02 DE SETEMBRO DE 2019
+ ECONOMIA
Estímulo ao consumo é desafio
Depois de ensaiar recuperação mais consistente em 2017, o consumo das famílias brasileiras perdeu fôlego. O fato preocupa porque a demanda por produtos e serviços é um dos motores do crescimento econômico. Diante da situação, analistas reforçam a importância de medidas de estímulo, apesar do quadro fiscal que o país atravessa.
No segundo trimestre, o consumo subiu 0,3% em relação aos três meses anteriores, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes frisa que o desemprego e o aumento da informalidade no mercado de trabalho explicam, em parte, a demanda fraca.
Bentes avalia que a liberação de saques de contas do FGTS deve estimular o consumo, mas lembra que a medida tem efeitos limitados. Na visão do economista, a retomada também passa por ações do governo federal que busquem incentivar a concorrência no setor bancário, para tornar o crédito mais acessível.
- É preciso que isso seja feito de maneira mais acelerada, com a participação dos bancos públicos - frisa.
Segundo analistas, o Minha Casa Minha Vida tem um dos maiores potenciais para gerar reação em diferentes setores. O governo, entretanto, estuda suspender novas contratações do programa em 2020, por causa do aperto fiscal.
- A construção civil é chave da retomada. Quem compra um apartamento também pode comprar móveis e eletrodomésticos, beneficiando o comércio, por exemplo - observa Bentes.
RESPOSTAS CAPITAIS
"Alta do PIB não reverte quadro de reação fraca"
RAFAEL CAGNIN Economista-chefe do Iedi
O avanço de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, no segundo trimestre, é uma surpresa positiva, mas aponta que dificuldades seguem no país, avalia Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Na entrevista a seguir, Cagnin cita sinais de alívio e de preocupação na economia brasileira.
Como avalia o desempenho da economia nacional no segundo trimestre?
A alta de 0,4% do PIB é uma surpresa positiva, mas não reverte o quadro de reação fraca e insuficiente para recompor tudo o que foi perdido na crise.
O que destaca no resultado?
O que puxou para cima foi a construção, que antes não dava sinais de recuperação. Essa melhoria veio do segmento habitacional, da construção urbana, principalmente em grandes centros. Ao que parece, é uma reação muito concentrada em regiões maiores, focada em segmentos de faixa de renda mais elevada. O dado que surpreende, por causa da magnitude, é o da indústria de transformação, que cresceu 2%.
O que mais preocupa?
O consumo das famílias andou de lado (avanço de 0,3%). Está relacionado ao desemprego e ao trabalho informal, que gera vagas com rendimento incerto. O perfil dos empregos que estão sendo criados não ajuda a evolução do consumo e da economia como um todo. As linhas de juro a pessoas físicas no Brasil são exorbitantes. Isso também freia a demanda por bens de maior valor. O quadro talvez melhore um pouquinho com o novo ciclo de cortes na taxa Selic. O problema é que esse processo é lento.
A turbulência externa aumentou nos últimos meses. O quanto isso afeta a retomada da economia brasileira?
Tudo depende da gravidade do que vai acontecer. Por ora, há uma apreensão. O comércio internacional vem desacelerando. O Brasil, inclusive, protagoniza uma das tensões geopolíticas, na questão da Amazônia. O quadro faz com que não possamos contar com a demanda externa para acelerar nossa recuperação. É um fator preocupante.
E quais são os impactos da crise na Argentina?
Prejudica muito a indústria. A Argentina é o principal parceiro do Brasil no comércio de produtos manufaturados, principalmente da cadeia automobilística. Toda a situação externa joga para o setor interno a responsabilidade de acelerar a recuperação da economia. Os investimentos de empresas em máquinas e equipamentos, medidos pelo indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF), deram passo à frente no segundo trimestre (alta de 3,2%). Agora, é importante que não recuem. O ruído com o governo no setor externo não ajuda a criar ambiente mais propício para retomada consistente dos investimentos. Também é preciso ter linhas de crédito mais acessíveis no país. A aprovação da reforma da Previdência e a melhor comunicação do governo ajudariam a reduzir incertezas, mas não resolveriam toda a equação.
O que mais é necessário para que a retomada ganhe fôlego?
O país também precisa de investimentos em infraestrutura, com concessões à iniciativa privada e resgate de investimento público. É preciso encontrar espaço no orçamento. Uma opção ao investimento público é usar parte dos recursos de privatizações para o término de obras que começaram e foram deixadas de lado. Essas obras gerariam demanda para muitos setores da economia e avanços em logística.
LEONARDO VIECELI INTERINO
Nenhum comentário:
Postar um comentário