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sábado, 12 de janeiro de 2008
12 de janeiro de 2008
N° 15477 - Ricardo Silvestrin
Roubos
O roubo das telas do Masp pelo menos elevou o nível da conversa. No país do narcotráfico, das tropas de elite, do mensalão, da tortura e de outras baixarias, ladrão levando Picasso e Portinari é um luxo. Felizmente, os quadros agora foram recuperados.
O Lavrador de Café, de Portinari, e Retrato de Suzzane Bloch, de Pablo Picasso, estão entre as mais importantes e mais valiosas peças do museu. São avaliadas em R$ 100 milhões.
O quadro do Picasso é considerado uma das últimas obras da sua famosa fase azul. É um óleo sobre tela, produzido em Paris, no ano de 1904. Retrata a cantora francesa Suzanne Bloch.
O quadro é assinado pelo autor. Muito se fala sobre os significados do azul predominando no fundo e nas figuras que o mestre espanhol criou. Costuma-se atribuir a ele uma certa melancolia com ecos da morte de um grande afeto. Mas o que importa é a beleza que a imagem quase monocromática consegue transmitir.
Personagem dos círculos parisienses freqüentados por Picasso no início do século 20, a cantora wagneriana Suzanne Bloch posou para o pintor em Paris, ainda em finais de 1904.
A obra pertenceu à própria Suzanne Bloch, tendo sido vendida por seus descendentes, após sua morte, à princesa Sichnowsky, que a manteve em sua coleção particular em Londres. Da capital inglesa, a obra migrou para Lugano, na Suíça, onde integrou a coleção da família Biber.
A partir de 1942, esteve exposta na National Gallery of Art, em Washington, onde permaneceu até 1946. No ano seguinte, foi adquirida pelo Museu de Arte de São Paulo. Em dezembro de 2007, a obra foi furtada do Masp e agora, finalmente, voltou para casa.
Museu é a casa das musas. Tem esse nome por isso. Na mitologia grega, as musas eram as filhas de Zeus. Cada uma protegia uma arte ou ciência. Assim, um museu de arte é o lugar que abriga uma produção artística.
Essa produção pode ser contemporânea, não precisa ser do passado. Ou seja, museu não precisa ser lugar de coisa velha, como é o sentido mais comum que a palavra acabou portando entre nós. Tanto que existem os museus de arte contemporânea.
O Lavrador de Café é datado de 1939. Trata-se de um trabalhador negro, em primeiro plano, preenchendo quase todo o campo visual. Está segurando uma grande enxada.
Não há mais ninguém com ele. Portinari pintou o homem e a paisagem do Brasil. Tem um grande apelo social. Focou a pobreza, a vida simples.
Usou cores fortes, massas de tinta, volumes, formas que saltam da tela, pessoas com traços marcantes. Tem muito de expressionismo e muita coisa que é só dele. Dele e da sua terra.
Li numa recente pesquisa que o nível de emprego no Brasil está aumentando. Entretanto, aumenta nas faixas que não precisam de formação. Já nos níveis de profissionais mais qualificados, há falta de mão-de-obra.
Quem roubou a educação dos trabalhadores brasileiros? Quanto vale essa educação? Como se viu acima, a cultura pode chegar a valer R$ 100 milhões. Ou mais.
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