quinta-feira, 3 de janeiro de 2008



03 de janeiro de 2008
N° 15467 - Paulo Sant'ana


Em perigo a borboleta

Como eu sempre digo e ouço: "Quando a vaga é boa, a gente nem tem vontade de tirar o carro".

Neste ano de 2008, doe sangue. É sempre bom repetir: inscreva-se como doador de sangue.

E neste ano de 2008, principalmente doe seus órgãos. Comunique sua família de que você é um doador - ou doadora.

Sempre é bom relembrar: doe sangue e doe seus órgãos. E finalmente doe-se de todo, por inteiro, aos outros, em 2008.

Doe-se, dê-se, entregue-se. Faça alguma coisa para tornar-se digno aos olhos de Deus. Doe-se. Saia definitivamente deste casulo e ande pela ruas abraçando-se às pequenas e às grandes causas dos seus semelhantes.

Doe-se. E seu dever como ser humano estará cumprido.

Um soberano da antigüidade já estava incendiado de inveja com relação a um sábio de seu reino.

O sábio sabia tudo. Resolvia os problemas de todos os súditos do rei.

O sábio era tão sábio e estava ficando tão mais famoso e prestigiado do que o rei, que este só tinha na cabeça uma coisa: haveria de eliminá-lo, a megalomania e a insegurança do rei deram-se as mãos e decidiram por desmoralizar o sábio, com o que ele teria de deixar o reino ou suicidar-se.

Obrou então o rei em sua urdidura: convocou uma imensa platéia para um espetáculo na capital do reino, onde ele próprio, em carne e osso, se encontraria com o sábio e o desmoralizaria publicamente.

Feito isso, chegou o grande dia. Uma multidão se reuniu em torno da grande praça central da cidade. Além do povo, as pessoas mais importante do reino estavam ali acotoveladas.

E o rei, diante dos olhos de todos, perguntou ao sábio se uma borboleta que estava entre suas mãos se encontrava viva ou morta.

O soberano ergueu as mãos, assim como se ergue as mãos ao céu para orar, colocou entre os dedos estendidos e contíguos das duas mãos uma borboleta viva, encostou uma mão na outra, e perguntou ao sábio:

"A borboleta que tenho entre minhas mãos está viva ou morta?".

O plano do rei era o seguinte; se o sábio dissesse que a borboleta estava viva, o rei apertaria suas mãos e apresentaria a borboleta morta e esmigalhada por suas mãos ao grande público.

Se, no entanto, o sábio dissesse que a borboleta estava morta, o rei abriria e deixaria alçar vôo o inseto lepidóptero ante o olhar curioso da enorme platéia.

Ou seja, com qualquer das duas alternativas de resposta o sábio se desmoralizaria e seguiria para o desterro.

Então foi chegado o momento culminante: o rei perguntou com as mãos justapostas e os dedos fechados em forma de oração se a borboleta estava morta ou viva.

E o sábio respondeu: "Em qualquer situação, o destino desta borboleta está em suas mãos, respeitado soberano".

Eu conto esta história interessante por vários motivos, mas por um mais importante: mesmo tendo demonstrado inveja do sábio, não julguei mau o soberano por isso.

Só fui julgá-lo mau, isto é, só fui saber que ele era cruel e déspota quando chegou a parte da história em que ele decidiu que iria deixar viva a borboleta ou matá-la, conforme a reposta do sábio:

um homem que por qualquer motivo ou interesse considere a hipótese de matar qualquer animal, mesmo um inseto, embora a borboleta seja um deslumbrante inseto, é mau.

Assim como qualquer um que queira molestar ou matar a golpes de forte som as corujinhas de Capão da Canoa haverá de ser um homem mau.

Qualquer homem que mata ou mesmo maltrata qualquer animal é um homem mau e indigno de continuar vivendo.

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