segunda-feira, 6 de maio de 2024


Autoridades falam em pacto nacional

Em Porto Alegre, chefes dos três poderes deram garantias de que burocracia não irá travar a chegada de socorro financeiro

Na segunda visita ao Rio Grande do Sul em três dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva testemunhou ontem o maior desastre climático já registrado em território gaúcho. Após sobrevoar áreas urbanas submersas ao lado das principais autoridades da República, Lula defendeu um pacto pela reconstrução do Estado, a partir de um regime jurídico diferenciado e de flexibilização no controle dos gastos públicos.

- Não haverá impedimento da burocracia para que a gente recupere a grandiosidade do Rio Grande do Sul - prometeu.

Lula desembarcou na Base Aérea de Canoas às 10h28min, acompanhado dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, da Câmara, Arthur Lira, do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, além de 13 ministros de Estado. No total, 72 pessoas formaram a comitiva presidencial.

Ainda na base aérea, Lula, o governador Eduardo Leite e os ministros embarcaram em três helicópteros para sobrevoar zonas alagadiças.

Em seguida, foram ao 3° Regimento de Cavalaria de Guarda, no bairro Partenon, na Capital, para onde foi levado o centro de operações depois que o Guaíba inundou o Comando Militar do Sul, no Centro Histórico.

No quartel, Lula conduziu rápida reunião, na qual discutiu as prioridades do Estado para resgates e emergências. Em seguida, em um auditório que reunia aliados políticos e opositores ferrenhos, como os deputados Marcel van Hattem (Novo) e Luciano Zucco (PL), Lula afirmou que o governo federal irá apoiar a reconstrução das rodovias estaduais destruídas, bem como a reconstrução de moradias e a retomada das atividades escolares.

- O Brasil deve muito ao Rio Grande do Sul. Nós vamos dar tudo que o Estado merece - disse.

Cobranças

No início da apresentação, o general Hertz Nascimento, vice- chefe do Estado Maior do Exército, disse que há 3,6 mil homens das Forças Armadas atuando nos 332 municípios atingidos.

A escalada do desastre elevou a cobrança por maior disponibilidade de equipamentos de resgate.

- Falta barcos, botes e coletes. Isso não pode esperar, tem de ser hoje, tem de ser agora - alertou o prefeito Sebastião Melo.

Ao fazer um balanço do caos, Leite reforçou a necessidade de um plano robusto para recuperação da infraestrutura urbana:

- Nós estamos em uma guerra, e em uma guerra não há restrições legais de tempos comuns.

Na sequência, Bruno Dantas prometeu empenho na flexibilização das regras sobre gastos públicos, enquanto Lira e Pacheco prometeram votar medidas no Congresso para ajudar o Estado.

Na passagem anterior de Lula pelo Estado, na quinta-feira, o governo federal instalou uma Sala da Situação no Palácio do Planalto. Em Porto Alegre, foi montado um comando avançado na sede da Federação dos Municípios do RS (Famurs), de onde despacharão nos próximos dias os ministros Waldez Góes (Integração Nacional), Paulo Pimenta (Comunicação), Renan Filho (Transportes) e Nísia Trindade (Saúde).

Ao final, Lula pediu à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a elaboração de um plano de prevenção a desastres climáticos:

- É preciso que a gente pare de correr atrás da desgraça.

Baixa da inundação deve ocorrer "vagarosamente"

Dois cenários principais se apresentam como prognósticos para os próximos dias em relação à cheia do Guaíba. Um deles, elaborado neste sábado e qualificado como moderado pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Hidráulicas (IPH) da UFRGS, indica a estabilização dos níveis de água elevados em torno de cinco metros por pelo menos mais três dias, sem redução da cota de inundação de três metros nesta semana.

- A análise tem sido realizada diariamente por grupo de pesquisadores. Todas as manhãs, levantamos dados, discutimos cenários, rodamos modelos. O último relatório (deste sábado) considera a previsão de precipitação nos próximos dias e o maior represamento das águas na foz da Lagoa dos Patos - destaca o professor do IPH Fernando Mainardi Fan.

O cenário mais pessimista, no entanto, aponta para o aumento do nível até 5m50cm metros. Essa perspectiva vem se mostrando precisa desde a manhã de sexta-feira, quando foi prevista a superação da cota de cinco metros.

- O que ocorre neste momento está dentro do esperado. O nível estabilizou. Foi de 5m10cm, entre meio-dia e 14h, para 5m16cm às 16h. E para 5m19cm, às 18h (de sábado). Nosso prognóstico é que esse comportamento será mantido pelos próximos dois dias, oscilando em torno desta medição - afirma o professor.

O pesquisador diz que, após estabilidade e pequenas oscilações, o nível do Guaíba deve começar a diminuir "vagarosamente". A cheia, contudo, poderá se manter acima de quatro metros por até 10 dias.

FÁBIO SCHAFFNER

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