA
Saramago ainda se recupera de uma grave doença respiratória, que quase o levou embora no ano passado. Na dedicatória de "A Viagem do Elefante", ele homenageia quem parece tê-lo salvo do pior: "A Pilar, que não deixou que eu morresse".
Pilar é a jornalista espanhola com quem está casado há mais de duas décadas. Mais jovem do que ele 28 anos, é ela quem organiza seus dias, vigia o que sai na imprensa e cada passo de lançamentos e entrevistas do marido mundo afora.
Mesmo fragilizado, ele continua com a agenda cheia. Fala, viaja e mantém um blog (caderno.josesaramago.org). O casal passa temporadas em Lisboa, mas mora mesmo na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, na Espanha.
"A Viagem do Elefante" parte de um episódio verídico e inusitado. Em 1551, o rei português dom João 3º deu de presente ao arquiduque da Áustria um elefante indiano.
Uma caravana, que literalmente caminhava a passo de elefante, atravessou então boa parte da Europa para entregar o animal a seu destino, causando sensação nos povoados ao longo do caminho.
Afinal, tratava-se de um animal que as pessoas, na época, sequer sabiam como era.
Na comitiva, iam um comandante, um tratador de elefantes, soldados e bois. Homens e animais se observam o tempo todo ao longo da narrativa. "Quis usar o elefante como metáfora da vida humana.
Os homens não entendiam bem as reações e os sentimentos do animal, mas também talvez porque não entendessem os seus mesmos", diz o escritor.
Partindo de um exemplo da realidade histórica, Saramago aproxima-se do tipo de romances que escreveu nos anos 80, como "O Ano da Morte de Ricardo Reis" ou "História do Cerco de Lisboa".
Por outro lado, o livro é também uma grande fábula, como os que vieram a partir da década seguinte, como "As Intermitências da Morte", "A Caverna" ou o já citado "Ensaio sobre a Cegueira".
Igreja e capital
A obra traz provocações a seus inimigos de costume. Entre eles, a igreja. Num dado momento, a população de uma aldeia alerta o cura local de que algumas pessoas andavam dizendo que o elefante que por ali passava era uma representação de Deus, segundo os indianos. O padre resolve, então, exorcizar o elefante.
"A igreja, que, para efeitos propagandísticos, cultiva a modéstia e a humildade, nos comportamentos age com um orgulho sem limite. Por isso criei esse padre, que quer exorcizar um elefante, como se fosse possível imaginar o que vai ali pela cabeça do bicho e, por analogia, o que vai pela cabeça de um homem comum."
Já contra o capital, Saramago hoje posa com segurança devido ao cenário de crise global. "Algumas pessoas, entre as quais me incluo, já vínhamos avisando que algo assim ia acontecer. E agora o que vemos? Que aconteceu mesmo!"
A esquerda, porém, para ele, não tem como dar respostas à tragédia. "Não dá nem para dizer que há em processo a elaboração de uma alternativa."
Ortografia
Apesar de não querer saber de mudar seu modo de escrever, Saramago é um defensor do acordo ortográfico firmado entre países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que começará a entrar em vigor no Brasil em janeiro do ano que vem.
"Ele é necessário, mais para nós do que para vocês.
O Brasil é quem lidera o ensino e a divulgação da língua pelo mundo. Temos de nos adaptar, para o nosso próprio bem, para a sobrevivência da nossa cultura."
As novas regras vão afetar principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen. Em Portugal, onde haverá mudanças maiores, houve resistência por parte de intelectuais. "Tenho certeza de que com o tempo verão que a mudança terá sido benéfica."
Ele mesmo, porém, diz que não vai mudar sua escrita. "Os que forem revisar meus textos que o façam. Podem republicar meus livros dentro das novas regras, mas não serei eu a aprender, a essa altura da vida, um outro jeito de escrever." (SYLVIA COLOMBO)
Jaime Cimenti
Livro, Feira, leitores & Cia.
Eternos como o horizonte, os livros, os leitores, os editores, os livreiros, os distribuidores, os jornalistas, os pipoqueiros, os namorados, os desgarrados, os ocupados, os pombos, os desocupados, os mudos e os bocas-frouxas, os loucos e os menos loucos, e muitos e muita coisa mais estarão na Praça da Alfândega, cobertos pelo infinito céu, pelas milenares águas da chuva e, claro, envoltos nos ares democráticos do espaço público.
Tão certa e pontual quanto a primavera, a Feira do Livro chega para lembrar e avisar que a vida é boa, que continua, que passa rápido e que temos de aproveitar. Como falou Arnaldo Campos, a Feira, antes, cabia num olhar.
Em tempos de milhões de sons, imagens e palavras, hiperatividade, tagarelice desenfreada e clima maníaco-deprê pós-moderno, precisamos, agora, de milhões de olhos, ouvidos, narizes, dedos, línguas e percepções extrasensoriais para aproveitar tudo, todo o tempo, em todo lugar.
Como de costume, seremos, ao menos por uns dias, simpáticos polvos cheios de braços, abraços e livros. Vamos curtir as performances dos poetas que se acham mais importantes do que a poesia, vamos ouvir as matracas dos prosadores-24 horas, vamos fazer mil cursos, assistir a milhões de palestras e conversar centenas de assuntos com milhares de pessoas. Vai ser aquela overdose, mas da boa, de um monte de coisas.
Vamos acolher o choro inicial dos primeiros dias e o sorriso final dos livreiros, depois das vendas dos últimos dias. Depois a Praça voltará a ser de seus usuários de todo o ano.
Será mais silenciosa, mais calma e mais sem-graça. Silenciosa e calma, aliás, como deve ser a leitura de livros que trazem palavras, silêncios, poemas, cheiros, memórias, lugares, pausas, personagens e histórias inesquecíveis.
Desses livros que nos transportam para os infinitos espaços de liberdade, imaginação e fantasia e que nos levam a mundos e seres que vamos percorrer e encarnar sem precisar sair da cama, da poltrona, do pelego ou da rede.
Livros que não precisam falar alto, gritar e muito menos utilizar marketing agressivo ou mentiroso para dizer que o que mais importa são os livros verdadeiros, a imaginação vertiginosa, os leitores seduzidos e o tempo e a vida livres de cronômetros. (Jaime Cimenti)
Ótima sexta-feira e um excelene fm de semana para todos nós.
Jaime Cimenti
31/10/2008
Síntese de dois milênios de pensamento filosófico
Uma nova História da Filosofia Ocidental - volume l - Filosofia Antiga, de Sir Anthony Kenny, ex-presidente da British Academy, ex-pró-vice-chanceler da University of Oxford e atual presidente do Royal Institute of Philosophy, é o início de um projeto ambicioso.
A idéia é sintetizar mais de dois milênios de pensamento filosófico e vivificar as grandes mentes do passado. Kenny é um dos mais influentes pensadores da atualidade e nos oferece uma visão particular da filosofia ao conectar em uma única e acessível narrativa as várias escolas e idéias dos períodos antigo, medieval, moderno e contemporâneo.
O resultado dessa conexão é Uma nova História da Filosofia Ocidental, cujo primeiro volume foi lançado há poucos dias no Brasil.
Kenny já recebeu vários títulos de doutor honoris causa e escreveu muitos livros sobre filosofia da mente, filosofia da religião e história da filosofia, incluindo trabalhos populares e densos.
Publicada originalmente pela Oxford University Press, a obra tem uma organização inédita, com a apresentação do conteúdo de forma transversal, permitindo uma abordagem original da temática. No primeiro dos quatro volumes, o autor narra os séculos iniciais da filosofia e seu florescimento no mundo mediterrâneo antigo. Começa por um passeio cronológico por fatos do conhecimento - Platão e sua caverna de sombras, a ética de Aristóteles, a Cidade de Deus de Santo Agostinho, entre outros.
Para Kenny, a filosofia não trata de acumular informações, mas do entendimento, isto é, de organizar o que se conhece. Ele aprofunda tópicos nos quais acredita que ainda temos a aprender com nossos predecessores da Grécia clássica e da Roma imperial. Kenny estabelece, assim, as conexões necessárias entre o que cada filósofo pensava e examina o desenvolvimento da lógica e da razão, as idéias da antigüidade sobre física (por que as coisas acontecem), metafísica e ética e os primeiros conceitos sobre alma e Deus em uma análise crítica que nos ajuda a entender os pontos fortes e fracos de cada sistema filosófico.
Enfim, a obra realiza, com brilho, uma aproximação do leitor contemporâneo com os grandes filósofos do passado.
Malcom Schofield escreveu na Londo Review of Books: "Este genial e acessível livro apresenta e analisa com exemplar lucidez as mais importantes idéias e argumentos com os quais os antigos filósofos contribuíram para a maior parte das questões filosóficas.
A amplitude e beleza de seus inesperados exemplos são o triunfo do livro". Tradução de Carlos Alberto Bárbaro, 400 páginas, R$ 56,00. Edições Loyola, telefone 11-6914-1922.
31 de outubro de 2008
N° 15775 - PAULO SANT’ANA
Alienação dominante
Para decepção dos otimistas com relação ao Grêmio, tivemos uma noite trágica anteontem.
Sou acusado nas últimas semanas de ser pessimista com relação ao Grêmio.
Prefiro ser acusado de pessimista do que ser acusado de burro.
Otimismo com relação ao Grêmio é sinônimo de alienação.
Se o time do treinador Celso Roth não ganhou sequer um jogo fora de casa no segundo turno, como esperar que ele revire este valor essencial chamado tendência, como já tantas vezes expliquei?
Eu sou um estraga-prazeres dos otimistas e dos esperançados.
Aqui na redação de Zero Hora, existem dois desses alienados, o chargista Rekern e o Léo Gerchmann. São gremistas fervorosos, mas alienados. Não entendem nada de futebol, mas são gremistas. E, na sua fúria irracional, acham sempre que o Grêmio vai ganhar.
Faz dois meses que eles me dizem que o Grêmio vai ser campeão. E eu tento explicar a eles que esse seu vaticínio não se casa com a lógica: não pode ser campeão um time de pobre valor econômico e de paupérrimos valores individuais.
Não adianta, o Rekern é um dos maiores cabeças-duras que eu conheço. Ele passava por mim nos últimos dias e, sabendo-me pessimista, tocava flauta: “Como é bom ser líder!”.
Eu dizia ao Rekern, perguntem a ele, que o Grêmio não era líder de nada, que a utópica e ilusória liderança do Grêmio ia virar pó.
Acreditem, o Rekern e o Léo Gerchmann, como a maioria amassadora da torcida do Grêmio, apostam ainda que o Grêmio vai ser campeão. São uns alienados.
Eles não sabem que o Grêmio agora terá de fazer das tripas coração para entrar na Libertadores do ano que vem. Deve ficar fora.
Mas os alienados não querem nem saber disso, pouco importa a eles que o treinador Celso Roth não tenha tido nenhum gesto, nenhum impulso de reação à tendência trágica do desempenho gremista no segundo turno. O Grêmio veio desabando, declinando, sem nenhuma atitude enérgica do treinador e da comissão técnica para evitar o desastre que anteontem se consumou.
Sabem por quê? Porque Celso Roth e a comissão técnica são como a torcida, exatamente iguais, preside sua intelecção a mais completa alienação da realidade.
