sexta-feira, 30 de agosto de 2019


30 DE AGOSTO DE 2019
EDUARDO BUENO

Burrice ostentação


Trabalho com história do Brasil, mas não sou historiador - a não ser que seja com I maiúsculo, ou, vá lá, com Y. Também gosto de dizer que sou ex-jornalista e ex-toriador. De todo modo, depois de ter lido cerca de 2 mil livros e escrito mais de 20 sobre o assunto, julgo estar qualificado para opinar sobre tão pungente tema. E deve ser por isso que, nas palestras que dou por aí, sempre tem alguém para perguntar: "O que falta para o Brasil dar certo?". Tenho a resposta na ponta da língua, é claro. Mas, como ainda não chegaram ao meu preço, recuso-me a dá-la.

Mas essa não é a única indagação de que sou alvo. Outra questão frequente é: "Como você acha que os historiadores do futuro farão para escrever sobre o Brasil de hoje?". Por considerar essa uma pergunta banal demais - sim, acho que o Brasil pode ser difícil de explicar, mas, em especial agora que arde nas chamas da ignorância, me parece ser um país bem fácil de entender -, resolvi complicar um pouco as coisas para mim. Assim, mudei a pergunta para: "Como os historiadores do futuro escreveriam sobre o Brasil se dispusessem como fontes apenas de um certo site de direita e de um site errado de esquerda?".

Você já deve ter ouvido falar desses portais - se não, sorte a sua; mantenha-se longe (se sim, nunca é tarde para abandoná-los). Eles se anunciam, alternadamente, como "opinativos", "democráticos", "progressistas" e "investigativos". Em mim, dão apenas engulhos. Há quem diga que foram feitos à imagem e semelhança de seus criadores. Sabendo-se quem são e lendo o que escrevem, não é difícil acreditar na tese.

Embora criados por jornalistas (na real, ex-jornalistas, que jamais serão ex-critores, como eu), esses sites odeiam, atacam, vilipendiam e desprezam a imprensa. Só que não sobreviveriam sem ela. "Como diz a Folha", "segundo o Globo", "conforme declarou à Rádio Gaúcha" são frases que abundam nas bostagens, ops, nas suas postagens. Porque, na absoluta maioria dos casos, eles não investigam nem apuram nada: quando muito, saem da "redação" com a matéria já pronta só para coletar delações premiadas de seus aliados, a quem chamam de "fontes".

Mas sabe que no fundo acredito que esses portais estão prestando um serviço para os tais "historiadores do futuro"? Afinal, bastará eles verem o que seus leitores postam ali para entender que estamos vivendo o apogeu da canalhice, sob a égide da burrice ostentação.

EDUARDO BUENO

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