
Amauri Soares - Diretor-executivo da área de Afiliadas, dos Estúdios Globo e da TV Globo
"O compromisso da TV Globo com o Brasil não mudou e não mudará"
O homem por trás da engrenagem que movimenta a maior rede de televisão do Brasil, Amauri Soares fala com orgulho da trajetória construída pela Globo ao longo de suas seis décadas de existência. Em entrevista, projeta os desafios para o futuro.
Camila Bengo
A TV Globo chega aos 60 anos consolidada como a maior emissora de televisão do Brasil, também uma das maiores do mundo. No seu entendimento, o que levou a Globo a se tornar essa potência? Qual é o elemento X?
A determinação de andar sempre com a sociedade. A Globo é uma TV do Brasil para o Brasil. São 14 mil pessoas da TV Globo, mais 10 mil pessoas nas afiliadas, que saem de casa todos os dias para fazer uma televisão brasileira. Andar com a sociedade significa estar sempre aberta ao diálogo, propor temas para debate, abrir espaço para todos, valorizar o regional. Veja o exemplo do Rio Grande do Sul. A RBS TV é a Globo dos gaúchos. Uma das primeiras afiliadas da Globo, hoje com 12 emissoras em todo o Estado. Cada uma produzindo conteúdo regional, olhando de perto a realidade e contribuindo com a comunidade. Este conhecimento local, estas raízes profundas em cada região do país, como as que a RBS tem no Sul, formam o maior diferencial estratégico da Globo.
A celebração dos 60 anos contará com programação especial de 60 horas. Como foi o processo de planejamento?
Começamos a planejar esta celebração um ano e meio antes. Desde o início, algo ficou muito claro para nós: queríamos honrar nosso passado e celebrar as histórias e as pessoas que nos trouxeram até aqui. Além de apontar para o futuro, mostrar a nova Globo que começa a nascer, com a chegada da TV 3.0.
A partir da programação de 60 anos, que mensagem essa Globo deixará aos espectadores?
Que muita coisa mudou na televisão e no país, que o futuro começa agora, mas que o compromisso da Globo com o Brasil não mudou e não mudará. Somos contadores de histórias brasileiras. Somos 120 emissoras de televisão que conhecem profundamente suas regiões e suas comunidades. Esta é a base para construir os próximos 60 anos de Globo.
Como a emissora tem se adaptado às novas demandas do público e à evolução das plataformas digitais, especialmente em um cenário tão competitivo com o streaming?
Fazendo o dever de casa. Somos 100% digitais. Estamos na TV da sala, mas também no celular, nos computadores, nas distribuidoras de TV paga e nas distribuidoras de banda larga. A Globo está com as pessoas onde elas estiverem e quando elas quiserem.
Isso também inclui a implementação da TV 3.0? Como essa tecnologia vai impactar a produção dos conteúdos e a experiência do espectador?
TV 3.0 é a televisão que todos conhecemos, mas com a possibilidade da customização. Cada pessoa poderá acrescentar informações e recursos que fazem sentido para ela. Na hora do telejornal, por exemplo, a pessoa poderá ter mais informações da sua cidade ou a previsão do tempo local. Na hora do jogo, poderá ouvir só a torcida do seu time. Imagine assistir à novela em um grupo com familiares e amigos, podendo trocar impressões e comentários enquanto o capítulo está no ar. A TV 3.0 viabiliza todas essas possibilidades.
A TV Globo é a maior referência na produção de novelas no país, mas é inegável que a entrada das plataformas de streaming nesse formato tem sido bem-sucedida. Como a emissora observa esse cenário?
A estrutura da Globo para a produção de novelas não tem paralelo no país e no mundo. A chegada de novos criadores garante que essa estrutura seguirá produzindo grandes telenovelas brasileiras. A procura do formato por todos os streamings e redes de TV mostra que a telenovela permanece como o gênero brasileiro mais relevante do audiovisual.
Vale Tudo, uma das grandes apostas da emissora neste ano, tem uma forte crítica social. Como a reinterpretação dessa obra pode refletir os dilemas atuais da sociedade brasileira?
Uma condição básica para avaliar o remake de uma novela é se o tema continua atual na sociedade. A discussão proposta em Vale Tudo, sobre ética, é muito atual. Vale tudo para vencer na vida? Quais os limites? O grande mérito da dupla de criadores desta nova versão, Manuela Dias e Paulo Silvestrini, foi preservar as intenções da obra original num contexto todo novo, do Brasil de hoje. A reação do público tem sido a melhor possível.
A Globo é frequentemente citada nos debates ideológicos. Para a esquerda, a emissora é de direita. Para a direita, a Globo é de esquerda. Diante dessa divisão ideológica que se acirrou no país, em que lugar está a Globo?
No lugar da maior produtora de jornalismo profissional do país. O jornalismo profissional é alvo dos ataques de pequenos grupos mais polarizados, mais extremados, assim como a própria democracia e as suas instituições são alvos. Esses ataques acontecem de forma organizada nas redes sociais, mas não representam o sentimento do conjunto da sociedade. Pelo contrário: vemos a sociedade buscando cada vez mais o jornalismo profissional de qualidade para entender o que é fato e o que é fake. É um fenômeno novo, mas que não acontece só no Brasil. Estamos vendo isso acontecer no mundo todo e sabemos qual o nosso caminho: seguir investindo em jornalismo profissional isento e na construção de relações de respeito e afeto.
O que podemos esperar da TV Globo nos próximos anos?
Seguir sendo a televisão que busca surpreender, propor novos temas, contar novas histórias. Sempre a partir do Brasil como inspiração. E com a melhor qualidade possível, como tem sido desde 1965. Tudo isso, é bom sempre lembrar, numa oferta gratuita. A TV aberta é gratuita, monetizada pela publicidade e acessível a todos. A gratuidade da TV aberta é a base da sua essência.
E qual será o desafio?
O maior deles é andar com a sociedade. Representar a complexa e diversa sociedade brasileira na tela de maneira rica, positiva e inspiradora.
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