Só que assim como o meu pessimismo faz parte do meu DNA, o otimismo deles todos integra sua herança genética: eles acham que o Grêmio ainda vai ser campeão com este time ridículo.
E eu acho que o Grêmio está prestes a cair fora da Libertadores do ano que vem.
Na sua alienação, eles não viram que a tabela marca para domingo que vem São Paulo x Inter no Morumbi.
Pode alguém que não seja alienado imaginar que o Internacional vá querer ganhar ou empatar com o São Paulo domingo? Pode?
Este é um campeonato imoral em que alguns times jogam desmotivados e querendo perder contra alguns motivados até a goleada contra outros.
Este é um campeonato imoral em que, anteontem, o São Paulo foi beneficiado escandalosamente por um gol legítimo do Botafogo, anulado pela comprometida arbitragem.
E o sinistro Vágner Tardelli deu um pênalti inexistente a favor do Palmeiras contra o Goiás.
Mas os otimistas alienados nem cogitaram disso. São muito mais felizes do que eu os otimistas alienados. Pelo menos conseguem dormir à noite.
31 de outubro de 2008
N° 15775 - DAVID COIMBRA
Abaixo Machado de Assis!
Por Deus que o imeil que vou reproduzir abaixo é verdadeiro. Recebi-o dias atrás. É de uma aluna de um colégio particular de Porto Alegre. Ó:
“Olá. Estudo na oitava série. Tenho que fazer um trabalho de português sobre a presença da intertextualidade nos gêneros textuais e um deles são as crônicas. Gostaria de saber se você sabe de alguma crônica que tenhas feito com a presença da intertextualidade (polifonia) que possas me mandar. Desde já agradeço.”
Terminei de ler o imeil e fiquei parado, fitando o vazio. Assim permaneci por, sei lá, três, cinco, 10 minutos. Reli o imeil. “Presença da intertextualidade nos gêneros textuais”. E agora?
O que responderia para a pequena aluna em apuros com suas tarefas escolares? Doloroso dilema. Porque, na verdade, o burrão aqui não sabe o que é intertextualidade, quanto mais identificar sua presença nos gêneros textuais, seja lá o que forem eles.
Pior: a menina que me perguntou sobre intertextualidade e polifonia e tudo mais, ela está na oitava série. Quantos anos tem um aluno de oitava série? Quatorze? E já está lidando com a intertextualidade... Quer dizer: sou, realmente, um imbecil.
O problema é que suspeito existirem vários imbecis parecidos comigo. Gente pouco interessada na intertextualidade. Cultivo inclusive a desconfiança de que conhecer os meandros da intertextualidade talvez não seja exatamente útil para a imensa maioria das pessoas, mesmo aquelas que, como eu, ganham a vida escrevendo. Então, alguém aí me diga: por que uma aluna da oitava série está estudando esse troço???
Eis uma reflexão pertinente para um dia como hoje, de abertura da Feira do Livro. A leitura é o alicerce da Educação, todo mundo sabe disso. E todo mundo também sabe que o Brasil é um país que não lê. No Brasil, um livro que vende 2 mil exemplares é best-seller, e o número de todas as livrarias do país não ultrapassa o da cidade de Buenos Aires.
Vivemos numa nação em que grande parte dos habitantes não sabe interpretar o sentido de uma frase direta, sujeito, verbo, complemento.
Por que isso? Por causa da intertextualidade. Como podem falar de intertextualidade com alunos de oitava série? Ou de transitivo direto? Por favor! A estrutura do ensino no Brasil é formulada para que os jovens sintam nojo da palavra escrita.
Gramática, cruzcredo. O ensino da gramática devia ser vetado pelo menos até os últimos anos do segundo grau. Uma vírgula ou um acentinho, volta e meia, tudo bem, mas não me venham com pronomes oblíquos.
Dêem livros aos alunos. Que eles leiam o tempo todo. Leiam e interpretem, leiam e escrevam. E que os professores corrijam os textos e expliquem por que os corrigiram. Livros! Mas também não me venham com autores que escrevem destarte e outrossim.
Não estou falando dos piores do século 19, como o tal Joaquim Manuel de Macedo e sua insuportável Moreninha; estou falando do melhor: Machado de Assis.
Não empurrem Machado de Assis para menores de 16 anos, por favor. Se não quiserem lhes dar um Verissimo, que seja o Harry Potter, que seja O Código da Vinci. Não deixem as crianças ficar com raiva de livro!
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
ELIANE CANTANHÊDE
Cara a tapa
BRASÍLIA - Vencida a guerra da eleição, José Serra deveria enfrentar com igual ânimo uma outra batalha: a greve da Polícia Civil, que já dura mais de mês, pode piorar muito e se prolongar por um bom tempo, alastrar-se por pelo menos oito Estados e desabar no Congresso.
Está tramitando um projeto para equiparar os salários de policiais e promotores. O inicial de uns é de pouco mais de R$ 4.000, e o dos outros bate em R$ 18.000. A emenda é dessas que não passam, mas dão um suadouro danado.
A CUT e o PT aproveitaram o movimento e o embalo das eleições e das dificuldades de Marta Suplicy para tentar sitiar o Palácio dos Bandeirantes. Serra não só jogou a Polícia Militar contra a Civil, como tirou uma lasquinha ao denunciar na TV a motivação política.
Mas a eleição passou, e a situação não pode continuar como está, até com foto de policial estapeando motoqueiro. Negociação já!
Os policiais reclamam que recebem o menor salário da categoria em todo o país e exigem 15% de aumento agora, mais 12% em 2009 e mais o mesmo percentual em 2010.
A contraproposta de Serra, de 6,5% em janeiro de 2009 e mais 6,5% em 2010, pode até ser justa e razoável -talvez seja, talvez não-, mas o principal é que ela chegou tarde, com os ânimos exaltados e contaminados pelo confronto PT-PSDB. Não deixa de ser curiosa a ausência do secretário de Segurança, o...
Como é mesmo o nome dele? Até a defesa e o ataque via imprensa quem assume é a Secretaria de Gestão Pública. E Serra ficou na linha de frente, numa batalha em que não há vitória, mas pode haver derrota.
Ele deixou a coisa ir longe demais, e ela está fora de controle.
Confronto de gente armada nas ruas é bem diferente de uma queda-de-braço política "com esse pessoal da CUT e do PT". E pode se repetir.
Os delegados não têm cara no meio da multidão grevista, e a cara que está a tapa não é deles nem de motoqueiro. É a do próprio Serra.
elianec@uol.com.br
CLÓVIS ROSSI
O BC é o único certo no mundo?
SÃO PAULO - Relatório recente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) usou, pela primeira vez que eu tenha notado, a palavra "recessão" para falar da economia brasileira -aquela que estava "blindada" contra a crise externa, lembra-se?
Diz o Iedi: "Tão acentuados têm sido os efeitos internos e externos sobre o crédito aos agentes produtivos, que não se deve descartar a hipótese de a economia brasileira proximamente entrar em uma recessão.
Como cabe observar, se o crédito não era o único mecanismo indutor do crescimento do consumo e do investimento na economia brasileira, era, certamente, o mais importante".
Se há esse baita problema de crédito, deve-se fazer o diabo para injetar dinheiro na economia. O governo até vem fazendo um bocado nessa área, mas o Banco Central resolveu ontem andar na contramão de todos os BCs do planeta, ao manter os juros no obsceno patamar em que se encontram.
Não dá para entender. Basta ler a nota com a qual o Fed, o BC norte-americano, explicou a decisão de reduzir os juros de 1,5% para 1% ao ano.
Praticamente tudo o que está nela vale também para o Brasil, guardadas as proporções: "O ritmo da atividade econômica parece ter se desacelerado marcadamente, em grande medida devido a um declínio nos gastos do consumidor. (...)
A desaceleração da atividade econômica em muitas economias externas está prejudicando as perspectivas para as exportações dos EUA.
Além disso, a intensificação da turbulência no mercado financeiro provavelmente representará um constrangimento adicional sobre o gasto, em parte por reduzir ainda mais a capacidade de pessoas e negócios de obter crédito".
Se, nessas circunstâncias, comuns ao planeta, todo mundo reduz os juros, só o BC brasileiro acerta ao mantê-los?
crossi@uol.com.br
JOSÉ SIMÃO
Uau! Motoboy invade Salão do Carro!
Lula foi ao salão acabar com estoque de carro a álcool! Deve ter bebido todos os carros!
BUEMBA! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Salão do Automóvel!
O Lula foi ao Salão do Automóvel! Acabar com o estoque de carro a álcool! Deve ter bebido todos os carros. Ele não comprou os carros, ele BEBEU os carros. Rarará!
E quem mais vai ao Salão do Automóvel é motoboy. Querem ver os novos modelos de retrovisor que eles vão quebrar! "Olha aquele ali, mano, irado, todo prateado." Motoboys invadem o Salão do Automóvel.
E quebram tudo que é retrovisor. E Salão do Automóvel é sempre assim: carrão e gostosa. Só serve pra duas coisas: sentir cheiro de couro novo e lembrar como a mulher da gente é feia. Rarará!
Um amigo meu diz que vai pro salão pra ver duas coisas: o carro que comprarei e a mulher que comerei. Daqui a 20 anos! Todo mundo se apertando pra ver um carro que ninguém pode comprar.
Parece cachorro babando em máquina de frango de padaria. Aqueles carros rodando e a gente babando!
E sabe como se chama a Associação dos Motoqueiros? ABRAM! Abram caminho! Abram alas! E pelo preço dos carros, eu vou acabar comprando um jegue. Com tração nas quatro patas! Jegue off-road! Rarará!
Arrentina Urgente! Piada pronta: Maradona é o técnico da seleção argentina! Ele devia ser a bola da seleção argentina. E ainda lutar sumô com o Ronaldo Fofômeno! Socuerro!
A seleção argentina vai virar pó! Bem, a seleção de los hermanos tá uma droga mesmo. Droga? Chama o Maradona! Mas dizem que ele largou as drogas.
O único que ainda não largou as drogas foi o Dunga!
Pensei que Maradona era técnico em aspirador de pó. E eu acho que ele vai treinar gol de nariz. La Narigada del Maradona!
Narigada e Barrigada! Enfim: em vez de terminar a carreira, ele esticou. Rarará! Maradona vira técnico da Argentina e estica a carreira. Rarará!
Não chores por mim, Argentina, que amanhã é tu na latrina. E o Maradona devia ser técnico de sumô e arremesso de canudinho a distância.
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo de antitucanês.
É que aqui em Sampa tem uma loja de aspiradores de pó chamada O Feirão do Maradona. Mais direto, impossível! Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Ofuscar":companheiro que foi pro Salão do Automóvel comprar um fusca!
Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
simao@uol.com.br
O BRINQUEDO E SEUS SIGNIFICADOS
PATRÍCIA COSTA
Durante muito tempo, a criança era vista como um pequeno adulto, não se tinha a visão da infância, dos momentos e das fases que as crianças vivenciavam na sua formação, na sua construção como ser humano.
Tendo Freud sido um dos primeiros pesquisadores a observar e analisar a criança, ele percebeu que, com a brincadeira, a criança expressava algo que não conseguia expressar pela fala, como o adulto.
