03 de outubro de 2008
N° 15747 - RICARDO SILVESTRIN
O pacote
Então os republicanos chamaram o pacote do Bush para auxiliar os bancos americanos de socialismo. Não o aprovaram de primeira por isso. Alegam que os bancos jogaram e perderam. Essa é a regra da livre iniciativa.
Poderiam ganhar. Como estavam ganhando até há pouco. Não tem que vir ninguém socorrer. Ainda mais com dinheiro público, dos impostos, dos cidadãos.
Não estávamos mais acostumados com toda essa coerência. Inclusive, virou moda nas últimas décadas ouvir que não fazia mais sentido falar em socialismo versus capitalismo. Na política, ninguém mais define nada.
Todo mundo é de centro. Mas não é bem assim. Ou se tem uma organização da economia com parâmetros da propriedade privada, da livre iniciativa, ou com parâmetros do Estado regulando e, no seu limite, distribuindo a riqueza.
Esse ocultamento de para que lado apontam os parâmetros dos partidos é o que faz termos governos que não estão nem lá nem cá.
Concentração de riqueza, problemas sociais vão ser resolvidos com políticas de crescimento ou com verbas públicas? Optamos pelos dois. E não fazemos direito nem uma coisa nem outra.
Não vemos quase discussões de fundo nas campanhas. Virou uma gincana de quem faz mais. A mesma lógica do consumo, da ostentação parece permear a política. Mas o que será feito é tão importante apresentar quanto o como será feito.
Estava lendo os blogs de dois excelentes jornalistas e escritores: Nei Duclós e Zé Antônio Silva. O do Nei se chama Outubro. E o do Zé, Lavra Livre. Ambos esbanjam lucidez, coerência e profundidade.
O Nei foi o primeiro a ver o fundo todo dessa crise americana no texto chamado A Crise é de Vergonha. Sua visão? À esquerda. Sem meias palavras nem meios conceitos.
O texto do Zé chama-se Sexo, drogas, rock’n’roll and gangsta rap. Mostra como o tráfico de armas e de drogas se somam no mundo contemporâneo, substituindo a contestação da contracultura pela violência e exploração.
Os dois têm, à esquerda, a mesma coragem e a mesma coerência dos republicanos, à direita. E ainda postam nos blogs seus ótimos poemas, que ninguém é de ferro.
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