quarta-feira, 28 de agosto de 2019


28 DE AGOSTO DE 2019
+ ECONOMIA

Risco de duplo erro na crise amazônica



Na segunda-feira à noite, depois de saber que o colega da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia indicado que o governo Bolsonaro recusará os US$ 20 milhões prometidos pelo G7, o grupo dos sete países mais ricos, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo, Salles considerou a oferta "uma ajuda importante de ser aceita". Apesar do sensacionalismo e da desinformação que cercaram a reação global ao aumento das queimadas na Amazônia, o problema existe. Recusar ajuda, depois do imenso desgaste da imagem do Brasil no Exterior, é um duplo erro.

O primeiro é muito prático, como apontou Salles. A obrigação do governante é conduzir soluções. Em ao menos duas oportunidades recentes, o presidente Jair Bolsonaro foi dramático ao descrever as finanças do governo. Já afirmou que os ministros estavam "desesperados" com a falta de dinheiro e, ao explicar por que não podia reforçar a fiscalização na Amazônia, afirmou que o orçamento federal estava "um caos".

O segundo equívoco está na avaliação da profundidade da crise de imagem do Brasil. O presidente não deve ter visto as capas dos principais jornais do mundo na segunda-feira. Houve exagero? Certamente. Mas desinformação se combate com transparência e disposição de corrigir o problema. Aceitar ajuda seria um passo nessa estratégia. Até o tamanho do aceno - o valor é claramente insuficiente para combater a "destruição da maior floresta tropical do planeta", se houvesse - contribuiria para frear a especulação sobre o alcance das queimadas.

Ao indicar que pretende recusar a oferta do G7, o Brasil corre o risco de reforçar a imagem de pária ambiental, aumentar a rejeição popular no Exterior e enfrentar boicotes espontâneos. É tudo o que o país não precisa quando não consegue reativar o consumo interno e tem, no mercado externo, a oportunidade para vender, gerando empregos e renda.

Tantos ruídos já contagiam o humor dos investidores. Tantos confrontos abertos pelo presidente representam desgaste na sua aprovação nacional geral e específica - com os donos do dinheiro. As medidas de combate a incêndio na floresta deram esperança, a recusa de ajuda soa como rompimento com a comunidade internacional.

MARTA SFREDO

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