Vejo que na construção e na formação das crianças, nós, enquanto educadores, precisamos incluir na rotina escolar o brincar. Muitas são as escolas que ou excluem muito cedo esses momentos tão importantes ou oferecem somente uma brincadeira dirigida com alguma intenção pedagógica.
O brincar é algo que sempre foi natural e inato no mundo infantil... Nunca se precisou ensinar uma criança a brincar. E isso é muito importante para a sua formação e o desenvolvimento.
No mundo atual, onde o consumismo e a explosão de possibilidades invadem a realidade de nossas crianças, estas não conseguem desenvolver com os seus brinquedos um significado.
Vivemos em um mundo onde ter é o mais importante. Acabamos de comemorar o Dia da Criança e muitas receberam de seus pais mais um brinquedo, talvez o mais caro, ou aquele que saiu no comercial de televisão como lançamento.
Mas por que será que nós compramos, entregamos o presente em um ritual e logo depois aqueles pequeninos já não ligam mais para o objeto tão desejado?
Por que será que o quarto muita das vezes está repleto de coleção de carrinhos e bonecas, e nós não vemos nossos filhos viajarem na fantasia com nós fazíamos na nossa infância? Porque a quantidade de brinquedos adquiridos hoje é muito maior do que nas décadas passadas, afinal esse mercado infantil cresceu e muito.
Antigamente existia tempo para nos apegarmos a uma boneca e fazer dela a favorita, escolher aquele carrinho como o mais veloz e o qual não gostaríamos de perder.
Os nossos brinquedos tinham um significado, havia uma relação com eles... Eles representaram uma época de nossas vidas. Hoje estamos oferecendo demasiadamente às nossas crianças, talvez para nos livrarmos da culpa de não termos tempo ou vontade de brincar com nossos filhos.
Pense nisso, o mais importante não é o trenzinho que anda velozmente nos trilhos no meio da sua sala de estar ou o videogame que hipnotiza seu filho horas a fio.
Mas o que você deveria oferecer como presente é o seu tempo para compartilhar com o seu filho, a verdadeira brincadeira.
Ele não precisa do brinquedo mais caro, mas ele precisa da sua atenção.
educadora
SENSO DE HUMOR
– Parem com as piadas. A crise é séria. Muito séria. Temos uma crise mundial de conseqüências devastadoras. – Não estamos rindo, Henrique Meirelles. São nossos dentes batendo de medo de ter que trocar Miami pelo Rio.
– Bom, confesso, no meu caso, eu estava rindo de uma piada sem graça. Na lápide de Marx estaria escrito 'quem ri por último, ri melhor'. É idiota. Mas faz rir. Não? – Não acho graça alguma nisso – diz Meirelles.
– É, eu também não. Mas, se me permitem certa fraqueza e franqueza, estou me lembrando de todos os pacotes econômicos que apresentamos com um sorriso enquanto boa parte da população não achava graça alguma naquilo. – Sim, lembram quando o Collor confiscou a poupança e nós apoiamos?
É claro que eu pude tirar meu dinheiro antes. – Não sejam patéticos. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Essas crises são inerentes ao sistema capitalista. – Pode ser. Mas não deixa de ser chato ter de recorrer ao Estado e dar tantos argumentos a esses esquerdistas chatos.
Vejam só o despautério do presidente da República querendo estatizar bancos e se tornar sócio de construtoras e de empreiteiras. Será que ele ainda não aprendeu que o Estado funciona mal na economia?
– Isso mesmo! O único jeito é nos ajudar com bons financiamentos, em nome do interesse geral, e deixar a gente tocar o negócio para evitar corrupção, incompetência administrativa e uma quebradeira geral. Henrique Meirelles ouve de cara amarrada.
– Sim, onde o Estado mete o bedelho, dá tudo errado. – É o que eu sempre digo: a que Estado chegamos.
– Chegamos a um Estado terrível em que, apesar dos lucros sempre crescentes dos nossos bancos, temos de mendigar ajuda estatal. Esse é um precedente terrível.
Depois esses esquerdistas vão querer se vingar nos fazendo pagar impostos que se perderão na cobertura das dívidas de uma máquina mal gerida, inchada e com expectativas artificiais. Não entendo os economistas que trabalham para o Estado, nunca acertam uma. É muita inépcia.
– Meirelles tem razão. Não dá mais para ficar ouvindo essas piadinhas de mau gosto sobre privatização de lucros e socialização de prejuízos. Isso é coisa de leigo, de quem não tem responsabilidade e não sabe o que diz. – Claro, evidentemente, estamos todos no mesmo barco.
– Sim, nós em iates e eles em jangadas e canoas. – Já disse para pararem com essas piadas idiotas.
– Desculpa, Meirelles, essa me escapou. É que, às vezes, sou daqueles que perdem o capital, mas não a piada. – Muito engraçadinho. Só que o nosso transatlântico está afundando. Somente a cooperação de todos vai nos salvar para que possamos retomar o espírito de competição e salvar os nossos salvadores pela livre iniciativa.
– É, precisamos de um máximo de Estado agora para garantir um Estado mínimo assim que a crise passar. – Talvez tenhamos de fazer muitas demissões agora e aprender a trabalhar no futuro com equipes muito menores.
– A saúde do capitalismo depende de mais produtividade e mais competividade com empresas enxutas e ágeis. – Como dizia Lênin, vamos dar um passo atrás para poder dar dois passos à frente. Eis o estado das coisas.
juremir@correiodopovo.com.br
30 de outubro de 2008 | N° 15774
LETICIA WIERZCHOWSKI
Verdades sem autoria
Não costumo ler textos que circulam pela internet, mas um deles me pegou. Falava sobre os sustos e maravilhas que nos acompanham a partir do momento em que geramos uma vida.
Não sei quem é a autora, mas ela é mãe. Toda mãe já deixou de fazer uma viagem porque o filho amanheceu doente, já quis fugir de uma reunião porque a saudade do seu bebê tornou-se insuportável.
Enfim, toda mãe já descobriu a sensação de não ser mais dona de si mesma, como se o coração da gente batesse em outro corpo. Lá pelas tantas, o texto falava “a decisão de um menino de cinco anos de ir ao banheiro masculino ao invés do feminino se tornará um enorme dilema”.
Quem acompanha as notícias sabe que um molestador de crianças pode estar em qualquer lugar, e que devemos estar atentos aos nossos filhos, não importa onde, e nem a classe social das pessoas que estão ao nosso redor.
Eu pratico natação diariamente, e trouxe meu filho para o esporte, de modo que vamos juntos ao clube duas vezes por semana. E, duas vezes por semana, administro o mesmo problema.
No vestiário feminino, existe um aviso de que “meninos com cinco anos ou mais devem usar o vestiário masculino ou o banheiro familiar”. Acontece que o clube tem apenas um banheiro familiar e individual para mães, e por não ser de passagem – as crianças tomam banho após a natação – o rolo está armado, e a fila também (pensem nos dias frios...).
Crianças com cinco anos não têm autonomia para se banharem sozinhas. Elas não sabem se lavar, escorregam no sabonete, se vestem mal e esquecem coisas.
Principalmente, como bem citou o texto da internet, não concebo que uma mãe fique tranqüila em deixar seu menininho banhar-se entre homens adultos desconhecidos.
Assim, o que fazer? Nesses anos de convívio em vestiários, vi muitas senhoras incomodadas com a presença de meninos “grandes demais”. Qualquer pai sabe que uma criança de seis, sete anos, não tem maldade.
E, se os meninos são mal vistos entre as mulheres, o que dizer de um pai com a sua menininha entre os marmanjos do vestiário masculino? Questões, enfim. Questões que podem parecer tolas para alguns, mas que são fundamentais para aqueles que acompanham as atividades dos filhos.
O clube que eu freqüento, infelizmente, coloca crianças e adultos em situação de conflito por causa de um simples banho quente. Num lugar onde a direção não se responsabiliza nem pelos “objetos de valor deixados na rouparia”, o que dizer dos nossos filhos?
O meu é que não vai se expor às fatalidades. Pelo menos, não às óbvias.
30 de outubro de 2008 | N° 15774
PAULO SANT’ANA
Bem e mal de mãos dadas
Há fatos que só ocorrem no Rio de Janeiro, mas, como é certo que em seguida serão copiados no Estado, eu fico sempre atento a eles.
Como se sabe, lá no Rio de Janeiro foi instituído um tipo estranho de entidade, algo assim como um ser hermafrodita, criado para defender o bem e o mal ao mesmo tempo: a milícia.
As milícias foram criadas informalmente nas favelas. E tinham como objetivo defender os moradores das favelas do domínio de opressão exercido pelos traficantes sobre eles.
Mas as milícias se tornaram organizações fortes, constituídas quase sempre de policiais e ex-policiais, também de agentes penitenciários.
E logo se transformaram em organizações perversas, que a exemplo dos traficantes cobram dos moradores das favelas taxas para protegê-los.
Em seguida, as milícias passaram a assaltar e matar, além, é claro, de associar-se a traficantes.
Quando se viu, as milícias estavam sendo procuradas pela polícia para responder por crimes os mais hediondos.
Estava preso até o início desta semana no Presídio Bangu 8, um dos mais importantes do Rio de Janeiro, um chefe de milícia: o ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, o Batman.
Ele responde a três processos na Justiça por formação de quadrilha e a pelo menos quatro processos por homicídio.
Estava preso o Batman. Porque não está mais. Segunda-feira passada, entrou no sólido complexo penitenciário um Palio branco que conduzia dois homens, supostamente agentes penitenciários, que foram até uma das galerias e trouxeram Batman, sob o pretexto de transportá-lo até um hospital penitenciário que fica a um quilômetro do presídio, onde seria atendido.
Não se sabe como os homens que resgataram Batman se informaram de que ele teria de ir ao hospital, não se entende como eles se atravessaram no atendimento nem como penetraram no presídio.
O fato é que Batman foi retirado da prisão pela porta da frente, com escolta armada, num rapto e numa fuga espetaculares, diante de toda a segurança penitenciária, que certamente não foi feita de boba, ela tinha conhecimento daquele resgate.
Ou seja, o aparelho penitenciário estava corrompido pela quadrilha do resgate, em parte, a outra parte teve medo dos poderosos que levaram a efeito a bombástica manobra.
Assim é o Rio de Janeiro e assim se prepara para ser, por osmose, o Brasil: os mesmos criminosos que detêm por supremacia as chaves das favelas empunham também as chaves da prisão.
Não se sabe mais quem é polícia ou bandido na cidade, muitas vezes eles desempenham duplamente os mesmos papéis.
A Justiça, distante do calor dos fatos, é lograda e se torna indefesa. A população é praticamente governada pelo mal.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
JOSÉ SIMÃO
Bolsa! Vou aplicar tudo em piranhas!
Um amigo vai aplicar em inferninhos, em piranhas! Porque lá a bolsa roda, mas não cai!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Sabe como se chama o ministro das Obras Públicas da Bolívia? COCA! Oscar Coca. Y ahora, direto de Bolívia, senhor Coca! A gente exporta piada pronta, e eles exportam coca sem gás.
E recado dos leitores pra Marta Martox: agora relaxa e agüenta a GOZAÇÃO! Agora vai animar festa infantil como Vovó Donalda. Tá com bicão de pato! Aliás, tá com bicão de chuteira Conga! Rarará!
