segunda-feira, 10 de agosto de 2020


10 DE AGOSTO DE 2020

CÍNTIA MOSCOVICH

Pequenos incêndios por toda parte


Se os dias andam nessa mesmice angustiante, ao menos os canais de streaming têm apresentado boas opções de entretenimento, evocando assuntos que andam na pauta do dia e que merecem reflexão.

A minissérie Little Fires Everywhere, baseada no livro da escritora americana Celeste Ng, é uma dessas produções capazes de eletrizar o espectador ao longo de seus oito episódios. Lançada em 2018 pelo canal Hulu e disponível no Brasil pelo Amazon Prime, com Reese Witherspoon e Kerry Washington, a série oferece um verdadeiro combo temático: homossexualidade, aborto, maternidade, fidelidade conjugal, ética profissional e familiar - mas é no foco do racismo um tanto velado e no abismo entre as camadas sociais que a série realmente sai do chão.

A trama é centrada na relação entre Elena Richardson (Reese), mãe de quatro filhos e jornalista, que aluga uma casa para Mia Warren (Kerry), artista negra recém chegada à organizadíssima cidade de Shaker Heights, em Ohio, em 1997, com sua filha, Pearl - mãe e filha têm uma vida completamente nômade e vivem dentro de um carro que cai aos pedaços.

Enquanto a linda Pearl se aproxima dos filhos de Elena, fica evidente que Mia é uma fugitiva. As pontas de um grande mistério são reveladas na base de flashbacks, história que se cruza a uma discussão sobre o livro Monólogos da Vagina, e a construção dos personagens e da trama ganha ares de caricatura (o que leva a refletir, muito, sobre o trabalho dos roteiristas). 

O passado de Mia é o foco de maior interesse da série, mas a seu lado são dispostos, quase como em turbilhão, elementos de outros subenredos: um bebê abandonado na porta do corpo de bombeiros, uma menina grávida que busca uma clínica de aborto, um caso amoroso do passado que volta em meio a uma investigação jornalística, um julgamento sobre pátrio poder -além, claro, do incêndio na casa dos Richardson, mostrado na cena de abertura da série.

Assimiladas todos as variantes do enredo, a série merece ser vista pelas belas atuações e, mais do que tudo, pelos necessários questionamentos.

CÍNTIA MOSCOVICH

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