terça-feira, 2 de maio de 2023


02 DE MAIO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

DIAS SEM TRABALHO

Passado mais um Dia do Trabalho marcado por celebrações, protestos e promessas de futuro melhor, o Brasil ingressa no quinto mês do ano com uma taxa crescente de desemprego que já atinge a marca de 8,8% da população ativa, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada no dia 28 passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em números reais, são 9,4 milhões de desocupados - um contingente que tende a crescer devido, entre outras causas, ao despreparo dos trabalhadores para as novas atividades geradas pela revolução tecnológica.

Aí talvez esteja o grande desafio do país, dos governantes e das demais lideranças da nossa sociedade: investir fortemente na educação, na formação e na reciclagem de trabalhadores para o mundo novo da tecnologia, da digitalização e da inteligência artificial, de modo a evitar que parcela tão expressiva de brasileiros continue enfrentando dias sem trabalho e sem esperança de vida digna.

Outros números do levantamento do IBGE são igualmente preocupantes. Para uma população ocupada de 97,8 milhões de pessoas, o país tem 67 milhões fora da força de trabalho, o que repercute negativamente na sustentação do sistema de previdência social. A população desalentada - aquela parcela que já desistiu de procurar emprego - é estimada em 3,9 milhões de pessoas pelo estudo oficial. O contingente de trabalhadores informais - sem carteira assinada e as respectivas vantagens trabalhistas - chega a 38,1 milhões de brasileiros.

Consciente desta realidade, o governo vem implementando programas sociais de distribuição de renda e programas de retomada de obras públicas com potencial de gerar empregos. São providências necessárias e indispensáveis porque atenuam as carências mais urgentes da população desassistida, mas insuficientes para assegurar uma prosperidade duradoura para o país. Sem investimentos públicos e privados na formação, na atualização e na requalificação de trabalhadores, não haverá como avançar.

Não só no Brasil, mas em todo o mundo, o mercado de trabalho passa por uma transformação vertiginosa, ocasionada, principalmente, pelo uso de novas tecnologias e mudanças na cadeia produtiva. Um estudo realizado no ano passado pelo Observatório Nacional da Indústria para identificar demandas futuras por mão de obra no país indicou que, até 2025, o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais que exigem conhecimentos específicos para a área, mas que também são necessários para outros setores da economia. A fluência digital, por exemplo, aparece em destaque nas principais listas de novas competências exigidas dos trabalhadores.

Nesse contexto, pode-se concluir que o principal repto do país - como na desgastada alegoria - é dar o peixe e, ao mesmo tempo, ensinar a pescar. Se o Brasil não melhorar urgentemente a qualidade da educação básica, não investir em formação profissional e não qualificar seus trabalhadores para as novas atividades geradas pela tecnologia, o Dia do Trabalho continuará sendo uma data sem sentido, sem ocupação e sem esperança para muitos brasileiros. 

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