E o efeito Kassab: recebi um e-mail com o título "filhos, tê-los ou não tê-los". E aí aparece a foto do SUPLA! Rarará! E a Hebe em Dubai? O SBesTeira tem que reprisar! A Hebe em Dubai é pleonasmo!
Ela é um Dubai ambulante. Perua dourada! Tinha mais jóia pendurada no pescoço da Hebe do que no Mercado do Ouro! Um amigo me disse que a Hebe em Dubai parece aqueles animais em extinção que são devolvidos pro habitat.
A Hebe foi devolvida pra Dubai! E ela subindo no camelo?! Superou a Dercy! Dubai é a Bagdá do século 21. Aliás, o Maluf devia ir pra Dubai e trocar a dona Sylvia por cem camelos. Rarará! E passar um monte de sheik sem fundo!
E a crise? Um amigo meu vai aplicar em inferninhos, em piranhas! Porque lá a bolsa roda, mas não cai! O Bahamas vai abrir o capital?! E um outro vai aplicar em ação de despejo. Vai despejar a sogra e o cunhado desempregado.
E adorei a charge do Nani: "Com essa crise, já tem americano entrando como clandestino em Governador Valadares". Pior, já tem americano fugindo pra Cuba.
E essa notícia: "PSDB do Rio decide futuro dos tucanos infiéis". E existe tucano que não seja infiel? Olha o Serra Vampiro Anêmico!
Se o Alckmin se candidatar a síndico de casa de boneca, ela apóia o adversário! Rarará! E como eu disse ontem: o que o Kassab vai fazer para resolver os problemas do trânsito?
Ele vai ter que empurrar com a barriga! É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo hilário de antitucanês.
É que em Cristianópolis, Sergipe, tem um motel chamado HORA DO LANCHE! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Incontinência urinária": companheiro que bate continência com o pingolim. O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza.
Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai indo que eu não vou!
simao@uol.com.br
Celular toma lugar de "flanelinha"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BERKELEY
Em San Francisco, a internet e o telefone celular serão os "flanelinhas" do sistema de trânsito local.
A cidade está instalando em suas ruas uma rede de sensores que vai indicar em um site, em tempo real, a existência de vagas de estacionamento. Entre junho e julho do próximo ano, os motoristas já poderão procurar em seus celulares a vaga mais próxima para estacionar.
O plano visa reduzir o congestionamento e a emissão de monóxido de carbono causada por motoristas que circulam enquanto não conseguem achar vagas para seus veículos.
Serão espalhados 7.000 sensores nas vagas de ruas e mais 11,5 mil em espaços fechados de seis regiões, cobrindo 30% dos parquímetros da cidade.
Os sensores formarão uma rede sem transmissor central de dados, permitindo que cada sensor seja um transmissor em potencial.
Alimentados por duas pilhas cada um, os sensores ficarão dentro de um quadrado de plástico sobre o asfalto. O sensor funciona ao perceber uma mudança no campo magnético causada por um bloco de metal. Cada sensor funciona entre cinco e dez anos com um único par de pilhas.
Com os sensores, San Francisco também espera melhorar o aproveitamento dos seus parquímetros, que no ano de 2007 renderam diretamente à cidade US$ 30 milhões e mais US$ 90 milhões em multas.
Os sensores poderão estabelecer o preço do parquímetro de acordo com a demanda por vagas em determinado momento e avisarão aos fiscais de trânsito quando uma multa deve ser aplicada. Os motoristas terão como opção utilizar o cartão de crédito para realizar os pagamentos.
San Francisco possui uma frota de 474 mil veículos e ainda recebe mais 35 mil veículos durante o horário comercial.
O plano para aliviar as artérias da cidade ainda está em caráter experimental. Chamado SFPark, ele custará US$ 23 milhões e terá duração de 18 meses.
Especialistas, no entanto, acreditam que a facilidade para encontrar estacionamento possa ter efeito contrário. Os "flanelinhas" eletrônicos atrairiam mais motoristas para as áreas de movimento já intenso, causando mais congestionamento e poluição. Brigas entre motoristas pela "última vaga" também não são um cenário impossível.
Jay Primus, diretor do projeto, refuta essas idéias. Ele diz que a cidade vai manter a mesma oferta de vagas, com a diferença de que será mais fácil encontrá-las. De acordo com ele, a cidade vai usar os preços para controlar a demanda. (BR)
CLÓVIS ROSSI
A Volks e o cassino
SÃO PAULO - Você abre o jornal de manhã e ousa percorrer a coleção sem fim de tragédias que é, hoje, o noticiário econômico. Lá na undécima página, fica sabendo que a Volkswagen vai conceder férias coletivas de dez dias para 1.800 funcionários da unidade de São José dos Pinhais (PR).
Aí, pensa, distraído: "Vixe, essa empresa está indo pro vinagre".
Que nada, companheiro. É justamente o contrário: pelo menos ontem, a Volks (a mundial) tornou-se a companhia de maior valor de capitalização no planeta (ou seja, o valor de todas as suas ações na Bolsa de Valores superou o de qualquer outra instituição, inclusive a portentosa Exxon).
Como é possível, se a indústria automobilística é a segunda maior vítima da crise global, logo atrás da construção/imóveis? Trata-se apenas de um exemplo "das distorções que se produzem hoje em dia nos mercados", diz Juan José Ruiz, o economista-chefe do Santander (na Espanha).
Se, em vez de distorções, falasse em cassino, estaria mais perto da realidade. Acontece que "hedge funds", esses que vão apostando em vários ativos, para defenderem-se de eventuais perdas em um deles, decretaram que as cotações da VW permaneceriam em queda. Aí vem a Porsche e anuncia que quer aumentar a sua fatia na Volks.
O pessoal dos "hedge funds" correu desesperado para cobrir suas posições e cada ação da montadora voou dos 210 da sexta-feira para 1.005 em dado ponto de ontem.
Uma coisa, portanto, é a vida real, em que férias coletivas significam queda nas vendas. Outra coisa, bem diferente, é o cassino, em que férias coletivas nada significam.
É por isso -entre outras mil razões- que, cada vez que vejo economista fingindo que faz análises lógicas sobre o mercado, levo a mão ao coldre. Não que tenha um revólver, mas, nessas horas, dá vontade de ter.
crossi@uol.com.br
29 de outubro de 2008
N° 15773 - MARTHA MEDEIROS
O anjo e o diabo
A cena é recorrente em desenhos animados e filmes publicitários. Uma pessoa está na dúvida entre seguir um caminho ou outro. Subitamente, escuta a voz de um anjinho assoprando boas dicas em um de seus ouvidos.
No instante seguinte, escuta a voz de um diabinho recomendando selvagerias. O anjinho geralmente está certo, mas as dicas dele são desprovidas de adrenalina. O diabinho geralmente está errado, mas possui idéias excitantes. A quem obedecer?
O anjinho diz para um cara: “Que história é essa de sair do trabalho no meio da tarde? Você sempre foi responsável, não coloque em risco sua boa imagem por causa de uma aventura”.
O diabinho contra-argumenta: “Ninguém vai morrer se você sair mais cedo – e a bonitona que você conheceu quer pegar um avião logo mais à noite: e se ela for a mulher da sua vida?”.
O anjinho: “Esquece isso, você perderá a chance de ser promovido por causa de uma escapulida que vai pegar supermal com seu chefe” .
O diabinho: “Seu chefe não tem aquelas pernas!!”.
O anjo e o diabo brigam incessantemente, e essa é uma das razões pelas quais a vida pode ser divertida: se a gente tivesse certeza de tudo, qual seria a graça?
Eu geralmente sigo os conselhos do meu anjo porque ele enxerga a longo prazo. O diabo tem mais humor e mais ousadia, mas ele não prevê conseqüências, vive o agora, o imediato: sempre acha que vamos morrer amanhã. Não é diabo à toa.
São dois grilos falantes que não decidem por nós, mas nos ajudam a tomar atitudes razoavelmente equilibradas. Geralmente eu aproveito um pouco do que cada um deles me sussurra e transformo em outra coisa, em um terceiro pensamento: o meu.
Essa história de anjinho e diabinho me veio à cabeça por causa do Lindemberg, o sujeito que manteve em cativeiro as meninas Eloá e Nayara no seqüestro mais destrambelhado do ano.
Ao se comunicar com os policiais, ele avisava que tinha um anjo e um diabo orientando-o. Pode-se imaginar que o anjo pedia que ele liberasse as meninas, enquanto que o diabo lhe sugeria detonar com tudo.
A gente sabe a quem ele deu ouvidos. Nem ao anjo nem ao diabo, pois são apenas duas figuras metafóricas da nossa consciência, e que consciência tinha aquele desajustado? Ele seguiu a orientação do seu abandono.
Agiu conforme o que recebeu da vida: um pai e uma mãe que por nenhum momento deram as caras, nem durante, nem depois do seqüestro, e pior: tudo indica que nem antes.
Anjinhos e diabinhos nos divertem e instigam, mas a gente conduz nossos atos, a sério, de acordo com os sussurros que nos chegam da infância. Se não vem nada de lá, só nos resta detonar com tudo.
O meu anjo está avisando que não posso perder o show do Frejat, sexta, dia 31, na Reitoria da UFRGS, ainda mais que seu disco novo, Intimidade entre Estranhos, traz nossa primeira parceria musical.
Adivinha o que o diabo me sussurrou: que vai também! Então, todo mundo lá.
Aproveite a quarta-feira - Namore - Ame - Uma ótima quarta-feira a todos nós.
29 de outubro de 2008
N° 15773 - DIANA CORSO
Amores brutos
“Quem ama não mata”. Essa era a frase das feministas, décadas atrás, protestando contra a matança de mulheres pelos seus homens. A afirmação é convincente, mas será que se trata de amor nesses casos?
O Brasil inteiro assistiu a jovem Eloá, 15 anos, ser seqüestrada e assassinada pelo seu ex-namorado Lindemberg, 22 anos. Sobre as trapalhadas policiais que redundaram no desastre só teria a opinar que a atuação sistemática de algum psi (psiquiatra, psicólogo, psicanalista) nas negociações teria melhores chances do que o telefonema da Ana Maria Braga.
O amor não é desinteressado, só dizemos “eu te amo” para ouvir, no mínimo, “eu também”. Amamos para ser amados, mas as relações amorosas possibilitam também a construção e o reconhecimento da identidade sexual: só serei homem ou mulher de verdade se houver alguém que me deseje, que satisfaça seus anseios em mim e comigo.
Na lógica masculina mais corrente, uma mulher que está satisfeita na relação confirma a virilidade do parceiro. Se ela o deixa, é como se lhe negasse a potência, se o substitui, é como se ele perdesse a disputa, comparado ao novo amor.
Por isso os homens podem ficar bem violentos nos fins dos relacionamentos ou em uma simples cena de ciúme: está em jogo sua identidade. Para certos homens, fraquejar em sua potência não é um tropeço, pode ser vivido como uma ameaça de destruição.
Por isso, muitas vezes, aquele que foi traído mata a mulher, eliminando aquela que deveria mantê-lo homem, mas fez o contrário. O fato de sua mulher gozar com outro seria, para esses machos, o mesmo que feminilizá-los, submetendo-os ao domínio do novo escolhido.
