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quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
03 de janeiro de 2008
N° 15467 - Luis Fernando Verissimo
Querido Papai Noel
Recebi uma carta do Papai Noel! Nela ele agradece a cartinha que lhe mandei em dezembro de 1942 pedindo uma bola de futebol e um revólver como o do Vingador, com espoletas, e se desculpa pela demora da resposta.
Explica que como faz questão de responder pessoalmente todas as cartas que recebe no Natal, e escreve à mão, sua correspondência naturalmente se acumula e só agora ele está chegando ao ano de 1942. A carta é simpática.
Papai Noel comenta como é difícil acreditar que 65 anos passaram tão depressa e pergunta se recebi os presentes pedidos e se por acaso eles tiveram alguma influência na minha vida, se acabei sendo jogador de futebol ou caubói. E deseja um bom 2008 etc.
Pensei em responder ao Papai Noel, mas ele provavelmente só teria tempo de ler minha resposta lá pelo fim do século, quando eu possivelmente já estarei morto.
Eu diria que fui as duas coisas, jogador de futebol e caubói, simultaneamente, e marquei muitos gols e matei muitos bandidos e índios, todos imaginários, mas por pouco tempo. Que continuei gostando de bola mas abandonei o revólver, embora ainda me lembre com saudade do cheiro da espoleta detonada.
Que de 1942 até agora fui muitas outras coisas, na maioria imaginárias também. Perguntaria se ele recebeu minha última cartinha, escrita na adolescência, em que eu pedia de Natal a Jane Russel com seus peitos e/ou a paz mundial.
E concordaria com ele: 65 anos passam, mesmo, depressa demais.
The Queen
Confesso que gosto da rainha Elizabeth, que na semana passada, se entendi bem, o que eu duvido, colocou um blog, ou coisa parecida, seu na internet.
Ela parecia exercer seu reinado com placidez e um toque de tédio, de quem gostaria mesmo estar com os seus cavalos, embora às vezes seja difícil saber se alguém está chateado ou apenas sendo inglês em público. Mas agora sabe-se que o enfaro da rainha escondia um desejo secreto de modernização e relevância.
O blog da rainha seria uma resposta às repetidas sugestões para que se aposente. Ela se renova para ficar. Ou talvez só esteja preocupada em poupar a nação do Charles, ou o Charles da nação.
Nas fotografias de Elizabeth quando moça, nota-se - se não for só uma tara minha - uma certa sensualidade no rosto, algo nos olhos que ela teve que domar para não fugir com um cavalariço, ficar e cumprir suas obrigações. Sobrou disso uma resignação irônica que se vê nos cantos da sua boca até hoje.
O inglês Alan Bennett escreveu uma peça sobre Anthony Blunt, um aristocrático historiador de arte que era consultor do palácio e também, soube-se muitos anos depois, espião da União Soviética, em que a rainha aparece, de surpresa, numa cena.
Elizabeth e Blunt têm uma conversa sobre a autenticidade na arte que também é uma conversa sobre a duplicidade nas pessoas e a crescente vulgarização da monarquia e suas riquezas, e em que ela diz:
"Um monarca já foi definido como alguém que não precisa olhar antes de se sentar. Não mais. É preciso olhar, hoje em dia, pois há uma boa possibilidade de a sua cadeira não estar ali, mas em exibição em outro lugar".
A frase é de Bennett, mas é possível imaginá-la dita pela rainha, com o meio sorriso desencantado de quem um dia sonhou ser outra coisa, mas não teve escolha.
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