quarta-feira, 23 de abril de 2025


23 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Um momento para a história

Volto ao Vaticano pela terceira vez para cobrir um momento sempre muito doloroso para a Igreja Católica, o fim de um pontificado. Estive aqui em 2005, quando da morte de João Paulo II, e em 2013, na primeira renúncia de um pontífice em 700 anos de história, a de Bento XVI. Jornalisticamente, não é um trabalho simples. É preciso equilibrar emoção com informação; os rituais que evocam tradições milenares com a rapidez da comunicação instantânea; buscar segredos, sem cair em boatos; e, sobretudo, mostrar por que, em pleno século 21, boa parte do mundo para a fim de acompanhar a despedida de um papa.

Há as apostas sobre quem será o herdeiro do trono de São Pedro, mas é necessário separar os "chutes" da informação garimpada intramuros. Sim, porque a Igreja, embora santa, é feita por homens, logo está também vulnerável às disputas de poder e vaidades.

Tudo isso estará aqui na coluna e nas reportagens em Zero Hora, GZH, Rádio Gaúcha e RBS TV, direto do Vaticano. Te convido a acompanhar nosso trabalho: o enviado especial é apenas a ponta de lança de uma grande equipe que torna a cobertura ainda mais especial. Juntos vamos documentar esse momento para a história. _

Francisco antes de virar papa

Antes de se tornar papa, Francisco era Jorge Mario Bergoglio. Natural de Flores, bairro de classe média de Buenos Aires, na Argentina, era costumeiramente visto andando de metrô e conversando com moradores de rua. Não usava carro oficial - preferia o transporte público e caminhava muito. Na época, era conhecido por alguns como um "workaholic".

Em seu livro América Latina: Lado B, o jornalista Ariel Palacios, correspondente da GloboNews em Buenos Aires, traz relatos curiosos sobre a vida de Bergoglio antes de se tornar o Santo Padre.

Ávido leitor do jornal portenho La Nación, o cardeal Bergoglio recebia diariamente a edição do periódico em seu apartamento na cúria. Poucos dias após ser eleito Papa, já como Francisco, telefonou para a casa do seu fiel jornaleiro Daniel Delorenzo para avisar sobre seu novo "emprego" e que não poderia mais ser cliente da banca. E ressaltou que pagaria o mês que estava devendo.

Intervenção política

Bergoglio também se envolveu com política. Na ditadura militar argentina (1976-1983), ajudou, discretamente, vários perseguidos políticos a fugir do país. Em 2003, Bergoglio teve uma série de confrontos com o casal Néstor e Cristina Kirchner. O cardeal criticou o governo devido ao aumento da pobreza, corrupção e divisão social.

Em 2009, a disputa foi com o então prefeito portenho, Mauricio Macri. O jesuíta, segundo Palacios, teria ficado furioso ao saber que Macri não havia recorrido da decisão judicial que permitiu o primeiro casamento gay na cidade. A tentativa de Bergoglio de dissuadir o prefeito, porém, não deu certo.

Em 2010, quando o Congresso argentino aprovou a lei de casamento entre pessoas do mesmo sexo, o cardeal se posicionou contra o projeto. Sua visão, então conservadora, mudou ao longo dos anos: em 2013, ao ser questionado sobre casais homossexuais, o Papa respondeu: "Se eles procuram Deus, quem sou eu para julgar?".

Já em 2012, houve novo confronto com Macri, quando o prefeito anunciou a realização do primeiro aborto legal na cidade. No entanto, ele voltou atrás e proibiu a prática em Buenos Aires. Já como presidente, em 2018, Macri reabriu o debate sobre a legalização do aborto. Irritado, Francisco fez campanha ativa contra a medida. Em 2020, quando Alberto Fernández levou a proposta ao Congresso, o Papa telefonou a deputados e senadores para tentar impedir a aprovação, mas a lei foi sancionada. _

O mundo e a morte do Pontífice

Os principais jornais do mundo amanheceram, ontem, estampando a notícia da morte do papa Francisco. Os periódicos não se furtaram a reproduzir fotos do Pontífice, falecido na segunda-feira.

A manchete do tradicional italiano Corriere della Sera foi "O papa dos últimos", em referência ao fato de Francisco ser o religioso dos marginalizados, dos "últimos da sociedade", dos "menos favorecidos". Também italiano, o jornal La Repubblica estampou uma foto serena do religioso e repetiu a mesma frase.

O principal jornal dos Estados Unidos, The New York Times, escreveu: "O Papa inovador remodelou a igreja". Na mesma linha, o também americano The Washington Post destacou: "Papa Francisco morre aos 88 - ele mudou a abordagem da igreja, não sua doutrina".

Principal jornal de Buenos Aires, cidade natal de Francisco, o Clarín publicou: "O Papa que revitalizou a Igreja e nunca se afastou da política argentina". O também portenho La Nación estampou uma foto do Pontífice junto a uma pomba, símbolo da paz, com os dizeres: "Um Papa irrepetível".

O espanhol El País destacou as ações de Francisco durante seu período à frente da Igreja: "O fim de um pontificado social e reformador".

Na mesma linha das suas reformas, The Times, principal jornal do Reino Unido, publicou: "?Outsider? com a missão de mudar a Igreja Católica". O também britânico Daily Mail, com a mesma foto, escreveu: "Ele retornou à casa do Pai", fazendo referência ao retorno de Francisco aos céus.

Já o principal jornal da França, Le Monde, destacou as responsabilidades do Pontífice durante seu governo na Igreja Católica: "Francisco, os compromissos de um Papa". _

Gaúchas desembarcaram na Itália

Um grupo de gaúchas desembarcou na Itália para acompanhar a canonização de Carlo Acutis, jovem de 15 anos cuja santidade seria celebrada no próximo domingo pelo papa Francisco. Vitória Ferreira, Kátia Klock, Anna Pienegonda e Nicole Argerique, de Dois Irmãos, trabalham na editora Minha Biblioteca Católica.

No domingo passado, quando o papa Francisco deu a bênção de Páscoa, elas conseguiram ficar bem perto do Pontífice, na Praça de São Pedro.

- Foi uma emoção e, para nós, uma graça. Vamos levar tempo para digerir tudo o que vivemos - conta Nicole.

No dia seguinte, elas estavam em Assis, quando receberam, com surpresa, a notícia da morte de Francisco. Voltaram para Roma. A cerimônia de canonização de Acutis foi cancelada, mas as gaúchas irão acompanhar momentos históricos dos funerais de Francisco.

INFORME ESPECIAL

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