A atitude de Lindemberg baseia-se nessa lógica. Ele promoveu uma encenação patológica, acompanhada pela audiência em tempo real, daquilo que deveria manter-se apenas na fantasia.
Ele matou Eloá pelas razões acima: ela não devia seguir vivendo sem amá-lo e jamais deveria entregar seu coração para outro homem.
Óbvio que uma menina de 15 anos sequer suspeita que sua vida amorosa possa tomar esse rumo. Quanto a nós, que vimos o rapaz demarcar seu território viril como um bicho furioso e acuado, podemos tentar compreender, sem jamais perdoar, a fonte dessa loucura.
Além de perguntar-se sobre a segurança, o papel do Estado, da polícia, da mídia, da família, vale no mínimo questionar-nos por que, para certos homens, sua identidade é algo que pode se decidir na ponta do cano do revólver.
Esse nunca nega fogo, não brocha e, infelizmente, não há dúvida: Eloá nunca pertencerá a outro homem.
29 de outubro de 2008
N° 15773 - PAULO SANT’ANA
Sobre engarrafamentos
Recebi de dois secretários municipais esclarecimentos sobre as colunas que tenho escrito a respeito de engarrafamentos nas vias de Porto Alegre:
“Prezado Sant’Ana. Em relação à coluna de hoje, 28, encaminhamos os esclarecimentos necessários para o melhor entendimento das questões de mobilidade em Porto Alegre e os projetos da administração municipal para o enfrentamento dos problemas apontados, sendo desnecessária qualquer alusão à figura do prefeito reeleito José Fogaça.
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a dinâmica da cidade, produzida pelas atividades econômicas, constitui-se em fato absolutamente distante de qualquer ingerência do poder público municipal.
Trata-se, portanto, de relação de ordem privada entre empregadores, empregados e consumidores/usuários, embora a atual gestão não se exima de promover um diálogo propositivo com os vários segmentos, no sentido de minimizar os impactos na vida da cidade (é uma alusão sobre a proposta do colunista para que se modifiquem os horários de funcionamento dos serviços públicos e particulares).
No caso específico de Porto Alegre, ficou ainda mais evidenciada, no recente processo eleitoral, a necessidade de se promoverem melhorias em termos de circulação e mobilidade, sendo que a nossa proposta contempla a execução de 15 obras viárias de impacto para a solução dos problemas já amplamente conhecidos.
É evidente também a necessidade de melhoramentos na circulação da Terceira Perimetral, assim como a racionalização do transporte coletivo por ônibus, reduzindo-se os impactos ambientais e principalmente urbanísticos que hoje caracterizam as ruas e calçadas do Centro, produzindo desconforto e insegurança aos usuários e pedestres.
Por outro lado, já está em operação há pouco mais de 40 dias a Central de Controle e Monitoramento da Mobilidade, coordenada pela EPTC, que possui 13 câmeras instaladas em 12 cruzamentos críticos de vias estruturais, com o objetivo de antecipar necessidades de alteração dos tempos dos semáforos para evitar o acúmulo de veículos nos cruzamentos.
O uso intensivo de tecnologias permite ações rápidas quando de ocorrências nas vias e particularmente nos cruzamentos. Apreciaríamos sua visita para conhecer de perto esse avanço em termos de monitoramento do tráfego.
A prefeitura tem inovado também na busca de alternativas visando ao transporte sustentável, como é o caso do Plano Diretor Cicloviário, em tramitação na Câmara de Vereadores, e que identifica 450 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas a serem construídos em Porto Alegre.
Ainda no mês de novembro, será entregue a primeira ciclovia prevista no plano, que está sendo finalizada, juntamente com a duplicação da Avenida Diário de Notícias, como contrapartida ambiental pela construção do BarraShoppingSul.
A busca de recursos na forma de contrapartidas de empreendimentos vai permitir à prefeitura ampliar os investimentos necessários para a implantação da rede de ciclovias, como deverá ocorrer em breve na Avenida Ipiranga, com a construção de uma ciclovia até o campus da PUC. Além disso, no orçamento de 2009 já foram alocados recursos suficientes para construir cerca de 18 quilômetros de ciclovias identificados como prioritários no plano.
Cabe destacar ainda os esforços empreendidos para qualificar o transporte público, seja pela implantação da bilhetagem eletrônica, seja pela integração de todos os modais de transporte de Porto Alegre e da Região Metropolitana – aí incluídos o trensurb e a futura linha 2 do metrô –, seja ainda pelas melhorias expressivas representadas pela implantação do projeto Portais da Cidade, um novo sistema de circulação e transporte para o centro da cidade.
Por fim, julgamos importante ressaltar que as melhorias no trânsito não resultam apenas das iniciativas do poder público, mas de um somatório de fatores que passam pela cooperação da sociedade, por ações de educação e conscientização de motoristas e pedestres, em uma convergência de propósitos para que a cidade avance na conquista de uma melhor qualidade de vida.
Certamente é isso que todos almejamos.
Sempre atentos às tuas observações e colaborações, ficamos à disposição para outros esclarecimentos que julgares necessário. (ass.) Virgílio Costa – secretário municipal de Gestão e Acompanhamento Estratégico, e Luiz Afonso Senna – secretário municipal de Mobilidade Urbana/EPTC”.
29 de outubro de 2008
N° 15773 - DAVID COIMBRA
O curso de datilografia
Houve época em que as pessoas faziam curso de datilografia. Com máquina de escrever, e tudo mais. Tratava-se de algo até meio obrigatório, o curso de datilografia.
Nos anúncios de emprego sempre ficava sublinhada a exigência do curso. Sem curso, melhor nem se candidatar. Então, fi-lo. Não porque qui-lo; por ser indispensável.
A professora era uma freira de uns 125 anos de idade. Andava por entre as mesas muito sisuda dentro daquela roupa preta, sempre ressaltando a importância da datilografia para o futuro de uma pessoa.
Rosnava que a datilografia era fundamental para qualquer profissão, do presidente da República ao gari, que nenhum ser humano podia ser feliz sem a datilografia, que, se não aprendêssemos a datilografar, nunca conseguiríamos emprego em lugar algum.
– Nunca! – sublinhava, com voz roufenha. – Nunca! Nunca! Nuuuuncaaaaa!
Acho até que dava uma risada de filme de terror. Ou pelo menos eu imaginava que dava. Ela estava sempre em cima da gente, insistindo para que usássemos os 10 dedos para datilografar, para que não olhássemos para o teclado. Um dia, cobriu as teclas com fita isolante. Foi horrível.
– Mostrem do que são capazes! – urrou.
Aquilo tudo me deixava nervoso. Imaginava-me morando sob os viadutos da cidade, andrajoso, pedindo esmolas, desempregado pela eternidade, porque não datilografava. Considerava a datilografia nada mais do que uma atividade manual, era revoltante que fosse tão importante. Mas todo mundo dizia que era.
As pessoas comparavam o número de palavras que batiam à máquina por minuto e contavam histórias datilográficas. Uma secretária de dedos velocíssimos e precisos ganhava um salário nababesco do Banco do Brasil; o tio de alguém datilografava apenas com os indicadores, mas com tanta rapidez que saía fumaça da máquina.
Os lentos eram alvo de chacota, chamados pejorativamente de “catadores de milho”. Oh, eu sentia muito medo de ser considerado um reles catador de milho. Por qualquer razão, vinha um e me perguntava se já sabia datilografar.
Eu gaguejava na resposta. A verdade é que decorei aquilo do a-essedê, efegê; cecedilha-elecá, jotagá. Tinha pesadelos com essa maldita seqüência. Mas, confesso, ainda não sabia datilografar direito. Que situação, que tormento.
Aí consegui emprego no escritório da JH Santos, uma loja de departamentos.
– Sabe datilografar? – perguntou-me o chefe, na entrevista. Eu: – Claro! Tenho curso!
Decidi que na hora daria um jeito. A hora surgiu já no primeiro dia. Vieram-me com, segundo eles, um documento importantíssimo:
– Bate aí. E sem erros!
E lá estava eu, em frente à Remingtona, com aquele documento importantíssimo nas mãos. Lembrei-me da freira. A-essedê-efegê, cecedilhaelecá-jotagá. Meu futuro estava em jogo. E agora?
Comecei a bater à máquina. Na primeira linha, perdi o b. Fiquei procurando. Onde havia se metido o bê? Que rebeldia era aquela? Percebi que os colegas estavam me olhando. Me deu uma angústia. Será que achariam que era um catador de milho?
Será que devia deixar o bê para mais tarde? Encontrei-o, enfim. Mas cometi um erro logo após teclá-lo. Foi o primeiro de muitos. Em seguida, cometi outro. E outro. E outro. E mais outro. Cristo! Nenhum Errorex poderia me salvar. Fiquei vermelho. Suava.
As pernas estavam bambas, parecia que tinha maionese em lugar dos ossos. O chefe foi conferir o trabalho. Deu uma espiada sobre meu ombro. Torceu o nariz:
– Tu não disseste que era datilógrafo?
Puxou o papel da máquina. Temi ser demitido no ato, mas ele resolveu ser condescendente.
– Melhor desistir. Vou achar outro serviço pra ti. Um que não precise bater à máquina.
Aquilo me encheu de vergonha. O opróbrio!, pensei. A desgraça! Como poderia olhar nos olhos dos meus amigos, depois de fracasso tão rotundo? Levantei-me de um salto.
– Não! – gritei. – Me deixa tentar de novo! Datilografarei! Por Deus que datilografarei!
O chefe vacilou, com o documento importantíssimo entre o indicador e o polegar, mas, depois de pensar um pouco, devolveu-o para mim. Bati mais três vezes.
Na quarta, saiu perfeito. Entreguei-o vitorioso para o chefe, que fez um arram de aprovação e se foi para o seu gabinete com o papel imaculado na mão. Naquele dia, tornei-me um datilógrafo. Não hesitava mais. Não catava milho. Confiança, era disso que precisava.
O mesmo que precisa qualquer time de futebol. A confiança que só vem com a vitória. É por isso que vitórias se somam a vitórias. É por isso que, mesmo jogando mal, o importante é vencer, como fez o Grêmio na última rodada e como terá de fazer hoje: vencer de qualquer forma.
Sei que o Grêmio poderá vencer hoje, ainda que quase nunca vença o Cruzeiro no Mineirão. Exatamente porque o Grêmio está mais confiante do que o Cruzeiro.
O que não sei é como eles fazem hoje, todos esses jovens e até crianças que passam o dia sobre teclados de computador. Hoje não há mais freiras dando cursos de datilografia. Hoje nem existe mais datilografia. Como eles aprendem? Sozinhos???
Isso quer dizer que eu não precisava fazer curso de datilografia??? Que aqueles dias de aflição foram em vão??? Que nem nas freiras se pode confiar??? Quanto sofrimento desperdiçado, meu Deus!
terça-feira, 28 de outubro de 2008
VINICIUS TORRES FREIRE
A bordo do trem fantasma
Brasil e real são passageiros involuntários do trem louco, desgovernado e descarrilado das moedas pelo mundo
A BOVESPA caiu menos neste ano que as Bolsas de Rússia, China, Índia e de Hong Kong. Sangra quase tanto como a de Alemanha, Japão, Coréia e Cingapura.
E daí? Embora a relevância da Bovespa para a economia e para a poupança brasileiras tenha crescido muito após 2003, no Brasil, como na China, por exemplo, os tombos das ações ainda não têm o impacto de um derretimento em Nova York ou em Tóquio. Além do mais, nenhum índice de ações reflete pontual e necessariamente as perspectivas sobre o estado da economia e das empresas -o Ibovespa ainda menos.
Mas a Bolsa de São Paulo tem sido um termômetro das pressões contra o real, que, apesar de enormes, poderiam ser ainda mais graves caso o Banco Central não escorasse a moeda brasileira. Agora é também um indicador indireto, se impreciso, das perspectivas sombrias de financiamento para a economia brasileira nos próximos meses.
O Brasil não tem problemas sérios em suas contas externas (grosso modo, o balanço de entradas e saídas de dólares). Mas a loucura do mercado de câmbio mundial nos traga. Na semana passada, adentrando por esta, explodiu de vez uma crise no mercado mundial de moedas.
Mais uma crise, a se somar à bancária e à de crédito, e dela derivada.
Países do Leste Europeu vão à breca, devido aos seus déficits externos, e fazem fila no FMI (Hungria, Ucrânia, Sérvia, depois talvez Croácia, Romênia, Polônia). Portugal e Grécia, por exemplo, não foram à lona apenas (e por enquanto) porque adotaram o euro. Algum país do Oriente Médio e algum asiático também estão na linha de tiro.
A fuga do risco, devido a medo ou a prejuízos, tira dinheiro e exaure as reservas desses países que dependem demais de financiamento externo, o que se evidencia na desvalorização de suas moedas. Mas também Coréia e Austrália sofrem desvalorizações fortes. Nem libra e euro escapam, embora as conseqüências aí não sejam tão dramáticas.
O outro lado do mergulho dessas moedas são os saltos do dólar e do iene. A alta do iene é tão espetacular que o Japão pediu ao G7 que soltasse um comunicado calmante, no qual se insinuava uma intervenção internacional no câmbio. O Japão, aliás, prepara um pacotão com os mesmos ingredientes dos euroamericanos.
Um iene forte demais tende a reduzir as exportações japonesas, das quais o crescimento do país depende muito, além de provocar outras desorganizações dramáticas nas economias do resto do planeta.
Não se deu muita bola ao comunicado do G7.
Levou só um pouco mais de atenção a insinuação de corte de juros na Europa e EUA. A julgar pelas bateladas de análises, nada disso vai no curto prazo aliviar a paralisia de crédito e a liquidação de ativos de risco. Tal liquidação vai continuar a sangrar ou quebrar países "emergentes" e a valorizar o dólar e o iene.
A sangria pode ter reflexos em banco europeus, muitíssimo mais expostos aos emergentes que os bancos dos EUA, diz o Morgan Stannley.
O impacto adicional nos bancos no mínimo não vai aliviar em nada a seca de crédito, a fuga do risco, a destruição financeira e a desorganização do comércio mundial. O Brasil e o real são passageiros involuntários desse trem desgovernado.
vinit@uol.com.
RUBEM ALVES
Sobre a função cultural das privadas
A privada é o lugar onde estamos sós e ninguém tem o direito de nos incomodar. Lugar de refúgio, santuário de solidão
"POR GENTILEZA , a senhora podia me dizer onde fica a privada?" A anfitriã, ao ouvir a palavra "privada", assusta-se e ruboriza-se. "Privada" não é palavra que se fale. Trata então de remendar: "Ah, o banheiro... O banheiro fica no fim daquele corredor...". O homem encaminha-se para o local indicado, intrigado: "Eu já tomei banho. Não quero tomar banho de novo...". Mas, logo ao entrar no banheiro, vê que a anfitriã estava enganada.
Lá não há nem banheira nem chuveiro. Só há uma privada, que é, precisamente, aquilo que ele está procurando.
Não é educado falar "privada", principalmente pelo fato de que essa palavra é sinônima da "latrina", palavra de música feia, há muito fora de uso, exceto nos escritos do Manoel de Barros -ele diz: "Também as latrinas desprezadas que servem para ter grilos dentro -elas podem um dia milagrar violetas". Mas como as pessoas comuns não lêem o Manoel de Barros, não se pode esperar que elas, ao ouvirem a palavra "latrina", pensem em violetas.
A primeira vez que fui aos Estados Unidos, arranhando inglês, numa escola, premido por forças fisiológicas, procurei o dito quarto. E logo vi, numa porta, escrito: "Private". Achei que private era "privada". Entrei pela porta. Mas logo descobri que "private" queria dizer que aquele era um cômodo onde eu não podia entrar.
Quando, pela primeira vez, desci num aeroporto nos Estados Unidos e vi placas indicando "rest-rooms", achei que eram salas vip, com poltronas confortáveis, onde as pessoas descansavam, porque rest-room, traduzido literalmente, é "quarto de repouso". Mas não era. Era o lugar onde estavam as privadas e os mictórios.
Estou propondo que se recupere a dignidade da palavra "privada". Pois suspeito que ela esteja ligada a "privacidade", como o "private" americano. A privada é o lugar onde estamos sós e ninguém tem o direito de nos incomodar. Lugar de refúgio, santuário de solidão. Em festas, eu me escondo freqüentemente nas privadas. Ali a gente não tem que estar sorrindo, não tem que achar as piadas engraçadas e pode se dar ao luxo de não falar.
Hoje, com os inúmeros estímulos da televisão e a correria da vida, as pessoas lêem cada vez menos e, com isso, ficam burras cada vez mais. Mas a privada, onde nada nos perturba e ninguém tem o direito de nos interromper (a menos que você seja dos tolos que levam o telefone para a privada...), é um lugar excepcional para a leitura.
Vi, muitos anos atrás, nos Estados Unidos, uma coisa insólita, que jamais passaria pela minha cabeça: um papel higiênico que tinha, em cada folha, um aforismo, máxima ou conselho.
O usuário não resistia à tentação e, antes de fazer o uso normal do papel, lia o que estava escrito, o que contribuía decisivamente para sua formação intelectual e espiritual. Imaginei uma melhoria nessa idéia: livros inteiros impressos no papel higiênico.
Assim, aos poucos, assentada na privada, a pessoa iria lendo as grandes obras da literatura mundial. E a propaganda diria: "Use o papel higiênico "Inteligente", que dá cultura antes de limpar".
Se, no futuro, aparecerem tais papéis higiênicos inteligentes no mercado, quererei receber minha porcentagem de direitos autorais. E invocarei vocês, leitores, como testemunhas de que a idéia original foi minha.
DEPOIS DAS ELEIÇÕES
Ufa! Passou a eleição. Agora já se pode novamente falar de política. Mulher e futebol terão de dividir as atenções. Durante o tempo que durou a campanha eleitoral, o jornalismo de opinião ficou amordaçado. Só a propaganda, quer dizer, a autopropaganda teve espaço na mídia.
Os políticos, que legislam em causa própria, inventaram leis que os protegem da opinião da imprensa ao longo da temporada de caça aos eleitores. Podem dizer o que bem entendem sem contestação externa.
O jogo é deles e só entre eles pode haver réplica e tréplica. Os jornalistas viram mediadores em debates tediosos. Cabe-lhes passar a palavra ou levantar a bola para o candidato chutar. É como se um clube de futebol, na semana anterior a uma decisão importante, ganhasse imunidade contra a crítica para não prejudicar o desempenho e assegurar a neutralidade.
Aproveitei, nesse tempo de censura, para tratar do assunto que mais entendo: eu. Quando cansava de mim, abordava a crise norte-americana. Claro que estava cheio de opiniões sobre os candidatos. Como não podiam ser utilizadas, acabei esquecendo-as.
A política, como o futebol, é cheia de clichês que só permanecem por falta de outra coisa para se dizer. Por exemplo, diz-se que no Brasil os partidos não têm a menor importância, que se vota em pessoas, não em partidos.
Como se explica, então, que o PMDB ficou com 1.201 prefeituras? Como se explica que PSDB, PP e PT venham em seguida, com um lote considerável de administrações? Será que o PMDB teve a sorte de contar com as boas pessoas na maioria dos municípios brasileiros? Eu voto, quando não anulo solenemente por falta de opção, em pessoas e não vejo problema nisso. Partido, como a fidelidade, é uma instituição do século XIX. Vai passar.
No Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, candidato acima de qualquer suspeita, foi derrotado, talvez por isso mesmo, pelo quase desconhecido Eduardo Paes, que passou de severo crítico do governo federal a apoiado pelo presidente da República. Um candidato que muda de lado é mais habitual e certamente parece mais confiável. Excesso de coerência assusta. A 'pessoa' Gabeira perdeu a vaga de prefeito para o PMDB.
Nem o seu charme, nem a história do militante contra a ditadura e de ex-guerrilheiro de tanga de crochê, nem a sua postura corajosa e transparente nestes últimos anos de mensalão e máscaras caídas seduziram a maioria dos eleitores. Em torno de 900 mil foram à praia, ou a algum lugar semelhante, e não votaram. Os cariocas são especialistas em eleger nulidades ou em seguir a ordem dos seus caciques. O Rio é um curral com vista para o mar.
Porto Alegre ficou limpa durante a campanha. Tão limpa que nem parece ter passado por uma disputa eleitoral. Eu preferiria que estivesse mais suja. Campanha eleitoral é como sexo. Exijo certa meleca. Ou é fria. A nova lei valoriza a campanha asséptica e cirúrgica. Hospitalar.
Cada vez mais, o único canal de comunicação entre o eleitor e os candidatos é a mídia. Tudo gravado, produzido, maquiado, corrigido com programas de computador e arrumado para vender o produto sem suas rugas e imperfeições. É o triunfo absoluto do marketing.
A campanha é um comercial entre dois blocos de ficção. Enfim, passou, estamos livres, podemos até, se quisermos, abrir os nossos votos. Como é bom, depois de meses de silêncio político, ter novamente direito à expressão. Cheguei a pensar que Obama era candidato no Brasil. Era só a ele e a McCain que se podia criticar.
juremir@correiodopovo.com.br
Uma excelente terça-feira para todos nós
28 de outubro de 2008
N° 15772 - LUÍS AUGUSTO FISCHER
Moinhos na história
Não dá para parar de ler o livro de Carlos Augusto Bissón recentemente lançado, Moinhos de Vento – Histórias de um Bairro de Porto Alegre. Volume da série Porto Alegre Revisitada, da Secretaria Municipal de Cultura, o livro é uma preciosidade: bem concebido, escrito em português culto, muito bem informado, cheio de grandes histórias sobre pessoas e acontecimentos ligados ao famoso bairro que está no título.
As restrições são pouquíssimas. Um livro como este merecia um mapa bem circunstanciado, quem sabe até mais de um, para ajudar a enxergar o que vai contado em suas páginas; e um livro como este merecia capa mais firme, que não cedesse tanto ao manuseio. Como se vê, quase nada de problema. E os méritos são enormes.
Carlos Augusto, de quem sou amigo há 30 anos, é um talento verdadeiro para o texto escrito. Que não escreva regularmente para jornais e revistas, para mim é um mistério, e pior, uma pena, uma perda, porque dispõe daquela informação histórica, particularmente nos campos da política, do cinema e da literatura, que faz os grandes jornalistas serem grandes.
No livro, esse fundo difuso de sua qualidade ressalta, nas inteligentes costuras que vai fazendo entre a história do bairro e a vida do Estado, do país e do Ocidente, tudo fluindo naturalmente, sem fazer alarde, na elaboração de uma leitura histórica de fôlego. E que relato bom de ler!
Sendo um bairro da elite porto-alegrense por muito tempo, o Moinhos foi e é palco de vidas de industrialistas, comerciantes, banqueiros, profissionais liberais, tudo gente de grande interesse para uma visada histórica.
O autor entrevistou dezenas de pessoas, pacienciosa e produtivamente, para compor um texto que ao mesmo tempo é uma bela renda, tecida das várias histórias pessoais atentamente consideradas, e um amplo painel do século 20, que parte de um ponto específico do planeta para considerar modernização industrial, mudanças nas relações de trabalho, alterações de comportamento, que em geral começam nas elites e alcançam todo mundo em seguida. Um belo e imperdível livro, pode crer.
28 de outubro de 2008
N° 15772- PAULO SANT’ANA
Fogaça e o engarrafamento
O mais preocupante na reeleição do prefeito José Fogaça é que ele declarou que não vai se candidatar ao governo do Estado.
Prefeito, Fogaça não pode ser mais, duas reeleições não são permitidas.
Senador, ao que tudo indica, ele não vai querer voltar a ser.
Então, o que será do futuro de Fogaça?
Esse limbo no futuro de José Fogaça não me parece ser bom para Porto Alegre. Porque ele pode se acomodar e não ter motivação para as obras que a cidade necessita.
As ciclovias, por exemplo, têm de ser imediatamente implantadas. E até agora não saíram do papel.
E o trânsito de Porto Alegre está caótico e alarmante. Não há mais lugar por onde se ande de carro que não haja engarrafamento.
Isso ameaça paralisar a cidade.
Para hoje, para ontem, o prefeito Fogaça tem de constituir um grupo de trabalho que vise aos estudos imediatos, com pronta execução das conclusões, para atacar o sufocamento do trânsito da cidade.
Podem ser centralizadas em viadutos as decisões. Mas têm de ser urgentemente implementadas.
É preciso atacar com a máxima brevidade os engarrafamentos na Avenida Ipiranga, na Avenida Assis Brasil, na Avenida Protásio Alves e na Avenida Independência.
Essas quatro vias são as prioritárias, embora em dezenas de outras o trânsito esteja se movendo com irritante lentidão. Se a EPTC não alertou o prefeito para essa emergência, está faltando com o seu dever, não existe nada mais dramático para a cidade que esse entupimento do trânsito que vai aos poucos estraçalhando os nervos dos motoristas e dos passageiros e ameaça tragar a administração municipal.
Fogaça vai ter de gastar com obras para desengarrafar o trânsito. Vai ter de ser um canteiro de obras, que tem de começar a ser desfechado ainda este ano, sem protelações.
Mas eu já disse que só com isto não se resolve o problema do trânsito.
Tem de haver um amplo congresso entre governo federal, estadual e municipal, ao lado das associações de classe do comércio, dos serviços e da indústria, no sentido de se ampliar a escala de horários de funcionamento de todos os prédios da cidade.
A cidade só funciona em todos os seus serviços durante 10 horas do dia, compreendendo manhã e tarde. Não vai poder ser mais assim, sob pena de paralisação total na circulação de veículos particulares e coletivos.
A cidade terá de funcionar também à noite nas suas repartições públicas e nos estabelecimentos comerciais e de serviços.
No caso de Porto Alegre, é de burrice esférica fazer com que todos os veículos iniciem sua marcha no rumo do engarrafamento às sete horas da manhã e retornem para o trânsito à tardinha.
Somam somente 12 as horas tensas de trânsito em Porto Alegre. Coincidem exatamente com o sol.
Não há cidade mal planejada como Porto Alegre que suporte isso.
Portanto, além das obras viárias, tem de haver uma mão-de-obra gigantesca no sentido da mudança de hábito das pessoas.
Vai ter de ser alargada a faixa de horário de funcionamento da cidade. Urgente.
Basta ver como o trânsito depois das 20h30min se desenrola tranqüilo em toda a cidade.
Este estrangulamento de horário vai ter de mudar.
Mas será que o prefeito Fogaça, que se confessou sem futuro, vai ter coragem para arregaçar as mangas?
28 de outubro de 2008
N° 15772 - MOACYR SCLIAR
A impossível arte de prever o futuro
Quando começou a atual crise econômica, o presidente Lula fez um bem-humorado pronunciamento, usando uma expressão que desde então tem sido repetida, sempre com ironia, pelos comentaristas: nos Estados Unidos, disse Lula, a crise pode ser um tsunami, mas aqui no Brasil chegará como uma marolinha.
Esta marolinha revelou-se desastrosa. Não chegou ao nível do “relaxa e goza” com que a ministra Marta Suplicy comentou a crise aérea de tempos atrás, e que, em matéria de desastre, só foi ultrapassado pelo “É casado?
Tem filhos?”, grosseira insinuação destinada a aniquilar Kassab, que teve, contudo, efeito inverso. No caso da afirmativa de Lula, o que tivemos foi apenas um prognóstico equivocado.
Prognóstico é coisa difícil. Meteorologistas e os médicos disso dão testemunho. Ambas as categorias recorrem à ciência e à tecnologia para fazer previsões: imagens de satélites, exames diagnósticos.
Mas erros são inevitáveis. No caso da meteorologia porque, parafraseando Shakespeare, há mais coisas entre o céu e a terra (nuvens, principalmente) do que imagina a nossa vã filosofia.
No caso da medicina, porque biologia não é matemática. Uma solução é recorrer à estatística: as chances de chuva são de 30%; se, apesar das esplendorosas imagens de satélite, cair um toró, a culpa é dos 30%.
A medicina, sobretudo nos Estados Unidos, tenta um recurso semelhante: “As chances de cura são de 53%. Se o senhor usar o medicamento X, as chances aumentam para 60%, mas há 72% de possibilidades de efeitos secundários, inclusive letais...” Em outras palavras: você decide, você participa no processo de prognóstico e portanto você assume a responsabilidade.
Muitos pacientes preferem o modelo antigo, no qual o médico, numa atitude que hoje muitos qualificariam como autoritária, dizia para a pessoa o que ela tinha de fazer. E muitos médicos gostavam disso.
Talvez por onipotência, mas também por causa daquela ansiosa compaixão que historicamente acompanha aqueles que cuidam dos outros. Os doutores queriam poupar ao paciente a dúvida, a angústia.
Podemos supor que o mesmo deve ter acontecido com Lula. Pretendia poupar os brasileiros dizendo algo como “não se preocupem, o prognóstico é bom”.
A isto talvez se acrescentou o “wishful thinking”, o pensamento desejoso: a pessoa prevê aquilo que ela quer que aconteça. No caso da política – outra área na qual, enquetes à parte, o prognóstico é muito incerto – isto é quase inevitável.
Emerge daí uma lição. Não podemos nem tirar o corpo fora, ocultando-nos atrás de números frios, e também não podemos proteger as pessoas a qualquer preço. A solução está, como a Avenida Protásio Alves, no Caminho do Meio.
Como é que a gente chega a esse caminho? Vivendo e aprendendo. Entre o tsunami e a marolinha, está a verdade. A experiência, e os erros, nos ensinam a descobri-la.
Fogaça tem razão: num sentido, as eleições terminaram empatadas – na grandeza que ele e Maria do Rosário demonstraram. Mais uma vez, o RS deu uma lição de maturidade política.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
MOACYR SCLIAR
Cinto de castidade
Ela saía muito; tinha uma vida social extremamente ativa, que incluía, segundo dizia, chás beneficentes e visitas a pobres
Empresa mineira lança lingerie com rastreador GPS. O lançamento de uma empresa mineira de modas promete resolver parte dos problemas de maridos desconfiados: uma lingerie com rastreador GPS (Sistema de Posicionamento Global por satélite). O conjunto (sutiã e calcinha) possui um localizador que permite encontrar as esposas com base na latitude, longitude e altitude. Folha Online, 21 de outubro de 2008
NA CIDADE , Mário era famoso por seus ciúmes. Como dizia um amigo literato, perto dele Dom Casmurro, o famoso ciumento de Machado de Assis, era fichinha.
Em matéria de suspeição, Mário batia todos os recordes. Alguma razão para isso ele tinha.
Luciana, a esposa, era uma mulher líndissima, sensual, e não exatamente tímida: sentia-se muito à vontade na companhia de homens, e, embora não tivesse nenhuma prova de sua infidelidade, Mário não conseguia ficar tranqüilo quando Luciana saía de casa.
E ela saía muito; tinha uma vida social extremamente ativa, que incluía, segundo dizia, chás beneficentes, reuniões em casas de amigas, visitas a pessoas pobres. Era absolutamente impossível acompanhar sua agenda, sobretudo do escritório onde Mário passava a maior parte do dia. O celular poderia resolver uma parte do problema, mas Luciana dizia que detestava "essas coisas tecnológicas".
Foi, contudo, uma dessas coisas tecnológicas que aparentemente proporcionou a Mário a solução para o problema.
Um dia foi procurado, em sua loja de roupas, por um representante comercial chamado Raul, que queria lhe apresentar produtos novos. Mário recebeu-o sem muito entusiasmo: o mostruário era absolutamente convencional. Mas então Raul pediu licença para mostrar-lhe algo sensacional: a lingerie com GPS, graças a qual o marido poderia encontrar, a qualquer hora, a esposa, mediante um serviço de satélite exclusivo da empresa.
Melhor, garantiu, que os cintos de castidade usados pelas mulheres na Idade Média, e que impediam a relação sexual mediante um complicado artefato metálico fechado a cadeado. Convencido, Mário não hesitou: de imediato adquiriu o conjunto de sutiã e calcinha, bem como o equipamento eletrônico necessário para o controle à distância.
Na mesma noite, e sem mencionar o GPS, deu de presente o conjunto à esposa, que aceitou muito contente, garantindo que, como prova de amor pelo marido, sempre usaria aquela lingerie.
A partir de então Mário começou a controlá-la. Para seu alívio, constatou que a esposa estava sempre em lugares respeitáveis: na igreja, numa creche beneficente, numa escola de periferia. Mas aí sua alegria acabou. Por causa de um telefonema anônimo: "Eu, se fosse o senhor, não confiaria no GPS. Melhor seguir sua esposa".
Irritado embora, Mário decidiu fazer isso, apenas para provar a si próprio que o fofoqueiro estava errado. Mas naquela mesma tarde viu, de seu carro, Luciana encontrar-se com um homem na porta de um motel. O homem era o Raul. Cujo satélite, obviamente, transmitia para Mário as informações falsas que ele, no fundo queria receber, como prova da inocência de sua esposa.
Mário e Luciana estão separados. Ele diz que não pretende se casar de novo. Mas se o fizer não recorrerá a nenhuma lingerie com GPS para espionar a esposa. Preferirá o velho e bom cinto de castidade.
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
MARINA SILVA
Não é amor
ATREVO-ME A alguns comentários leigos sobre os casos, em grande evidência, de seqüestro e assassinato de mulheres muito jovens por seus companheiros, namorados ou maridos também muito jovens. Limito-me a manifestar um terrível mal-estar, que é, ao mesmo tempo, tentativa de entender.
O caso da adolescente Eloá, de Santo André, parece ter provocado um surto. De Goiás, da Bahia, a notícia traz nomes e situações diferentes, mas, no fundo, é a mesma: após décadas de conquistas femininas e da queda de tantos tabus, a relação homem-mulher ainda é presa de uma cultura doente de posse e anulação do outro.
Em plena vigência da maior liberdade sexual já vivida na sociedade ocidental, grande parte dos homens comporta-se com perverso desejo de fusão com quem dizem amar, a ponto de colocar sua integridade em risco. A mulher que eles ameaçam em nossa frente, no horário nobre, não é nossa filha.
Mas, de certa forma, é. Não é nossa irmã. Mas, de certa forma, é. Não somos nós. Mas estamos todos reféns da perplexidade e da carência de sentido de tudo isso.
O que faz alguém imaginar ser dono do outro ou senhor do sofrimento alheio, inclusive da família, dos amigos, da comunidade e, com o auxílio da mídia, do país inteiro?
Esses episódios chamam a atenção para um fosso que torna incompletas as conquistas femininas, se as tomarmos sobretudo em seus aspectos relacionados a questões legais e materiais. No plano emocional, o pensar masculino parece ter sido insuficientemente afetado pelas mudanças nas leis, nos costumes, na realidade social. Ainda está perdido, talvez mais do que o universo feminino, na armadilha da possessão, confundindo-a com amor.
Antes era brandida a honra para justificar a violência. Hoje, entregues à razão narcísica contra quem não aceitou a fusão absoluta, decretam: ou assimilo o outro, ou ele não pode mais existir.
E, no entanto, há quantos anos as leis e as convicções repelem esse domínio? Talvez tenha chegado o momento de o movimento feminista recrudescer em outro patamar, para unir homens e mulheres que reconhecem na cultura da posse uma redução de seu potencial humano e, na desigualdade de direitos, grave ofensa ao direito de ser feliz num mundo mais ameno.
Não se pode imaginar que um homem que oprime ou tortura mulheres, por quaisquer meios, ou lhes tira até mesmo a vida tenha alguma satisfação genuína ou auto-estima. O grande desafio é que, enquanto essa legião de órfãos da felicidade não encontrar o rumo de casa, ou seja, da parte sensível e acolhedora de sua condição humana, estará faltando algo essencial aos direitos das mulheres.
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Day after
SÃO PAULO - Corre o risco de parecer frívolo ou lunático quem se dispõe a comentar o saldo das eleições sem olhar para o mundo sombrio da economia. Marx dizia que a história se faz às vezes pelas costas e à revelia dos homens. Deve estar certo quem pensa que os resultados municipais terão efeito muito menor sobre a vida das pessoas do que o estrago que o terremoto na finança global apenas começa a produzir.
Até Zé Carioca, o papagaio de Geraldo Alckmin, já está desconfiado de que, muito mais do que a estrondosa vitória de Gilberto Kassab, o grande cabo eleitoral da oposição deve ser a crise econômica. À medida que ela tire o gás de Lula até o final do mandato, estará enchendo o balão da candidatura Serra.
Parece banal demais? Quando o resultado das urnas decantar, é possível que se perceba sob a montanha de números algo simples e óbvio: a consolidação do Partido do Lula e do Partido do Serra, em torno dos quais irão orbitar, como satélites e coadjuvantes, os partidos reais e o jogo político até 2010.
Há, entre Lula e Serra, o PMDB, que sai das urnas fortalecido, sem nome próprio para se apresentar como opção de poder, mas grande e capilarizado o bastante para fazer com que o favoritismo da disputa penda para um ou para outro lado.
Há quase 30 anos no governo e na oposição ao mesmo tempo, o partido anfíbio e sem caráter está com Serra/Kassab em São Paulo e com Lula no país. Quem dá mais? Quem é que vai levar Geni para o altar?
Maior vitorioso desta eleição, Serra por ora apenas incorporou ao currículo o título de grande fiador e maestro da direita que se reorganizou em São Paulo sob sua batuta e sobre os escombros do malufismo. Ou ninguém sabia o que havia dentro do Kassabão, o boneco inflável?
A face real do kassabismo deve ser algo como o negativo cruel da imagem infantilizada da foto da vitória, em que o prefeito aparece ao lado de papai Serra e um monte de criancinhas -todos seus irmãozinhos no reino da fantasia eleitoral.
BONS DE AUTODIFAMAÇÃO
A França, ao contrário do Brasil, é um país bom de polêmica cultural. Aqui, com uma literatura que vai do mediano ao medíocre, de Luis Fernando Verissimo a Paulo Coelho, passando por uma nova geração anódina, não há espaço para provocações.
Somos a nação da bajulação e das celebridades. Não suportamos críticas nem iconoclastas.
Os cadernos culturais são rasteiros. Os críticos literários e os resenhistas são meros assessores de imprensa de grandes editoras e de autores consagrados por livros mornos.
O último verdadeiro escritor no Brasil foi Jorge Amado. A nova geração é patética. Alguns, por gostarem de beber cerveja, são influenciados por Charles Bukowsky. É cerveja requentada. Parece xixi. Os demais fazem textos de adolescentes como rituais de passagem.
'Inimigos públicos', o livro feito a partir de uma troca de e-mails entre Michel Houellebecq e Bernard-Henri Lévy, mostra a importância da maldição num espaço menos deslumbrado e mais contundente. Michel Houellebecq cutucou: 'Caro Bernard-Henri Lévy: tudo, como se diz, nos separa, com exceção de um ponto fundamental: somos, eu e o senhor, indivíduos bastante desprezíveis.
Especialista em golpes fracassados e em farsas grotescas na mídia, o senhor desonra até as camisas brancas que usa. Íntimo dos poderosos, banhando-se desde a infância em uma riqueza obscena, o senhor é emblemático do que certas revistas de nível um pouco baixo, como Marianne, continuam chamando de ‘esquerda-caviar’ [...]
Filósofo sem pensamento, mas não sem relações, o senhor é também o autor do filme mais ridículo da história do cinema. Niilista, reacionário, cínico, racista e misógino vergonhoso, seria para mim ainda uma grande honra classificar-me na pouco atraente família dos anarquistas de direita;
fundamentalmente, não passo de um francês médio e comum. Autor insosso, sem estilo, só ascendi à notoriedade literária depois de uma inacreditável falta de gosto cometida, há alguns anos, por críticos desorientados'. Que bela auto-ironia.
Em 27 de janeiro de 2008, BHL respondeu com três pistas possíveis para um debate: 'Meu caro Michel Houellebecq. Pista número 1. Bravo. Está tudo aí. Sua mediocridade. Minha nulidade. Esse nada sonoro que ocupa o lugar de nossos pensamentos. Esse gosto que temos pela comédia, quando não pela impostura.
Há 30 anos me pergunto como um sujeito como eu conseguiu, e consegue, iludir. Trinta anos que, cansado de esperar o bom leitor que saberá me desmascarar, eu multiplico as autocríticas vãs, sem talento, inofensivas. E aí estamos. Graças ao senhor, com sua ajuda, talvez eu consiga.
Sua vaidade e a minha. Minha imoralidade e a sua [...] Pista número 2: o senhor, está bem. Mas por que eu? Por que eu entraria, afinal, nesse exercício de autodifamação?
E por que o acompanharia nesse gosto que o senhor manifesta pela autodestruição fulminante, amaldiçoante, mortificada? Eu não gosto do niilismo. Detesto o ressentimento e a melancolia que o acompanha.
E penso que a literatura só serve para contrariar esse depressionismo que é, mais que nunca, a palavra-chave de nossa época'. Lindo golpe.
Eu, autor rastaquera, desprezado pela crítica, ignorado pela mídia, desconhecido dos leitores, identifico-me com esse jogo. A autodifamação é o que sobra para os sem estilo, para os excluídos da filosofia, da literatura e da crônica de auto-ajuda e, especialmente, para os franco-atiradores niilistas.
juremir@correiodopovo.com.br
Ainda que a semana não esteja primaveril como deveria de ser que tenhamos todos uma ótima semana.
27 de outubro de 2008
N° 15771 - PAULO SANT’ANA
Derrota de Lula é surpresa
José Fogaça ganhou a eleição no primeiro turno. Ou seja, Fogaça ganhou a eleição quando Manuela D’Ávila a perdeu.
É possível que Fogaça se elegesse se Manuela fosse a sua adversária no segundo turno. Mas, nessa hipótese, Fogaça não teria a facilidade que ontem teve. Porque os votos do PT, caso Manuela fosse para o segundo turno, seriam destinados a ela.
Portanto, aquelas estimativas de que Maria do Rosário seria a adversária mais confortável para Fogaça no segundo turno se confirmaram inteiramente.
A respeito disso, quando ia se ferir o primeiro turno, escrevi uma coluna impactante, que se resumia ao seguinte: “Se você quer eleger Fogaça, vote em Maria do Rosário”.
A minha coluna podia mexer com a eleição, alguns amigos me dissuadiram de publicá-la, achavam que eu tinha de deixar o pleito acontecer sem influência da imprensa.
Mas já no primeiro turno se adivinhava que Manuela deveria ser mais adversária para Fogaça.
O resultado mais bombástico da eleição no país foi a derrota aplastante de Marta Suplicy para Gilberto Kassab em São Paulo.
Não dá para entender que, com Marta apoiada ostensivamente por Lula, que fez questão de patrocinar sua candidatura, dando a entender aos eleitores que estava o presidente jogando o seu prestígio na eleição, Kassab tenha vencido assim, com diferença tão expressiva.
Foi uma derrota muito dura para Lula e para o PT. E os observadores tiram desse episódio ilações muito densas de que Lula possa ter dificuldade para eleger seu sucessor preferencial em 2010.
Aqui em Porto Alegre também não brilhou a estrela de Lula. Inicialmente reticente, o presidente decidiu não intervir por nenhuma maneira na eleição da capital gaúcha.
Pressionado por Maria do Rosário, Lula decidiu na última hora gravar pronunciamento de apoio a Rosário, que foi divulgado com insistência no horário eleitoral obrigatório, nos últimos dias.
Imaginava-se que a intervenção de Lula na eleição daqui fosse reduzir a diferença de Fogaça sobre Rosário, até mesmo porque o PT contratou inúmeros carros de som que transmitiam o apoio, de viva voz, de Lula a Rosário, espalhando-os pela cidade.
Qual nada, depois que Lula apoiou Rosário de viva voz, a diferença a favor de Fogaça aumentou nas pesquisas, como mostrou a consulta de boca-de-urna.
Lula, portanto, perdeu aqui e principalmente perdeu na sua terra de adoção, São Paulo.
Podia alguém acreditar nisso depois que a popularidade de Lula cresceu a números inimagináveis nos últimos anos?
Pois é: de dentro das urnas podem surgir números que ninguém imagina que surjam.
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